Capítulo- 02-Vitima Do Destino.

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Ps: Mille tem 17 anos e Denovan 35. *.*

 Sem mais, boa leitura!

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"Sou uma sobrevivente, um exemplo vivo das dificuldades que as pessoas precisam enfrentar para sobreviver. (Elizabeth Taylor)

Mille

Estou no pátio e observo o entardecer, ou crepúsculo, como minha professora me ensinou no dia anterior. Sinto-me gente pela primeira vez na vida. Minhas roupas estão limpas e cheirosas. A comida é gostosa, mas a melhor parte desse lugar é a aula da professora Vilma. Em uma semana em que estou na instituição reaprendi a ler e a escrever. Coisas que nunca pensei que teria um dia novamente. 

Não depois que fugi do orfanato onde me largaram recém-nascida.

Vivi por dez anos lá. Também recebi aulas naquele inferno, mas como fugi dos maus tratos dos internos e pela diretora, que por qualquer motivo me colocava de castigo, ou me batia, preferi a rua. Porém a vida na rua não é fácil. Conheci todo tipo de pessoa. Passei por muitas coisas que não gosto me lembrar. Passei fome e o frio. Após fugir do orfanato com dez anos, tive que aprender a me virar. A me misturar. Era uma menina, e mulheres de rua sofrem varias agressões, então aprendi cedo a me portar como homem. Como sempre fui magra me passei fácil por um menino. Aos doze, e mais esperta nas leis da sobrevivência nas ruas, uma gangue de adolescentes que comandava o trafico de drogas se interessaram por mim.

Hugo, o chefe da gangue, achava que eu era perfeita por ser miúda e ágil para correr da policia. Aceitei sua oferta, porque teria em troca um lugar quente para dormir, um prato de comida.

Comecei a entregar aos clientes de Hugo pequenos papelotes com cocaína. Eu era uma espécie de avião. Nunca consumi. Apenas entregava. Quando Hugo e os outros meninos de rua me davam o pó, com a intenção de me viciar, eu disfarçava e jogava fora. Não queria ser uma viciada. Quando você entra nesse mundo não tem volta. É um abismo com o final de morte. Por um ano eu vivi meio que sem medo.

Mas quem vive nas ruas não tem paz por muito tempo. Um grupo rival confrontou a gangue de Hugo, e ele acabou morto. Seu reinado teve fim. Consegui fugi por milagre. Fui parar em um grande galpão abandonado que me servia de dormitório, já que durante a noite eu passei a praticar pequenos furtos para comer. Enquanto eu enchia meus bolsos com varias coisas de comer no supermercado vazio, não percebi a aproximação do segurança, que me pegou no flagra.

Esperneei e exigi que me soltasse, mas ele depois de me xingar junto com o dono do lugar, me levou para delegacia, e de lá fui parar em uma instituição para menores infratores, onde aprendi a me defender com a ajuda de Peter. Um senhor que vigiava os internos. Depois de me ver sempre apanhar dos outros garotos que se aproveitava por eu ser pequena, ele me ensinou golpes de boxer. Ele cuidou dos meus ferimentos e descobriu que eu era uma menina. Passou a me proteger, e lhe perguntei o porquê, existiam muitos homens maldosos, e não queria que ele me cobrasse favores mais tarde.

Não queria ficar nas mãos de nenhum velho pervertido, mas ele me disse que eu lembrava uma filha que ele perdeu quando ela tinha a mesma idade que a minha. Ele me contou também que foi um treinador de Boxer que não teve chance de crescer na profissão, fez um concurso e por isso trabalha com adolescentes infratores. Ele é separado, sua mulher o trocou por outro após a filha dos dois ter uma overdose. A mulher dele ao deixá-lo disse que a culpa era dele, e ele se sente culpado. Ele me deu Nick, um cão muito sapeca no dia que ele inventou para ser meu aniversário. Eu não tenho registro, então ele escolheu o nome: Camille, e eu gostei, mas pedia sempre que me chama-se de Mille.

