17 - Encontro

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Seguimos em direção ao salão. Samael segurou minha cintura e voltamos a dançar. Frente, trás, rodopiando, caindo sob os braços dele. Dançamos por algum tempo até eu começar a sentir que não aguentaria muito mais sem beber.

— Tem álcool? — murmurei.

— O que você quiser, tem aqui.

— Quero uísque.

Samael assentiu. Porém, antes de sair em busca da minha bebida, se aproximou e me deu um pequeno beijo.

— Não converse com ninguém nem aceite nada de ninguém — disse sério. — ok?

Assenti com a cabeça e ele saiu. Era óbvio que não aceitaria nada de desconhecidos. Ele pensa que sou uma criança burra?

Juntei minhas mãos frente ao meu corpo, remexendo os dedos. Me sentia desprotegida na ausência de Samael, mas, o que poderia fazer? Não posso depender dele para sempre.

Olhei em volta. Uma porrada de demônios prontos para me machucar caso quisessem, embora eu ainda pensasse que, talvez, ele não estivessem tão prontos assim. Eles pareciam temer Samael e, como ele disse, eles não fariam nada pois eu pertenço a ele.

Mordi a parte interior da minha boca. Pertenço a ele. Ridículo, entretanto, verdade. Estou a mercê dele. Sou seu objeto de prazer. Sua putinha. Pelo menos, ele está mais acessível agora. Conversamos e ele me bate menos. Uma evolução num relacionamento abusivo como esse. Ri. Pensar que no início ele me cortou para me prender a ele era quase um absurdo, porém, agora parece algo pequeno comparado ao nosso caminho andado.

Todavia, uma coisa me deixava pensativa... Na verdade, duas: por que diabos Samael tem tanta autoridade aqui? E por que pareço não ser bem-vinda aqui?

— Que surpresa te encontrar aqui, putinha — disse num quase ronronar, próximo ao meu ouvido. Antes que pudesse me afastar, senti suas mãos agarrando minha cintura e colando nossos corpos.

Sem ver seu rosto, sabia quem era.

— Me solta, desgraçado — cuspi as palavras.

Beliel riu, baixinho.

— Assim que trata seu cunhado? — as mãos dele me apertaram com força, iniciando um balanço, quase parecido com uma dança, seguindo o ritmo da música.

— Samael não vai gostar de te ver aqui, ainda mais me tocando — segurei suas mãos, tentando tirá-las de mim e falhando.

— Ele não precisa saber.

— Ele vai saber — juntei minhas sobrancelhas. — eu mesma vou contar.

Beliel riu e, com um sorriso indestrutível, me girou, dessa vez, me jogando para baixo. Me agarrei nele, com medo de cair. Ele espremeu os olhos num sorriso convencido e me ergueu de novo. Voltamos a dançar calmamente.

— Fiquei sabendo que ele abandonou as outras putas — disse.

Então era verdade.

— Nunca vi alguém o deixar assim... — umedeceu os lábios — me pergunto: o que há de tão interessante em você, Ágatha?

— Pode ter certeza que você nunca vai descobrir, filho da puta.

Beliel ergueu a sobrancelha. Depois baixou o olhar. Senti seus olhos queimarem o meu corpo de cima abaixo: meu rosto, meus seios, minha barriga, meu quadril até o interior de minhas coxas. Seus olhos esquentavam minha pele e tive vontade de chutar seu saco. Como ousa olhar para mim com esses olhos?

— Bom, — em um movimento da dança, ele enfiou sua perna entre as minhas — eu posso deduzir, pelo menos.

Me sentindo violada, o empurrei com toda a minha força. Houve pouco efeito: ele endireitou a postura e retirou sua perna da minha virilha, mas ainda se mantinha preso a mim.

Me forçou a dançar de novo.

— Foi Samael que te trouxe?

— Como diabos acha que eu viria se não fosse com ele? Imbecil.

— Sei lá... — sorriu — vai que tem outro demônio na sua cola, hum?

Franzi a testa. Beliel me girou, me colocando de frente para ele e, uma de suas mãos, agarrou meu quadril e a outra minha cintura. Empurrei ele, porém, ele continuou inabalável.

— Está me chamando de puta?

— Acho que foi o que eu disse no início da conversa, não? — seu sorriso se alargou, quase malvado.

Senti meu rosto esquentar em raiva e, num momento irracional, ergui minha mão e dei um tapa no rosto dele... Ou tentei. Assim que minha mão chegou próxima ao rosto dele, ele segurou meu punho e, assim, eu vi aos poucos o seu sorriso diminuir em uma carranca irritada.

Senti seu aperto no meu pulso aumentar.

— Parece que Samael não te educou de maneira correta — puxou minha mão com força. Meu corpo bateu contra o dele e ele me segurou. Seus dedos da mão livre agarraram minhas bochechas, me obrigando a encará-lo. — talvez eu devesse te ensinar algumas boas maneiras de tratar um grão-senhor.

Em questão de segundos, vi o pulso de Beliel ser puxado, qual segurava meu rosto; Samael literalmente cortou a mão de Beliel fora. Com um pouco de agressividade, Samael me puxou para perto de si, longe de Beliel que, agora, sangrava com a ausência da mão.

Olhei para a mão de Samael: uma faca coberta pelo líquido negro (sangue de Beliel) que, agora, pingava no chão brilhante. Senti o sangue negro tocar minha pele, tanto no rosto como em parte do vestido.

Demorei um pouco para perceber o silêncio envolta de nós. Todos pararam para assistir a bagunça que começava a surgir entre os irmãos.

Beliel sorriu para Samael.

— Faz um tempinho — vi sua mão crescer novamente em meio a uma sombra que saia do corte — que não te vejo tão irritado. Toquei num ponto sensível?

— Não brinca comigo, Beliel — seu tom de voz era autoritário e irritado.

Olhei para o rosto de Samael e pude ver que seus olhos brilhavam. Aquele mesmo brilho azul ameaçador que sua iris possuía na primeira vez que o vi. Já Beliel, parecia tranquilo com tudo aquilo. Sequer parecia ameaçado.

— Eu só queria bater um papo com sua nova puta — sorriu de canto.

Samael travou o maxilar.

— Meça suas palavras ou vou cortar sua língua — ameaçou.

Beliel umedeceu os lábios antes de rir.

— Vai, é? — manteve o sorriso. — bom, independente disso, ela crescerá de novo — riu. — então, Ágatha... — olhou para mim. Seus olhos petrificaram meu corpo e, quase por instinto, recuei alguns passos. Ele pareceu satisfeito com meu medo. — seja bem-vinda. Cuidado para não virar a janta de alguém aqui.

Ele voltou a olhar para Samael.

— E você... Deveria aprender a dividir seus brinquedinhos — seu sorriso foi de orelha a orelha.

Em um movimento ágil, Samael avançou em Beliel. Com a faca em sua mão, ele cortou a garganta do homem tatuado como se fosse papel. Porém, não saiu sangue, apenas uma fumaça tão negra quanto a noite. Tanto pelo corte quanto pela boca, mas, antes, pude ver um sorriso em seus lábios. Sabia que não havia matado.

Me encolhi com a agressividade do ato. Samael sacudiu a mão, tentando limpar o sangue que insistia em manchar sua pele. A faca caiu no chão, porém, logo se desintegrou em fumaça.

N. Mabis:
Cap novinho. Tá bão?
Bjos 💀🤍

𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓í𝖆𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora