Capítulo 95

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O prédio imponente do QG parecia mais um hospital de ponta do que um local clandestino de uma máfia. A fachada era de vidro, o que deixava à mostra uma recepção impecável, cheia de pessoas em jalecos brancos e equipamentos de última geração. Médicos e enfermeiros corriam de um lado para o outro, todos altamente treinados. As salas de cirurgia eram completamente equipadas com tecnologia avançada, capazes de lidar com qualquer emergência.

Eu estava agachado bem em frente à entrada, minha respiração irregular enquanto repetia a oração como se minha vida dependesse disso. Não era só por ela, mas por mim também. Eu sentia que, se ela não sobrevivesse, uma parte de mim morreria junto.

   —Pai Nosso que estás no céu... santificado seja o vosso nome... -As palavras saíam entre soluços. Meus olhos estavam ardendo de tanto chorar, e minhas mãos tremiam descontroladamente.

De repente, senti uma mão pesada pousar no meu ombro. Era Bryce. Ele estava suado, os olhos sérios e cansados, mas ainda tentando manter a calma.

   —Vinnie... levanta. Vamos entrar. Eles já estão cuidando dela, e você precisa acreditar que ela vai sair dessa.

   —Eu não consigo, cara... -murmurei, a voz falhando.- Eu não consigo pensar em nada além dela ali dentro. Eu devia ter feito mais. Eu devia ter protegido ela.

   —Você fez o que podia, porra! -Bryce disse firme.- Agora é com os médicos. Levanta essa merda, caralho, porque ficar aqui chorando não vai mudar nada.

Engoli seco e me forcei a levantar, mesmo que minhas pernas ainda estivessem bambas. Antes de cruzarmos a porta de entrada, o som de sirenes me fez virar a cabeça. Uma frota de ambulâncias parou na frente do QG. Portas se abriram rapidamente, e paramédicos começaram a retirar os homens feridos da gangue. Eles estavam cobertos de sangue, muitos inconscientes. Eram os que ficaram na casa para segurar a trocação de tiros.

O cheiro de ferro e a visão daqueles corpos destroçados me deram um nó no estômago. Aquilo parecia uma zona de guerra. Bryce olhou para os paramédicos, depois para mim, e balançou a cabeça.

   —Eles sabiam no que estavam se metendo, Vinnie. Todos sabiam.

Não respondi. Apenas entrei no hospital, sentindo como se cada passo fosse um esforço monumental. A recepção era ampla, com poltronas confortáveis e paredes brancas impecáveis. Bryce e eu nos sentamos lado a lado em uma das cadeiras. A sala estava lotada de médicos e seguranças, mas eu não via mais ninguém. Só pensava nela.

Bryce quebrou o silêncio primeiro.

   —Sabe o que tá me deixando de cara, Vinnie?

   —Fala... -respondi, a voz baixa, quase apática.

   —Você. Eu te conheço há mais de dez anos. Nunca, em todo esse tempo, te vi rezar. -Ele olhou para mim com uma expressão incrédula. - Nunca te vi sequer mencionar Deus, e agora você tá aí, repetindo o Pai Nosso como se fosse a única coisa no mundo.

Dei um riso curto e sem humor.

   —Talvez seja, Bryce. Talvez seja a única coisa que me resta agora. Eu não sei o que fazer. Eu tô perdido, cara.

   —Perdido? -Bryce franziu o cenho.- Você? Perdido? Eu nunca vi você assim, porra. Você sempre foi o mais frio, o mais calculista. O cara que não vacila. Agora tá aqui, chorando e rezando. Nem parece você.

   –Eu sei... -sussurrei, sentindo as lágrimas voltarem a cair.- Mas ela... ela é diferente. Eu nunca tive medo de perder nada na minha vida, Bryce. Nada. Mas perder a Yasmim? Eu não aguento. Não consigo.

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