A difficult day

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Pov Lauren

Depois de analisar os prós e contras de fazer a parceria com Ariana, resolvi ligar e marcar uma reunião; Ficou acertado de eu ir no café ao sábado de tarde – pois estaria fechado- , para conversarmos melhor sobre como vai funcionar.

Chegando em casa naquele dia ao ir para meu ateliê, eu pude parar para pensar.

Tendo o café ao lado da livraria, era quase o mesmo do que ter a Camila ao meu lado podendo assim ter a chance de conseguir me aproximar dela e descobrir quem tem lhe feito mal.

Vou ter que seguir o conselho da Dinah e tomar uma atitude antes que seja tarde.

****

Hoje fazia mais um ano que eu estava sem minha avó, sai de manhã sem dizer nada para meninas, para ser bem sincera eu sai de casa antes mesmo delas acordarem.

Não quis ir de carro, queria um tempo só para mim e minha solidão. Mesmo tendo as meninas junto a mim, não era a mesma coisa que ter minha avó comigo. Desliguei o celular, quem quisesse falar comigo iria ter que esperar.

Em passos lentos fui em direção ao lugar que minha avó tinha como morada agora, vendo pessoas seguindo suas vidas cada uma com seus problemas e felicidades, dizem que somos diferentes um dos outros, mas para mim tirando a parte física – rosto e estrutura óssea -, somos iguais; todos nós choramos quando algo bom acontece ou algo ruim, todos nós amamos, independente de ser algo ou alguém. Todos sentem saudade, todos nós vivemos em uma montanha russa de emoções, se alguém ainda não passou por alguma delas com toda certeza até o final da vida ira passar.

O caminho até lá é um total silêncio para mim, tento ser mais forte que minha vontade de chorar. Quero estar junto a ela quando deixar tudo sair, toda dor e lágrimas.

Passando entre alguns prédios para chegar mais rápido, pois as lágrimas presas já estão me causando uma dor desconfortável em minha garganta. Dói mais ainda saber que não terei os braços dela me apertando em um abraço me dizendo que tudo ficará bem.

Porque você não pode simplesmente por um curativo na dor.

****

Quando cheguei em meu destino, deixei todas as lágrimas presas saírem; já não suportava mais mantê-las sufocadas.

Sentada no chão em frente a lapide da minha avó, fiquei por horas sem dar importância se algo acontecia ao meu redor.

Me despertei para o mundo quando algumas gotas vindas do céu, começava a chover e eu nem me dei conta que estava a chover. Levantei-me e limpei algumas folhas que acabaram por ficar na minha roupa, olhei em direção a lápide

- É vó, acho que cada perda que eu tive foi uma lição que eu aprendi. Obrigada por estar ao meu lado quando precisava de alguém, desculpe se um dia desapontei você, mas somos todos humanos e humanos não são perfeitos. Cada dia que passa eu tento cumprir as coisas que prometi para você, espero que fique feliz em saber que estou lutando por aquilo que me faz feliz. Eu sempre vou amar você!

Limpei as lágrimas que ainda se encontrava nos meus olhos e segui para a saída, olhando uma única vez mais para trás em forma de adeus.

*****

Resolvi pegar um ônibus até a livraria ou o mais perto dela, a chuva ficou mais forte de uma hora para outra e o que eu menos estava precisando no momento era ficar doente.

Sentada no fundo do ônibus esperando o meu lugar de desembargue, tiro meu celular do bolso e o ligo, o visor assim que ligou por completo me mostrava exatamente quatorze horas e trinta e seis minutos, cinquenta chamadas não atendidas de Didih, quarenta e três chamadas não atendidas de Manibear, vinte e nove chamadas não atendidas de Casa.

Me dei conta que o melhor deveria ter sido eu pelo menos deixar um bilhete, mas naquele momento eu não estava pensando muito. As meninas vão querer meu fígado, mas tenho certeza que depois que eu explicar tudo elas iram me entender.

Vou ligar para elas para dizer que eu estou bem antes que elas me cortem os dedos.

-LAUREN MICHELLE JAUREGUI MORGADO, O QUE ESTAVA FAZENDO QUE NÃO ATENDIA ESSA MERDA DE CELULAR?

Acho que ligar para Dinah primeiro não foi uma boa escolha.

-Desculpa Dih, eu deveria ter lhe avisado que ira sair. Eu fui ver minha avó, hoje faz mais um ano.

