Capítulo 23

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Eram oito da manhã e eu tentava convencer o Carvalho de entrarmos no morro naquela madrugada.

Ele não cedia.

- Vem cá, você acha certo esperar o retorno do Baiano? Tá achando que isso é um sequestro normal? Ele quer minha cabeça Carvalho!

Ele riu e eu paralisei, o que estava acontecendo?

- Ele vai entrar em contato sim!

- Como pode ter tanta certeza?

- Ele já disse o que quer, ele não vai fazer mal a ela..

- Carvalho?

- Sim, Capitão?

- Vai pro inferno!

Encerrei aquela conversa à força e me retirei de sua sala.

- TODOS EM FORMAÇÃO!

Exigi quando cheguei ao pátio, a maioria que se encontrava lá não eram os mesmos de ontem. Mas eles já estavam cientes do que aconteceu.

- Vá pra casa Capitão!

Carvalho apareceu me dando ordens na frente de todos.

- NA MADRUGA VAMOS PARA O TURANO! VAMOS TRAZER A CAPITÃ DE VOLTA!

- Não sem meu consentimento!

- EU JÁ TE DISSE PRA ONDE VOCÊ DEVE IR! AQUI VOCÊ PODE SER QUEM FOR, MAS LA FORA.. NÓS - Bati no peito - NÓS SOMOS O BOPE. E QUANDO O BOPE ENTRA NO MORRO, O QUE ACONTECE BATALHÃO?

- CHOVE SANGUE, SENHOR!

Responderam um uníssono.

- Você não é ninguém Carvalho.. te convido para participar dessa missão..

Sussurrei em seu ouvido, ele estava vermelho de raiva.

- Isso terá consequências, Capitão!

- Terá sim, quando eu informar para o secretário de segurança a forma que você quer trabalhar..
Ele me olhou com os olhos arregalados e eu dei dois tapinhas em seu ombro. Deixei-o a sós com a equipe.

Fui para a casa, precisava tomar um banho. Minha cabeça estava a mil, eu soava, minhas mãos estavam geladas e uma falta de ar me atingia. Aquilo de novo não..

- Respira... Calma...

Eu falava para mim mesmo enquanto dirigia até meu apertamento.

Liguei a rádio e não tinha nada lá, aquela sensação de quase morte quis me atingir, com muita dificuldade consegui controlar a respiração e me acalmar. Estacionei o carro e subi quatro lances de escadas, precisava ocupar minha cabeça.

Ao chegar na porta, tinha ao seu lado vários envelopes e um deles na cor azul. Abrir a porta e aquele cheiro de mofo invadiu meu nariz, eu tinha que fazer uma faxina naquele lugar.

Me joguei no sofá e comecei a folhear os envelopes, eram propagandas e correspondências antigas. Abri a de envelope azul e era a foto do meu filho, eu não esperava que ela já tivesse nascido. Ele era lindo, estava todo enrolado e com toca na cabeça, acredito que foi do dia em que nasceu. No canto da foto tinha a data, dezenove de maio de mil novecentos e noventa e oito. Ele já tinha algumas semanas de vida, e eu não estava com ele.

Senti uma lágrima escorrer do meu olho e a limpei imediatamente, eu não podia enfraquecer. Não naquele momento. Dobrei a foto deixando apenas o rostinho dele e coloquei no bolso do colete.
Tirei a farda ali mesmo e fui para o quarto, cai naquela cama e apaguei.

Acordei assustado com o pesadelo que tive, olhei para a janela e não havia mais sol. Fui ao banheiro e acabei lavando o rosto na pia. Flashs do pesadelo me atingiram.

CAPITÃO NASCIMENTO | VOCÊ VAI CUMPRIR?Onde histórias criam vida. Descubra agora