40. A atração

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Alexander

O sol ainda estava nascendo e eu já dava a terceira volta no perímetro. Os fones de ouvido estavam altos demais, mas nem isso era suficiente para abafar meus pensamentos.

Não havia mais o que pensar sobre aquilo. Beijei Sofie ontem à noite porque era o aniversário dela e ela queria isso. Ela pediu, eu fiz. Pronto.

Pessoas se beijam às vezes. Não há nada demais nisso.

Finalizei a corrida. Casa. Banho gelado. Roupas. Mas a maldita gravata de seda tinha um toque macio irritante que me fez travar o maxilar.

Carro. Escritório. Reunião interminável sobre a expansão de uma parceria — o tipo de reunião que exige foco absoluto, bem o que eu precisava.

Telefonemas estressantes. Clientes insuportáveis. Mandar todos darem uma voltinha pelo vale da sombra da morte.

Planilhas. Negociação. Almoço. Trânsito.

Elevador. Corredor. Cheiro de flor.

Me virei depressa com um sobressalto injustificado no peito, mas o que encontrei foi uma funcionária idiota carregando um buquê de flores brancas. Outra vez, cerrei o maxilar com força.

Reunião. Funcionários incompetentes na minha porta. E-mails irritantes. Meio da tarde e Íris inventou de me trazer um chá orgânico idiota. Provei, e o doce do sabor de mel me fez travar o maxilar pela terceira vez no dia.

Carro. Casa. Escritório. Busquei o trabalho mais irritante e meticuloso para mergulhar noite adentro até ficar cansado demais para cair na cama e instantaneamente adormecer.

A última imagem que vi antes de perder os sentidos foi um olhar castanho magoado.

Despertador. Cortinas se abrindo. Sábado. Me dei conta de que não havia pendência suficientemente insuportável que prendesse minha atenção. Nem a partitura mais complexa no piano foi capaz de tirar da minha cabeça a preocupação com ela.

Sabia que Sofie estava me odiando. E que bom. Só mais dois meses.

No entanto, tinha uma última coisa que eu precisava fazer. Por Thales.

Peguei as chaves e dirigi até a casa dela. Só não me preparei para o impacto de vê-la.

Sofie estava sem a minha camisa. Não sem camisa. Mas também não estava usando camisa. De vestido, quero dizer. Mas que merda de pensamento era esse?!

O cabelo meio bagunçado, os pés descalços, o olhar surpreso.

— Alexander?! — ela me encarava como se eu fosse uma miragem. Provavelmente não esperava me ver tão cedo depois daquilo.

— Não. O clone dele.

Ela fechou a cara e começou a fechar a porta.

— Do que adianta fechar se eu tenho a chave?

Ela se interrompeu. Cruzou os braços e me encarou com uma postura de durona que não me convenceu nem por um segundo.

— O que você quer? — a voz era firme, mas baixa.

— Vou te ensinar a dirigir, lembra?

Os olhos dela cresceram.

— Agora?

— Calce algo que não escorregue dos pés e vem logo, não tenho o dia inteiro — falei já me virando.

Em cinco minutos, ela apareceu com os cabelos presos e a droga do vestido lilás rodado desenhando a cintura fina.

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⏰ Última atualização: a day ago ⏰

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Meu marido indesejadoOnde histórias criam vida. Descubra agora