Limpei uma lágrima.

- Eu sei Laur, nós queríamos estar com você. Poxa, estamos aqui por você! Ficamos preocupadas quando deu meio dia e você não atendia o celular e nem dava noticia.

-Dih, eu precisava ficar sozinha. Desculpa não avisar e nem atender o celular, mas eu simplesmente estava no automático, não vai se repetir eu prometo.

- Nós entendemos, mas da próxima pelo menos avisa. Onde você esta agora?

- Em um ônibus a caminho da livraria, preciso assinar uns papeis depois vou para casa.

-Você vai ficar doente, saiu sem o carro e está chovendo. Quando estiver com tudo pronto lá me avisa que irei te buscar, não quero minha menina doente.

-Obrigada por cuidar de mim Dinah. Eu amo você.

-Sabe que não tem que agradecer, você faria o mesmo por mim. Eu te amo branquela, e não esquece de me avisar quando for para ir te buscar.

-Tudo bem. Até daqui a pouco!

-Beijos.

Com mais alguns minutos no ônibus acabei por chegar a onde queria, a chuva tinha ficado um pouco mais forte, então parei sobre a proteção da parada. Não tinha ninguém lá além de um garotinho - deveria ter entre oito a nove anos- ele estava sem camisa, short sujo e rasgado e tinha sobre a cabeça um pedaço de papelão que tentava inutilmente deter a chuva. Deu-me um aperto no peito de vê-lo daquele jeito, o que será que a mãe dele fazia que não estava ali cuidando dele.

- Esta com frio ?

Perguntei chamando a atenção dele.

- Sim.

Ele não me olhava nos olhos.

-Onde estão seus pais?

-Meu pai eu não sei quem é – ele olhou para mim – Minha mãe me pediu para esperar aqui, ela foi falar com um moço no prédio há frente.

Olhei para o lugar indicado por ele, o prédio era um daqueles motéis vagabundos, logo entendi de que tipo de conversa a mãe dele foi ter.

- Tome aqui.

Disse lhe entregando meu casaco.

-Eu não posso aceitar, você vai ficar com frio por minha causa. Eu sou um homem e minha mãe disse que tenho que suportar um pouco de frio.

Não ligando para o que ele disse, coloquei meu casaco sobre seu corpo.

-Você não precisa se preocupar comigo, eu logo estarei em casa. – Ele sorriu para mim – E além do mais, você não precisa ficar com frio para provar que é um homem.

- Obrigada.

Tirei minha carteira do bolso e lhe dei todo dinheiro que tinha ali.

- Eu não pos..

-Pode sim, vá comer alguma coisa enquanto sua mãe não vem e o resto guarde para quando estiver precisando de algo.

-Você parece um anjo tia.

-Não sou um anjo, apenas faço o que acho certo. Vai ficar bem sozinho aqui?

-Sim, não se preocupe. Eu sou um homem, lembra?!

-Claro.

Acenei para ele enquanto enfrentava a chuva, não me importando de estar com frio ou me molhando. Com a alma mais leve segui meu destino até a livraria.



Pov. Camila



Gritos.





Acordar com gritos nunca é uma coisa boa, cocei os olhos e tentei escutar algo claro, porém apenas a voz raivosa do meu padrasto de fazia presente, era como um embolado de palavras saísse de sua boca.



Levantei apressada checando as horas, 6AM. Os gritos vinham da cozinha então fui para lá ver o que estava acontecendo.



Assim que pus meus pés no lugar vi meu padrasto xingando minha mãe que estava encolhida.



- VADIA, VOCÊ É UMA INÚTIL MESMO– esbravejou dando um soco na mesa.



- O que está acontecendo aqui? – perguntei e os dois me encararam, ele com raiva e ela com medo.



- Sai daqui



- Você não tem o direito de xingar e gritar com a minha mãe – falei em um momento de coragem



- Camila... sai



- Cala essas tua maldita boca, eu não aguento mais escutar você – ele gritou mais uma vez com ela e levantou a mão para lhe dar um tapa



- VOCÊ NÃO VAI BATER NELA – cheguei mais perto e puxei-a pelo braço



- Atrevida – rosnou para mim e logo me empurrou contra a bancada, gemi de dor pelo impacto – veio proteger a mamãezinha né?