Todas as noites depois que todo mundo se recolhia ele me dava aulas de Boxer. Aprendi tudo. Ele era como uma espécie de mentor para mim. Ajudava-me com a lição e quando a minha menstruação desceu pela primeira vez, foi ele que me ajudou, ele me acalmou quando fiquei doida por estar sangrando sem parar. Meu primeiro sutiã foi ele que me deu também. Meio sem jeito. Quando ele foi assassinado em uma rebelião na unidade, eu chorei feito louca.

Nunca tinha me permitido chorar, mas o senhor Peter foi o único que cuidou de mim e me deu carinho. O único que não me olhou com preconceito e nojo por eu ser da rua. Por não ter um nome. E no corpo ensanguentado eu chorei por sua morte injusta, e por me sentir novamente sozinha no mundo.

Em meio à confusão eu fugi. Voltei paras as ruas de Los Angeles. Lá vivi até o momento em que cruzei meus olhos com os do homem mais lindo que já vi na vida. Ele é loiro e seus olhos azuis parecem oceanos. Meu coração disparou ao perceber que me encarava. Agarrei Nick com força e me perdi nos olhos dele.

Eu nunca senti nada igual antes.

Ele parecia um príncipe de tão bonito. Mas eu não acredito em contos de fadas. E desconfiada ouvi sua proposta. Mesmo todos meus instintos me dizendo para não aceitar a proposta desse homem, eu aceitei. Ele tem jeito de politico corrupto. Ele deve ser mais em campanha, mas eu queria ter um lugar limpo pra dormir e comida quente todos os dias, mesmo que por pouco tempo. Meu estômago não sabe o que é comida há dois dias. Meu cãozinho também. Foi apenas por isso que aceitei. Por sobrevivência.

E aqui estou eu. Nesse lugar cheio de jovens como eu. Sem ter para onde ir. Mas me acho diferente deles. Tenho sonhos. Quero ser professora. Quero um lar. Uma família.

–Mille, o senhor Falcão deseja falar com os que ele recolheu pessoalmente. Venha. – chamou-me minha professora.

Meu coração disparou. Vou ver o príncipe de olhos azuis. Levantei-me rápido e acompanhei até ela, que me indicou o pequeno auditório, onde já estavam alguns adolescentes. Ela me indicou minha cadeira e me deixou sozinha. Mas meus olhos procuram pelos dele, que ao cruzarem com os meus arrepie-me pela intensidade que ele olhava-me. Senti meu rosto esquentar. Assustei-me com mais essa reação. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas eu sabia que ele é que estava causando. Sentia-me perdida. Estou apaixonada. Eu sei o que é paixão? - Meu pensamento se perdeu quando vi que se aproximou de mim. Gelei.

– Olá, quem é você? –perguntou a voz rouca. Ele parece não me reconhecer.

– Sou Mille. – respondi meio sem jeito.

–Você trabalha aqui? – perguntou curioso. Sim, ele não me reconheceu.

–Sou uma interna. – disse meio hesitante.

–Inferno! Você é a menina que eu tirei de um beco em LA? – exclamou assombrado.

–Foi o senhor mesmo que me recolheu. – respondo na defensiva.

–Que bom que sabe se banhar. Bem, se junte aos outros onde é seu lugar. Não posso te confundir com uma funcionaria. Se apresse, já vou começar a palestra.

Deu-me as costas, e se dirigiu ao palco. Sua voz preconceituosa me fez querer chorar, mas eu não choraria. Ele não perde por esperar. Vou dobrar seu preconceito. Vou fazê-lo se apaixonar por mim, como eu mesma já estava por ele.

"Com amor inquebrantável e propósito definido toda dificuldade se vence e todo obstáculo se transpõe."

(Orison Swett Marden)

Falcão BrancoWhere stories live. Discover now