CAPÍTULO 054

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Richard Ríos

Chegar em casa depois daquele empate com o Corinthians foi estranho. O jogo já tinha sido uma batalha em campo, e eu não conseguia tirar da cabeça o cartão amarelo e a discussão que tive no meio do jogo. Mas eu me sentir ainda mais frustrado quando, dentro do carro, acabei descontando em Ariana.

A discussão que tivemos foi rápida, mas intensa. Eu tava de cabeça quente, irritado com o empate, e quando ela tentou me acalmar, acabei falando alto com ela. Ela, claro, não abaixou a cabeça.
Ariana nunca abaixa a cabeça pra homem nenhum, e foi aí que a situação só piorou. Ficamos o caminho todo em um silêncio que parecia gritar entre nós, cada quilômetro até em casa pesando mais na minha consciência.

Quando chegamos, mal trocamos palavras. Ela foi direto pro quarto, e eu fiquei ali, parado na sala por um momento, tentando entender o que eu tinha feito. Minhas palavras ecoavam na minha cabeça, cada vez mais duras e injustas. Eu sabia que tinha errado, mas o orgulho, junto com a raiva do jogo, ainda me segurava.

Decidi tomar um banho.
Fiquei ali debaixo do chuveiro, deixando a água escorrer pelo meu corpo. Acho que foi a primeira vez que descontei meu estresse em Ariana, mas eu sabia que precisava ser a última também. Ela não merecia isso. Ela sempre esteve ao meu lado, me apoiando, e eu acabei machucando ela.

Ariana é muito sentimental.

Saí do banho, coloquei uma roupa qualquer e fui atrás dela.
Ela tava sentada na cama, mexendo no celular, mas eu sabia que ela estava tão incomodada quanto eu. Me aproximei devagar, sem saber muito bem como começar.

Richard: Ari... - chamei ela, a voz saindo mais baixa do que eu esperava.

Ela levantou os olhos, me encarando. Dava pra ver que ainda estava magoada, e aquilo me doeu mais ainda.

Richard: Eu errei. - continuei, me sentando ao lado dela na cama. - Eu tava de cabeça quente e não deveria ter falado daquele jeito com você. Eu sinto muito, de verdade.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, mas depois suspirou e colocou o celular de lado.

Ariana: Olha, eu entendo que o jogo te deixa frustrado, mas não é justo você descontar em mim. Eu tô aqui pra te apoiar, mas eu não vou aceitar ser tratada assim.

Eu assenti, sentindo a culpa apertar meu peito.

Richard: Eu sei. Não é justo, e você tem toda a razão. Eu prometo que vou melhorar. Eu não quero que você se sinta assim, e eu sei que preciso controlar melhor minha raiva.

Ariana me olhou por mais alguns instantes, antes de finalmente soltar um pequeno suspiro.

Ariana: Eu só quero que a gente fique bem, vida. - ela falou, com a voz mais suave. - Você é importante pra mim, mas a gente precisa saber lidar com esses momentos juntos, sem brigar desse jeito.

Richard: A gente vai ficar bem. - falei apertando a mão dela. - Eu vou melhorar isso. - me aproximei dando um selinho nela, que me abraçou.

Ela deu um pequeno sorriso, e foi como se a tensão no ar começasse a dessaparecer.

Ariana foi tomar banho e voltou vestindo uma calça moletom e uma blusa de manga até o cotovelo.

Richard: Isso tudo é frio? - olho pra ela que concorda amarrando o cabelo.

Ariana: Não sei como tu, seco desse jeito, não sente frio. - se joga na cama do meu lado, puxando a coberta.

Richard: Você que é frienta. - olho pra ela.

Ariana: Tá se sentindo melhor? - deita em cima de mim, me olhando.

Richard: Tô, amor. - beijo sua testa. - Obrigado!

Ela me dá um selinho e deita a cabeça em mim.
Coloquei minha mão por dentro de sua blusa e fiquei alisando suas costas.

Ariana: Tô com saudades da Bahia. - ela fala. - Saudades das festas de lá.

Richard: Você ia muito?

Ariana: Em todas. - ela rir. - Kauã e eu deixava mainha louca. - agora quem rir sou eu.

Richard: Que tipo de festa você ia mais?

Ariana: São João. - fala choramingando. - Melhor festa da vida.

Richard: Como é o São João?

Ariana: É uma festa que tem no mês de Junho. As festas melhores é no interior.
Todo mundo viaja pra casa dos parentes, faz fogueira na porta de casa, toma licor, come amendoim, tem várias atrações que o prefeito contrata... - ela fala toda empolgada. - Tem uma tradição no São João que é tocar espada.

Richard: Que isso?

Ariana: Espada é um tipo de fogos de artifício. Mas ela é perigosa, tem que saber tocar pra não se queimar.

Richard: E você toca? - olho pra ela.

Ariana: Faço e toco. Eu e Kauã fazemos mais de dez dúzias de espadas.

Richard: Vocês dois dividem o mesmo neurônio. - ela rir.

Ariana: Uma vez eu e ele fomos pra guerra de espada e aí fica várias pessoas em uma rua, onde todos tocam e pulam.
Eu e Kauã acendemos as espadas e fomos tocar com outras pessoas, veio uma de lá pra cá e acertou na minha coxa. Cara...que dor...

Richard: E sua mãe falou o que?

Ariana: Mainha ruim de licor, nem viu eu morrendo. - dou risada. - Fui pra emergência e fiquei fazendo curativo quase um mês. Minha pele ficou em carne viva, queimadura feia mesmo.

Richard: Você é maluca, isso sim.

Ariana: Vou te levar lá pra você pular espada.

Richard: Vai só. - ela rir.

Nossa conexão // Richard RíosOnde histórias criam vida. Descubra agora