Os olhos azuis se fecharam por um segundo, acompanhados de um sonoro suspiro de alívio.
Os cabelos estavam despenteados como se tivesse passado a mão por eles diversas vezes, e essa foi a última coisa que tive tempo de ver antes de ser puxada para um abraço.
Em estado de choque, não consegui acreditar que era real. Mas independentemente de ser sonho ou não, soltei a mochila e abracei a cintura dele.
Fechei os olhos e respirei profundamente, absorvendo seu cheiro, seu calor, seu afeto. Os braços do meu marido eram o melhor lugar do mundo, e eu não queria sair jamais.
Na aula de biologia de hoje, o professor exibiu um vídeo do interior de um coração pulsando e explicou: o som do batimento cardíaco é gerado pelo fechamento de válvulas, duas a duas, dois movimentos que ocorrem uma fração de segundo após o outro — é o que causa o som de "tu-dum".
Ou seja, o batimento que percebemos como um único som é, na verdade, composto por duas batidas em sequência, uma como eco imediato da outra.
Foi fácil discernir cada uma escutando o duplo som pulsante em um vídeo didático. Mas, neste momento, essa informação só serviu para me confundir, pois não consegui identificar a origem daquela segunda batida acelerada contra o meu peito: era um eco das câmaras do meu coração ou... o coração dele?
Alexander colocou uma mão na parte de trás da minha cabeça e a outra em minhas costas, como se estivesse verificando se eu estava inteira.
Depois segurou meus braços e se afastou um pouco. Os olhos dele percorreram rapidamente minha testa, ombros, braços, e pernas. Ele segurou meu queixo com delicadeza e virou meu rosto, examinando um lado, depois o outro.
Meu coração estava em disparada; meus sentidos, bagunçados. Aquele toque gentil mexeu comigo.
Quando constatou que eu estava bem, ele se afastou abruptamente. A distância física que colocou entre nós era de três passos, mas emocionalmente, maior que um abismo.
Não havia mais alívio em seu rosto, apenas raiva. Ele colocou as mãos nos quadris com um gesto brusco e irritado que fez o paletó ir para trás.
— Onde você estava? — exigiu, ríspido.
Engoli em seco.
— Como você entrou? — perguntei baixinho, ainda desorientada com a avalanche de emoções.
— Por que não atendeu minhas ligações?!
— Você tem a chave da minha casa? — Saiu ainda mais baixo. Estava nervosa e tentando desesperadamente me esquivar, mas ele realmente tinha que se explicar.
— Responda minhas perguntas, Sofie!
Meu corpo estremeceu.
— Eu... peguei carona...
— Com uma nave espacial que te levou para dar uma voltinha em Marte?! — o tom era tão cortante quanto o olhar.
Não dava para suportar tanta hostilidade, desviei os olhos. Em uma tentativa de ganhar tempo, fechei a porta e peguei minha mochila, embora o nervosismo fizesse minhas mãos tremerem. Fui até a poltrona mais próxima colocar a mochila.
Alexander veio atrás de mim a passos firmes, parando não muito longe dessa vez. Aqueles olhos frios e letais fixos em mim me fizeram vacilar.
— Com quem diabos você estava esse tempo todo enquanto eu te procurava feito louco?! — O tom raivoso deixou claro que ele estava bravo por eu tê-lo feito perder seu precioso tempo.
Como pude pensar, por um segundo, que o abraço significou algo? Ele me desprezava. Só ficou aliviado porque, se ficasse viúvo antes de um ano, não cumpriria a exigência para herdar as ações de tio Thales.
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Meu marido indesejado
Teen Fiction"Você está na escola, certo? Deve saber o mínimo de interpretação para entender que isso não é um casamento. É um contrato. Um mero pedaço de papel cujo único objetivo é impedir que você vá para um abrigo. Você assina essa porcaria, e cada um segue...