Capitulo 20

38 4 2
                                    

Meu pai finalmente tirou os gessos. Já havia se passado 2 semanas desde o desaparecimento dos relatos de Minha mãe.
Richard continuava convivendo comigo. Ele sumia, as vezes ficava dois dias fora, aprendi a não ligar. Em um desses momentos até me sentia segura com ele ali, em outros momentos ele me irritava, cobrava algo que eu deveria esta cobrando.
Realmente Luke sumiu e não havia aparecido desde então, já havia questionado Richard centenas de vezes sobre esse desaparecimento repentino de Luke mas ele era inflexível. Dizia que era melhor assim e que o meu foco não deveria ser Luke, agia como um capitão esperando que o soldado cumprisse o dever.
Eu até tinha me aproximado mais de Davi, em dado momento ele me ofereceu um cigarro que obviamente eu recusei. Era uma situação embaraçosa, por que nesses momentos - que incrivelmente era a maioria das vezes - tinha repulsa de Davi, me sentia mal por amar alguem assim, por está me sacrificando por alguem assim. Mas sabia que aquele não era meu Davi, havia modificações em tudo aquilo, precisava ignorar.
Quando meu pai tirou finalmente os gessos tudo facilitou um pouco. Richard tomava completo cuidado para não ser visto e na maioria das vezes só ficava durante a madrugada. Meu pai começou o tratamento de fisioterapia. E eu frequentava a escola como nunca.
- Anne? - Olhei meio surpresa reconhecendo a voz.
Fiquei parada esperando que ele prosseguisse. Vinha correndo em minha direção com um cigarro presso na orelha e o cabelo solto ao vento. - A onde você esta indo?
- Para casa? - Perguntei deixando aquilo bem obvio.
- Haha - Ele soltou uma breve risada colocando o cigarro na boca. - Vai fazer o que esse final de semana?
- Nada, por que? - Pelo canto dos olhos vi que Richard me observava.
- Vai ter um encontro de uma galera em um parque. Bora?
- Dia? horas? Onde? - Ele sorriu.
- Me passa seu numero?
Meu coração congelou. Aquilo era íntimo, bem íntimo.
Passei o numero ainda meio trêmula. Nesses últimos dias tinha me aproximando consideravelmente de Davi, talvez pelo fato do sumiço de Luke. Davi percebera que eu era ... Próxima de Richard e curioso pelo paradeiro de Luke me questionou inúmeras vezes, isso fez com que nos tornassemos praticamente amigos.
Voltei para casa com a sensação de que tudo estava indo bem. Sabia que Richard estava me seguindo, quase sentia sua presença, mas não me importava. A sensação de esta próxima novamente de Davi era nostálgica, maravilhosa. Sentia aquela necessidade de ficar perto da pessoa nem que fosse somente para observa-la, admira-la.
Sorri para o nada, desejando que daqui pra frente as coisas só melhorasse.
Tudo ficaria ainda melhor se eu encontrasse novamente as cartas de minha mae, isso provocava um vazio enorme em mim, sabia que lá tinha resposta e por esse motivos elas tinham sumido.
Meu pai não estava em casa quando cheguei. Esperei que Richard entrasse me perguntando sobre o meu episódio com Davi mas depois de vários minutos percebi que dessa vez Richard não viria para ser ingerido.
No fim da tarde meu pai chegou junto com a minha vó. Ele não podia dirigir ainda por conta da fraqueza nas pernas, minha vó bondosamente o levava até a fisioterapia e o trazia, as vezes dormia conosco.
Ela nos fez o jantar e enquanto comia fiquei pensando em Richard, as vezes, involuntariamente pensava nele, no que estava fazendo. Fiquei o dia todo sem trocar uma palavra com ele isso era praticamente desconfortável.
Antes de ficar muito tarde minha vó se despediu e foi embora, afinal o fim de semana era livre de fisioterapia.
Só então percebi que não tinha olhado meu celular. Corri meio esperançosa por alguma mensagem de Davi, e lá estava ela.
" Amanha te encontro na estação perto da escola as 11hrs. Davi"
Respondi rapidamente, já fazia três horas que ele havia mandado a mensagem.
"Tudo bem, preciso levar algo?"
Três minutos de espera
"Somente você"
Meu coração acelerou. Amanha obviamente seria um grande dia. Nao podia estragar tudo, teria que mostrar que não sou somente uma "brincadeira" pra ele, tinha que fazer ele gostar de mim, meu tempo estava se esgotando.
Fui dormir mais cedo que o normal, aproveitei que meu pai continuava com os tranquilizantes e rapidamente ele pegava no sono pra também fazer o mesmo.
Sentia que estava pressa em um sonho, flutuando em algo que me alegrava por dentro mas não indentifcava o que era. A sensação era embriagante, suave, o tipo de sonho tranquilo.
Tudo explodiu em escuridão. Minha cabeça parecia esta rodando. O ar ... Nao havia ar. A dor ... Meu corpo doía. Nao encontrava a minha voz, a minha força.
Abri os olhos e praticamente vomitei meu coração.
Aquela cena era pior do que qualquer pesadelo.
- Você a matou! - Ecarei os olhos vermelhos e lacrimejantes de meu pai.
Sua mão estava firmemente grudada em meu pescoço. Queria gritar mas sentia a dor até mesmo na ponta do dedo do pé. Estava acontecendo tudo tão rápido que com a pouca força que ainda me sobrara não conseguia compreender. Eu estava morrendo.
- Desgraçada! Você a matou! Eu vou te matar.
Escutar aquilo ... Senti as lagrimas descendo pelo meu rosto. Só sentia as lagrimas e meu coração sendo esmagado.
Ele me encarava com uma fúria monstruosa nos olhos. A cena estava paralisada naquilo. Suas maos se apertava no meu pescoço, uma força enorme, a certeza de que precisava me sentir morta.
Nao tinha ideia de quanto tempo havia se passado quando senti seus dedos deixarem meu pescoço e o barulho dele caindo no chão. Olhei sem foco pros olhos imersos na escuridão do quarto.
Quando se aproximou percebi o brilho nos olhos verdes.
- Anne fica comigo. - Sentia as lagrimas, meu coração sendo esmagado e o toque suave e quente de Richard na minha mão.
Dormi voltando pro sonho suave que é a escuridão.

AdeusWhere stories live. Discover now