- Para e pensa no que você está fazendo – falei mas ele pareceu não ligar, já disse que odeio bêbados?



- Fica quieta, essa vaca que você chama de mãe acha que pode mandar no dinheiro e me impedir de comprar mais bebidas.



- Ela pode, quem trabalha é ela, você não passa de um vagabundo – joguei as palavras para fora e em recompensa ganhei um tapa estralado na minha bochecha.



- Para de tentar se achar superior só porque trabalha em uma cafeteria de merda. Vocês duas são umas vadias que se acham com razão.



- O único vadio aqui é você – ele apertou com força meus dois braços e me ergueu um pouco do chão



-Não fale assim comigo, você não sabe do que eu sou capaz – sua voz saiu baixa e raivosa, logo ele me soltou e mais dois tapas fortes atingiram meu rosto



- Me bater não vai fazer de você menos fracassado e inútil, você é um verme desprezível. – suas narinas se inflaram e ele ergueu a mão novamente, porem agora com o punho fechado, fechei os olhos esperando pelo soco mas a voz fraca e chorosa de minha mãe veio antes.



- Já chega Juan, pelo amor de Deus largue ela, pegue o dinheiro mas largue ela - olhei para o lado e vi ela com a carteira estendida na direção dele



- A senhora não pode dar o dinheiro pra ele, a gente precisa pagar o aluguel e as contas – reclamei segurando o choro na garganta, tudo estava doendo, senti um soco no estomago, obviamente ele podia ter me destruído mas não o fez, o soco foi apenas o suficiente para me fazer ir ao chão gemendo de dor



- Da próxima vez que você falar algo, eu te mato – ele falou pegando a carteira e saindo dali logo em seguida.



Levei uma mão até o rosto e percebi que estava sangrando um pouco.



"Sorte de merda, mal me curei de uma surra e já levei outra".



Minha mãe sentou ao meu lado e alisou o lugar onde levei o soco



- Eu vou denunciar ele, esse monstro precisa ir preso – falei com a voz fraca e ela negou



- Não pode fazer isso, eu amo ele.



- Faça a sua escolha, ou ele ou eu. – ela me encarou e derrubou mais algumas lagrimas, seu silencio disse absolutamente tudo. – eu acabei de levar tapas por você, não é a primeira vez, mas se prefere perder sua outra filha pra continuar com esse idiota... Eu saio desta casa amanhã mesmo – com dificuldade me levantei do chão e fui para o quarto.



Deitei na cama e peguei meu celular.



[6:37 / Cabello]: Ari, sinto muito mas vou precisar me atrasar hoje, problemas em casa.



Enviei e fechei os olhos, esse pesadelo vai acabar.



Massageei meu rosto sentindo tudo arder, respirei fundo e peguei minha pequena caixa de primeiros socorros debaixo da cama, larguei-a em cima da penteadeira e me observei no espelho, a marca de 5 dedos em minha face, outro corte na boca e alguns arroxeados fracos que estavam se preparando para ficarem feios e visíveis.





Limpei o corte e passei um remédio, cobri um dos roxos com band-aid e passei maquiagem por todo o rosto tentando reparar o estrago. Meu celular apitou e eu fui ver o que era.



[6:50 / Ari] : Leve o tempo que precisar, espero que esteja bem.



Procurei em minha bolsa um remédio para dor e peguei um copo d'agua na cozinha. Arrumei minha mochila acrescentando uma muda de roupa limpa tendo em mente não voltar mais hoje, sai de casa com uma maçã em mãos já que a cafeteria já tinha aberto e eu não teria tempo para tomar café da manhã.



....



- Fico feliz que tenha escolhido finalmente sair de lá – Ariana falou enquanto me abraçava, o movimento tinha acalmado um pouco me dando tempo para explicar a razão dos curativos.



- Era a coisa mais lógica a ser feita, minha avó disse que eu posso morar com ela, não existem mais motivos para não ir. – suspirei enquanto me escorava no balcão



- Nossa casa estará sempre de portas abertas para você, Cam – Yvette falou enquanto passava a mão de leve em minhas costas



- Nossa? – perguntei e encarei o rosto das duas, Ariana abriu um sorriso.



- Yvette aceitou morar comigo.



Apesar da dor e dos vários motivos para chorar até desidratar me permiti sorrir, verdadeiramente feliz por elas.



- Eu nem acredito, isso é perfeito. