Primeiro Beijo 💋

4.6K 284 300
                                    

  Não aconteceu nada de mais naquela tarde a não ser os olhares. A semana seguinte correu tranquila. E tipo, eu sabia que o João queria ficar comigo. Estava na cara. Mas não tinha acontecido o pedido em si. Ele mesmo não falou comigo. Só minhas amigas e a ficante dele que comentavam isso. Ficante essa que era mais para amiga do que tudo... O que me deixava mais tranquila.
Então eu aceitei. Iria ficar com ele. Iria perder meu "bv" com ele. Só não tinhamos a data ainda.
   Eu já estava nervosa. Tudo o que é desconhecido provoca um friozinho na barriga.
  As aulas continuavam chatas, e o recreio era a salvação para não pirarmos em meio a tanto dever. No intervalo de uma bela manhã ensolarada percebi que minhas amigas estavam muito animadas. Animadas até de mais. Sorriam sem parar. Eu comecei a ficar com medo. Perguntei o que estava acontecendo, mas elas não me contaram nada. Então resolvemos dar uma volta pela escola. Entrelaçamos os braços uma nas outras como de costume. Eu fiquei no meio, e nem tinha como escapar, pois elas estavam segurando meus braços de modo firme, e me guiando para a biblioteca. Não me lembrava de ter chamado elas para dar uma voltinha por aqueles lados. Com muita desconfiança continuei o trajeto em silêncio.
  Fomos direto para o último corredor de livros. Ele era escurinho e reservado. Geral usava aquele espaço para dar uns amassos.
   Foi aí que a ficha caiu.
   Era uma armadilha. Elas queriam que eu ficasse com o João ali.
Até parece que eu ia ceder. Sempre fui certinha, daquele tipo que detesta que o professor chame a atenção. Jamais ficaria com ele naquele lugar, correndo o risco de ser pega.
  No meio de minha crise nervosa querendo me teletransportar dali o João apareceu.

Agora ferrou, vou desmaiar, Meu Deus.  - pensei.
  
  O primeiro beijo deve ser algo sem pressão, com calma, no momento certo. Sem toda aquela bagunça, que as garotas que se diziam minhas amigas armaram.

  Então enfim me pronunciei.
Disse que não ficaria com ele ali e ponto final. Ok, eu não falei com tanta convicção, foi mais para algo do tipo:
- Sério cara, não vou ficar com você aqui. Deixa pra outro dia.

Confesso que tempos depois acabei ficando com outros garotos ali. A gente acaba perdendo o medo de certas coisas.

  Apesar de tudo, fiquei com medo de que ele desistisse de ficar comigo. Mas me surpreendendo,  foi todo fofo e entendeu meu lado.
  Passado alguns dias marcamos de ficar depois da aula.

    Parecia que o relógio tinha tomado um enérgico, e os ponteiros trabalhavam em alta velocidade, e o grande dia chegou.

- Acordei nervosa.
- Fui no banheiro nervosa.
- Tomei café nervosa.
- Cheguei na escola nervosa.
- Não prestei atenção nas aulas, porque estava nervosa.

No recreio tentei me acalmar.
- Luiza, para de bobeira é só você ir lá beijar o garoto e acabou. - Falei isso mentalmente, incessantemente, mas não estava adiantando muita coisa.
Então minhas amigas começaram a conversar comigo, e me deram alguns conselhos.
O principal era algo do tipo: - Luiza quando você chegar lá, a primeira coisa que ele vai fazer é te dar um selinho. Depois você abre a boca, e faz tudo o que ele fizer.

Tudo muitíssimo simples.
Sem problemas. Eu sou capaz de chegar lá, da um selinho, abrir a boca e fazer o que tem que fazer.
  Sabe, sempre devemos tirar lições de tudo o que acontece em nossas vidas. E depois do que essa amiga falou, tirei a bela conclusão, que realmente se conselho fosse bom não se dava, vendia. Logo, vocês vão entender o porque.

  Depois do recreio, voltamos para a sala de aula. Dois horários me separavam do ápice de minha vida amorosa.
Do acontecimento mais bombástico.
   Só que o destino quis que naquele dia fossemos liberados mais cedo. Em qualquer ocasião teria amado aquela notícia, mas porque justo naquele dia?
Eu iria usar esses dois últimos horários para me preparar psicologicamente para o tão esperado beijo. E agora tudo estava mais próximo de acontecer.

