02 - Isaac

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Acordei com batidas na porta. Não lembro de ter dormido, mas pude deduzir que foi depois das duas da manhã. Estava cansada e de ressaca.

Com as pernas levemente bambas, me levantei e fui até a porta. Olhei para onde havia dormido: sofá. Ao lado, a garrafa de bebida jazia caída no chão, deixando um pequeno rastro de uísque ali. Ao redor, bitucas de cigarros e cinzas que deixei O saciar minha necessidade do álcool e buscar outra. Merda... Precisava de um cinzeiro. Do maço de cigarro, sobrou cinco.

Abri a porta. Por que diabos estava aberta? Me perguntei mentalmente. Isaac havia me dito ontem que ela só ficaria aberta quando eu fizesse trabalhos ou quando fosse a vontade do tal "chefe". Neguei com a cabeça. Depois perguntaria a Isaac.

Atrás da porta: Isaac. Ele trazia consigo uma marmita e uma garrafinha de coca. Ele vestia calça e camiseta. Seus cabelos estavam levemente bagunçados e na sua boca havia um cigarro.

— Bom dia.

— Não tão bom — murmurei, sonolenta.

— Foda — ele soprou a fumaça pelo canto da boca. — posso entrar?

E eu tenho escolha?... Assenti e me afastei, dando passagem para ele. Isaac caminhou até a mesinha entre o sofá e a poltrona e lá colocou a marmita e a coca. Depois, recuou alguns passos e tragou o cigarro. Fechei a porta e fui até ele.

— Por que a porta estava aberta? — esfreguei os olhos.

— Porque eu entrei aqui a noite.

Pisquei e franzi a testa, confusa.

— Por que...

— Podemos falar disso depois.

Abri a boca para retrucar sua afirmação, porém, ele se adiantou:

Vamos falar disso depois. Trouxe comida e você não vai querer comer depois dessa conversa. Então, come agora.

— Eu tenho medo de você — disse simples.

— Eu sei. Deve ter.

— Tá bom, agora tá ficando estranho. Por que caralhos você entrou aqui ontem? — disse ríspida.

Isaac me afrontou com o olhar. Em um gesto simples, ele empurrou a marmita para perto de mim, indicando o que eu devia fazer: comer.

Revirei os olhos e peguei a marmita. Abri e pude sentir o doce aroma de um almoço de prato cheio: curry de legumes. Suspirei e fechei os olhos. Comer aquilo não seria um sacrifício. Me sentei no sofá e peguei o garfo, enfiando no interior da vasilha. Antes de pegar a primeira garfada me virei para ele.

— Tem carne?

Ele negou com a cabeça.

— Sei tudo sobre você, inclusive, que é vegetariana.

Assenti agradecida. Embora estivesse no inferno, aqui tinha comida vegetariana. Devagar, comecei a comer. A comida estava maravilhosa. Talvez fosse a fome exagerada.

Isaac se sentou na poltrona. Olhei para ele enquanto mastigava. Depois que minha boca estava livre, perguntei:

— Isso era para ser o almoço?

Ele assentiu com a cabeça.

— Você dormiu bastante e eu deduzi que não iria buscar comida... — ele tragou — nos primeiros dias, quase nenhuma garota vai buscar. Elas costumam ter medo, sei lá. E, embora você aparenta ser uma garota corajosa —  olhou para mim — eu não duvido que fique sem comer por birra. Então, eu trouxe.

Ergui as sobrancelhas antes de baixar o olhar até a comida.

— Uau, obrigada.

— Nada.

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