Cap 28: Sentimentos.

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Outubro, 2027.
Domingo.
...

POV Narrador.

A família Soares e S/N haviam pego o costume de realizar almoços todos os domingos. Jackson, Lucas e S/N ficavam na churrasqueira, discutindo sobre futebol e esportes, enquanto Júlia, Giovana, e Fabiana ficavam na cozinha, entre risadas, fofocas e a preparação das refeições. Esses momentos familiares eram preciosos. Para S/N, participar desses almoços era se sentir verdadeiramente como parte da família.

Mas naquele domingo em particular, algo estava diferente. O clima estava tenso, e todos perceberam. Júlia e S/N, que geralmente se sentavam lado a lado, optaram por se sentar frente a frente, sem trocarem as brincadeiras de todo almoço. Jackson e Fabiana trocaram olhares preocupados, mas nada disseram.

Após o almoço, como de costume, todos ajudaram a tirar a mesa e a lavar a louça. Em seguida, cada casal seguiu para seus respectivos quartos.

Por mais que tentassem agir normalmente, o silêncio e as pequenas mudanças nas atitudes de Júlia e S/N eram impossíveis de ignorar. O desconforto entre elas parecia crescer a cada minuto. No fundo, todos sabiam que algo estava rolando, mas ninguém ousava interferir, preferindo deixar que Júlia e S/N resolvessem suas questões da maneira que achassem melhor. O que quer que estivesse em jogo entre elas, seria preciso mais do que palavras para resolver

POV S/N Peña.

Quando Júlia entrou no quarto, eu a segui, fechando a porta atrás de mim. O silêncio entre nós estava desconfortável, e eu preciso colocar ela contra a parede para resolver tudo antes que fosse tarde demais.

- A gente pode conversar? - perguntei, observando enquanto Júlia se sentava na cama.

- Sobre o quê? - ela respondeu, sua voz tinha um pouco de incerteza que me fez perceber o quão distante estávamos nos tornando.

- A gente! - falei com a franqueza que sabia que o momento exigia, notando o jeito como os olhos de Júlia se arregalaram. A tensão no seu corpo era evidente, como se cada palavra minha estivesse carregada de um peso invisível, para mim.

- O que aconteceu? - ela perguntou, a preocupação nítida em sua voz. Havia uma vulnerabilidade ali que raramente aparecia, e isso só aumentava a minha determinação de não deixar isso prosseguir.

- Você está estranha, eu estou estranha, e se tudo continuar assim, sabemos onde isso vai parar. - continuei, tentando escolher minhas palavras com cuidado, mas sabendo que elas precisavam ser ditas. Júlia me olhava atentamente, e eu sabia que ela esperava que eu continuasse. - Você precisa me dizer o que está sentindo...

- Medo. - a palavra saiu tão rápido que me pegou de surpresa, e eu precisei de um momento para processar. Medo? Ela tinha medo de quê?

- Medo de quê? - minha voz estava mais tranquila agora, enquanto me aproximava da cama, sentando-me ao lado dela. Havia algo na maneira como ela olhava para o chão, evitando meus olhos, que me deixou ansiosa.

- Disso tudo. Medo de não ser suficiente, medo de não poder oferecer a você o que você espera. - ela confessou, e eu senti o peso dessas palavras. Quis dizer algo imediatamente, mas sabia que precisava ouvir mais antes de tentar aliviar suas inseguranças.

- Medos são normais, Júlia. Você não deve deixar que eles te dominem. Não acha que deveria ter falado comigo sobre isso antes? - perguntei, segurando a mão dela com firmeza, sentindo a leve tremedeira de seus dedos.

- S/N... Ao mesmo tempo que eu quero ter tudo com você, eu quero te deixar longe de mim. Eu me tornei uma pessoa confusa, e meu medo é machucar a pessoa incrível que você é. Eu sinto medo, medo de tudo. E cada vez mais esse medo me consome, e mesmo que eu tente, ele não desaparece. - Júlia se levantou e começou a andar pelo quarto, sua voz se quebrando em algumas palavras. Eu via a luta interna em que ela estava, e isso partia meu coração.

- Júlia, eu sempre disse que respeitaria seu tempo e seus limites, e é isso o que estou fazendo. Mas se você não tem certeza que é isso que você quer, você sabe que não vai funcionar. - falei calmamente, tentando fazer com que ela entendesse que eu estava aqui, e que a decisão era dela.

- Esse é o problema, S/N. Eu sei o que quero, e eu quero você. Mas eu não sei como fazer isso acontecer. - ela parou de andar, seus olhos finalmente encontrando os meus, cheios de uma angústia que me fez querer envolvê-la em meus braços e nunca mais soltar.

- Eu estou bem aqui, Júlia. Sentada na sua cama, te vendo andar de um lado para o outro como se fosse abrir um buraco no chão a qualquer momento. - tentei brincar, sorrindo para ela. Fiquei aliviada quando a vi retribuir o sorriso, ainda que fosse fraco.

- Eu sei, eu sei que você está aqui. Mas não sei por quanto tempo você vai ficar... - ela admitiu, e meu peito apertou com a insegurança que percebi em sua voz.

Me levantei da cama e caminhei até ela, colocando minhas mãos em suas bochechas, forçando-a a olhar para mim. Seus olhos, sempre tão cheios de vida, agora pareciam refletir um turbilhão de emoções que eu queria desesperadamente acalmar.

- Eu estou aqui até dezembro, mas se você quiser, posso ficar aqui... - apontei para o coração dela, tentando transmitir toda a sinceridade do que sentia. - Para sempre!

Ela olhou nos meus olhos por um longo momento, e por um segundo, pensei que ela ia chorar. Mas em vez disso, Júlia respirou fundo, tentando recuperar alguma compostura.

- Eu admiro você e a sua coragem. Você é incrível demais, S/N. — ela sussurrou, antes de me puxar para um abraço apertado.

Senti a intensidade do seu abraço, como se ela estivesse tentando absorver minha força, e isso só fez meu coração bater mais rápido. Quando ela se afastou, algo dentro de mim não queria deixá-la ir.

- Vai continuar me afastando de você? Tem certeza disso? - perguntei, minha voz soando mais baixa, quase como um desafio.

- Eu não quero te afastar, só preciso pensar. - ela disse, seu olhar perdido em pensamentos.

- Tudo bem... Às vezes, eu não sei se você me ama ou me odeia. - soltei, minha voz quase um sussurro, enquanto me dirigia para a porta. Antes de sair, me virei para encará-la uma última vez. - Júlia, só lembre que foi você quem me pediu para tentar, não o contrário.

Ela deu um sorriso fraco, mas sincero, e quando eu estava prestes a sair, ouvi sua voz me chamar. Ela veio até mim, fechou a porta e, antes que eu pudesse reagir, me encostou contra ela, suas mãos segurando meus ombros com uma firmeza que eu não esperava.

- Querida, acredite em mim, eu não quero te levar ao inferno só para me conhecer ou ficar comigo. - ela murmurou, sua voz baixa e rouca, fazendo meu coração disparar.

- E se eu quiser ir ao inferno por você? - provoquei, deixando um sorriso desafiador surgir nos meus lábios. Vi algo mudar no olhar dela, uma chama de determinação.

- Você me deixa tão louca, sabia que tem esse efeito? - Júlia sussurrou, seus braços deslizando para o meu pescoço, trazendo-me para mais perto.

Meu coração batia tão forte que eu tinha certeza que ela podia ouvir. Eu sabia que estava brincando com fogo, mas não me importava. Inclinei-me para mais perto, até que nossos lábios quase se tocassem.

- Me deixe checar. - provoquei, e antes que ela pudesse responder, capturei seus lábios com os meus.

O beijo começou devagar, quase hesitante, mas logo se tornou mais intenso, como se estivéssemos tentando compensar todo o tempo perdido. Suas mãos deslizaram para a minha nuca, puxando-me ainda mais para ela, e eu envolvi sua cintura com meus braços, sentindo o calor do seu corpo contra o meu. Cada movimento, cada toque, era uma promessa não dita, uma tentativa desesperada de superar o medo que a consumia.

Quando finalmente nos separamos, nossos rostos ainda estavam próximos, respirações entrelaçadas. Abri os olhos lentamente, encontrando o olhar dela fixo em mim, e vi ali a mesma confusão, o mesmo desejo. Mas naquele momento, tudo o que importava era que estávamos ali, juntas.

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Quem acabou contra a parede foi a própria S/N 😂

Ondas e Pódios - Julia Soares.Onde histórias criam vida. Descubra agora