   Juntei minhas coisas, e acompanhei minha amiga até a casa dela. Meus joelhos pareciam duas gelatinas. Sério, eu nem conseguia conversar direito com as pessoas de tanto nervoso.
Essa sou eu, a pessoa mais exagerada da face da terra. Cheguei a um ponto, que estava quase gritando com minhas amigas:
- Não vai dar. Não vou ficar com ele. Se eu tentar fazer isso, vou acabar tendo um enfarte.
Sim. Sou uma pessoa mto dramática.
  Mas tenho um lado teimoso, que não gosta de desistir tão facilmente e me manteve firme na causa de perder meu bv.

  O dia estava nublado, e até um pouco melancólico. Voltamos para a escola, e eu passei um bom tempo repassando mentalmente o conselho de minha amiga.
Chegar lá. Dar um selinho. Abrir a boca, e fazer o que tem que fazer.
  Pensei também nos beijos dos filmes, e só então percebi uma coisa: Nos filmes são só selinhos, não tem aquela coisa toda de língua pra cá, língua pra lá. Tudo na ficção é mais fácil.
   A escola estava vazia. Todos tinham ido para suas casas, e as crianças mais novas ainda não tinham chegado. Esse era o momento ideal.
Entrei pelo último portão, acompanhada de minha amiga, enquanto João entrou pelo primeiro pra disfarçar.
Andamos sorrateiramente, até chegarmos em um bequinho, mais um lugar onde todo mundo usava para dar seus beijos. Cheguei primeiro e me encostei na parede, logo João estava na minha frente. Ele era alguns centímetros mais alto.
Ficamos nos olhando por um tempo sem dizer uma palavra se quer, até que eu praticamente soltei um grito.

Não sou louca, é que por cima do ombro dele avistei minha amiga nos espionando. Aquele momento era só nosso, ela não deveria estar ali... Então depois de a encararmos com cara feia e perdimos educadamente que vazasse dali, ficamos a sós.
Voltamos a nos encarar. Olhos nos olhos. Para ele era só mais um beijo, mas era o meu primeiro beijo, e quando vi ele se aproximando cada vez mais, apenas torci para que aquele momento fosse especial.
Fechei meus olhos.
E novamente o conselho veio em minha mente. Me preparei para o selinho, mas vocês não adivinham o que aconteceu....

Ele não foi para me dar um selinho. Foi com a boca aberta e praticamente, eu disse praticamente, engoliu meu biquinho. Que mico.
Fala sério, quis parar o tempo ali, só para encontrar minha amiga e a fazer engolir aquele conselho. Lógico, nem tudo estava perdido, notando que o selinho não ia rolar, parti para a parte em que eu deveria abrir a boca e imitar tudo o que ele fizesse. Nem me lembro, se coloquei as mãos ao redor do pescoço dele, ou se foram nos braços, estava concentrada de mais em colocar a língua no momento certo que nem prestei atenção nisso.
No final do primeiro beijo, ele se afastou e olhou para mim.
Nunca me senti tão envergonhada. Nem na vez em que fiz a peça Cachinhos dourados, - sem os cachinhos dourados, porque meu cabelo é preto. - e tive de sentar em uma cadeira de isopor, que quebrou e todas as crianças riram,  me senti tão tímida assim. Me preparei para ouvir todo o tipo de coisa, até uma zoação por conta do selinho idiota.
Mas o que o João falou, foi o que me deixou ainda mais sem jeito, mas extremamente feliz.
- Você beija bem!!
Minha língua coçou para perguntar:
- Beijo bem, mesmo depois de ter feito você engolir meu selinho?

Mas sabiamente deixei a pergunta em minha cabecinha de vento.
Então depois do Primeiro fantástico beijo, vieram na sequência  o segundo, o terceiro...
Nossa me senti uma idiota.
Porque fiquei tão nervosa para fazer algo tão bom e fácil ?
Se eu soubesse teria ficado mais calma. Quase tive um treco, para só chegar aqui e descobrir como é bom.
  Quando decidimos sair do bequinho e voltar a realidade, um sorriso idiota não saia do meu rosto. E minha blusa estava com o cheirinho dele.
  Ao chegar do lado de fora da escola, encontrei a amiga, aquela do conselho furado. Só que eu estava tão empolgada com minha recém descoberta da maravilha que é beijar, que nem briguei com ela. Apenas fiquei repetindo inúmeras vezes o que tinha acontecido. Eu estava nas nuvens de tão feliz.
Mas eu deveria ter brigado e muito com ela sim... Anos depois descobri que quando ela me deu aquele conselho furado, ainda nem tinha perdido o próprio Bv.

Sacanagem ela nunca tinha beijado, não me contou isso e ainda teve a audácia de me falar algo em que não tinha a mínima experiência. Hoje acabo achando graça.

Esse Tal De Primeiro Beijo Where stories live. Discover now