10 - O próprio diabo (pt. 1)

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Bev me trouxe para dentro da casa dela. Como sempre, a casa exalava o cheiro da erva, mas eu pouco ligava para isso. Estava ocupada demais chorando e em completo pânico. Eu matei Samael, era tudo o que eu pensava. Essa frase ecoava na minha mente repetidas vezes. Eu matei Samael, eu matei Samael, eu matei Samael. Chorei mais, me agarrando a Beverly. Afundei meu rosto no seu ombro, a abraçando, quase como se eu tivesse medo de que ela fugisse de mim.

— Ágatha, você precisa se acalmar — murmurou. Suas mãos (as quais sujei com o sangue de Samael) tocaram meu rosto, trazendo meu olhar para o dela. Ela estava mais calma (muito mais calma do que eu).

— Eu precisava — gaguejei. — ele tinha que morrer, Bev... Ele matou Chloe.

Beverly fechou os olhos e suspirou. Era óbvio que era coisa demais. Era óbvio que ela não estava conseguindo aguentar aquilo tudo. Ela abriu os olhos, voltando a me olhar. Sua mão que estava no meu rosto massageou minha bochecha com o polegar. Fechei os olhos, sentindo que voltaria a chorar. Solucei. Me agarrei a mão de Bev que me dava carinho e apoio.

— Calma, — disse com tranquilidade — primeiro, troca essa roupa. Você tá suja de... Imagino que isso seja sangue. Enfim, troca.

Assenti. Bev cortou o contato comigo e foi para o quarto. A segui. Ela me entregou um casaco preto e uma calça escura. Depois, ela tirou o próprio casaco que agora possuía manchas. Ela vestiu outro, mais escuro. Assim, saiu do quarto. Me troquei o mais rápido que pude, então, vi meu reflexo no espelho; meu rosto estava sujo de sangue. Estava pálida. Conseguia sentir meu corpo gelado... Era o pânico, o medo, que me deixava assim. Tão mal.

Pisquei e balancei a cabeça. Eu preciso me acalmar. Sai do quarto e fui em direção ao banheiro. Lavei meu rosto, esfregando aquele sangue escuro e o tirando como pude. Depois, apanhei um elástico de cabelo que encontrei ali e amarrei meu cabelo para disfarçar o sangue que tinha nele.

Olhei para o espelho. Eu estava horrivelmente amedrontada. Matei Samael, matei Samael, matei Samael, matei Samael. E isso não mudava quase nada.

— Ágatha — chamou, atrás de mim.

Me virei para ela.

— Vamos enterrar o corpo dele.

Suspirei baixinho. Encostei meu corpo na pia. Precisava manter a calma. Suspirei de novo. Baixei o rosto, me sentindo fraca de novo. Minhas mãos voltaram a tremer e comecei a chorar de novo. Puta merda. Eu iria enterrar Samael. Eu enterrei Chloe, porém, eu não a matei. Já Samael...

— Ágatha, Ágatha, calma — ela se aproximou, depois, tocou meu rosto, o erguendo para que olhasse para ela. Encostei meu rosto na mão dela e deixei que ela me visse chorar. — Você precisa se acalmar.

— Eu não consigo — disse entre soluços. Olhei para Bev — eu enterrei Chloe, mas eu não matei ela. Eu matei Samael, Beverly. Eu matei ele.

Os olhos dela desviaram dos meus repetidas vezes. Ela parecia tentar processar tudo aquilo.

Ela recuou alguns passos e logo saiu do banheiro. Me encolhi mais contra a pia, chorando quase que desesperadamente. Ela não demorou muito para voltar. Ela se aproximou de mim e sua mão foi até a minha. Ela me entregou algo.

— Bebe. Isso vai te fazer dormir.

Olhei para a minha mão. Um comprimido azul. Depois, olhei para Bev.

— Você vai me drogar? — meu tom foi quase acusatório.

— Você não precisa beber se não quiser. Eu só quero que você fique bem... E como você tá entrando em pânico só de pensar nele, eu pensei que fosse o melhor por agora.

𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓í𝖆𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora