11- PARALISIA DO SONO (LAYSLA)

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Estirada no tapete por alguns minutos e com uma dor terrível nos ossos, percebi que não estava mais só. Havia um rato enorme roendo o meu dedão do meu pé. Tive vontade de gritar. E gritei. Gritei pelo rei, mas apenas um ruído rouco indecifrável saiu de minha boca. Era como se estivesse acordada, presa num corpo que repousava. Mal conseguia respirar.

Observei a cama, almejando chegar nela. Meus membros inferiores eram os que estavam mais debilitados. Logo, me virei de bruços com o auxílio dos braços e respirei fundo antes de tentar rastejar pelo chão. Perdi a força em segundos. Exatos cinco segundos.

Meu choro se intensificou quando notei o rato me seguir e retornar ao que fazia antes de eu ter o atrapalhado. Acho que era o sangue de Roseta que o atraía. Eu vi que havia respingos pela minha perna, mas ir atrás do rei pelas passagens secretas pareceu mais interessante do que me limpar naquele momento. Logo me dispersei com a sedução que prosseguiu, mas o animal agora me lembrava do banho que eu não podia ter adiado.

- O que fez... O que fez a mim... Luigi? - Minha voz voltava, mas saiu baixa e fraca.

Desesperada, deitei minha cabeça no chão. Porém senti uma presença no quarto e, esperançosa, ergui meu olhar pensando ser o vampiro. Contudo, enxerguei uma mulher na minha frente. Ela era bela, tinha os cabelos longos e olhos negros profundos, no mesmo tom de seu vestido justo, uma roupa diferente de todas as das moças que vi no castelo. Magnífica, poderosa... Havia alguém no meu repertório de histórias que minha mãe contava com essas características, mas só tive a certeza de que era assombrada pela deusa da morte, quando um corvo pousou em seu ombro.

- Eu... Eu vou...? - Não consegui completar minha pergunta.

- Muitos vão morrer essa noite, mas não você, não ainda, querida Laysla...

- Luigi? - Entrei em pânico.

Morrigan ignorou a pergunta, caminhou ao redor do meu corpo e se sentou com as pernas cruzadas na beirada da cama. Com a ponta de um de seus pés ergueu meu queixo para que a encarasse, então soprou em minha direção uma fumaça preta que rapidamente entrou pelas minhas narinas e boca. Senti um renovo imediato e notei que até o maldito roedor se afugentou. Arfei, aliviada e, ajoelhada, me prostrei em agradecimento perante ela.

- Não sei como funciona... Devo oferecer algo em troca? - indaguei, voltando a olhá-la.

- O que eu queria, não me deu. E acredito que nesse ciclo tenha menos interesse em fazer isso do que antes... - resmungou baixo para si. Não compreendi. - Bom, embora eu tenha sido aconselhada a não me aproximar de vocês, creio que deva te previnir. - Morrigan sorriu um tanto provocante, enquanto me fazia um sinal com a mão para que eu me levantasse. Fiz o que pediu e parei em sua frente.

Ao olhar dentro dos seus olhos negros, vislumbrei uma floresta sombria. Estranhamente não tive medo, todavia, senti a sua força causar uma vibração no meu interior, centralizada no meu peito, pronta para explodir. Conhecendo aquela sensação, desfrutada no dia em que o exército do rei me buscou no casebre, cobri minha boca.

- Bruxa... - Ela falou com deboche. - Guarde a magia para o momento certo. Vai ser divertido quando souber toda a verdade.

Engoli aquela força, assim como sugeriu. A deusa da guerra parecia tão íntima. Falava como se conhecesse o meu passado, presente e futuro. Deveria ser a vantagem de ser uma divindade. Porém não gostava da forma sarcástica que lançava o mistério. E o porquê de não o contar, já que parecia torcer para que o fato acontecesse o mais rápido possível.

- Devo me preocupar? - Semicerrei os olhos.

- Hum... - Ela deu de ombros e o corvo imediatamente alçou o voo. - Digamos que o seu mau estar se dê pela maneira medíocre que o rei te dá prazer, repetiria o coito novamente?

Fiquei boquiaberta e com os olhos arregalados.

Morrigan, com sua voz levemente embargada, continuou a falar: - Digamos que no casebre, quando busquei sua mãe, também deveria ter te buscado. Mas te dei uma chance e acabei enviando meus corvos para te abençoar com mais força.

Por que ela se importa comigo?, me questionava. Vi um semblante indefinido em seu rosto. Era como se lutasse com os sentimentos. Ora me abominava, ora se preocupava. Morrigan era intrigante.

- Laysla... - Ela suspirou. - Não te reconhecerei como um dia a reconheci, pois os tempos são outros. Me afastarei para não ser tentada a repetir o mesmo erro. Porém, eis que te digo, e não é uma maldição, mas, sim, um aviso... Cuidado! Cuidado porque há muitas formas de morrer estando na companhia do rei. E eu não poderei mais atrasar o seu destino. O encontro de almas não favorece a um ser mortal. Luigi roubará toda sua vida, se aceitar dessa forma. E se fizer do modo natural, talvez nem sobre um osso inteiro sequer. Você não o ama de verdade, não vale o sacrifício.

Indignada, soltei uma bufada de revolta.

- Como ousa falar do que eu sinto? Eu amo rei!

Por alguns instantes, acreditei que rebatê-la seria uma boa solução. Mostrar que ela não me intimidava ou alguma coisa ingênua desse tipo. Acho que meu orgulho subiu a minha cabeça ou a atitude presunçosa do rei me contaminou no curto tempo que passamos juntos. Entretanto, ela me agarrou pelo pescoço e começou a me estrangular.

- Você é como uma criança aprendendo a andar. Tropeçando pelos caminhos conhecidos e desconhecidos, escorregando e ralando os joelhos, porque não sabe obedecer às ordens do adulto...

Segurei os seus pulsos, tentando me libertar. No entanto, era impossível. Estava certa de encontraria minha mãe mais breve do que imaginava.

- Laysla, amanhã, antes que o Sol nasça, terá uma surpresa. E depois dela, refaça essa pergunta, "eu amo mesmo o rei?"

Minhas vistas embaçaram pela falta de ar nos meus pulmões. Senti pavor da morte iminente. Morrigan me soltou e na mesma hora se ausentou. Encurvei-me, começando a tossir. Não demorou muito para meu estômago embrulhar. E o enjoo se misturou à fome de um jantar que não aconteceu, trouxe imediatamente a bile à minha boca, pois não havia comido nada naquele dia.

Logo, vomitei.


MEU CAÇADOR E EU 2 (Continuação)Where stories live. Discover now