Theocadia- Tentando Quebrar o Feitiço do Coração

Amanhã

Amanhã seria o casamento, Leocádia sentia a ansiedade correndo por suas veias. Mesmo com toda sua teimosia e atitude forte, não conseguia evitar a inquietação que o grande dia lhe trazia. Decidiu ir até o armazém de Theobaldo, esperando encontrar algum consolo.

Ao entrar, viu Theobaldo concentrado, mexendo em algumas poções, como sempre. Ele mal percebeu sua presença até que ela fechou a porta com um leve estrondo, atraindo sua atenção.

— Você nem saiu daqui um minuto desde que sua irmã chegou — Leocádia comentou, o tom levemente irritado.

Theobaldo levantou o olhar, surpreso, mas logo sorriu ao vê-la. Caminhou até ela, deixando de lado o que estava fazendo.

— Leocádia, eu não sou muito bom com esse negócio de decoração. — Ele suspirou, reconhecendo sua própria limitação. — Estou um pouco nervoso, mas, para ser sincero, prefiro deixar essas coisas com você. Quanto à Theodora... Ela me ama, mas não pode mudar minha opinião sobre você, mesmo que vocês tenham suas brigas agora. Ela é sua cunhada, e vai ter que se acostumar com isso.

Leocádia revirou os olhos, cruzando os braços de forma defensiva.

— Eu aguento a Theodora, Theobaldo. Mas não me peça para gostar dela. Aliás, ela não é pior do que aquela Maju, moradora abusada, que fica tentando me sabotar sempre que pode.

Theobaldo sorriu com a resposta previsível de Leocádia. Ele se aproximou, pegando a mão dela com um carinho que contrastava com o jeito duro que ela exibia.

— Foi bom você ter vindo aqui, Leocádia — disse ele, olhando nos olhos dela com um brilho especial. — Eu tinha algo para te dar.

Leocádia estreitou os olhos, sempre desconfiada, mas ao mesmo tempo curiosa.

— E o que seria?

Sem dizer nada, Theobaldo tirou de uma gaveta uma pequena caixa de veludo preto e a entregou para ela. Leocádia, ainda com uma expressão de desconfiança, abriu a caixa devagar. Dentro, havia um anel simples, mas belíssimo, com uma pedra que capturava a luz de uma forma quase mágica.

— Esse anel pertenceu à minha avó — Theobaldo explicou, a voz baixa e cheia de emoção, algo que ele raramente demonstrava. — Ela sempre dizia que ele deveria ser passado para a pessoa que eu mais amasse. E essa pessoa é você, Leocádia.

Por um momento, Leocádia ficou em silêncio. Ela não era acostumada com essas demonstrações de afeto tão profundas. Mesmo sendo teimosa e irritadiça, sentiu uma onda de emoção invadi-la.

— Eu... não sei o que dizer, Theobaldo. — sussurrou, o tom de voz mais suave do que o habitual.

— Não precisa dizer nada. — Ele respondeu, aproximando-se mais e afastando uma mecha de cabelo do rosto dela. — Amanhã, quando estivermos no altar, quero que saiba que todo o meu amor estará com você, para sempre.

Leocádia sentiu o coração acelerar. Colocou o anel no dedo e olhou para Theobaldo, os olhos refletindo uma mistura de sentimentos intensos.

— E eu prometo que estarei ao seu lado, Theobaldo, hoje e sempre — disse ela, a voz firme, mas com um fundo de ternura que raramente deixava transparecer.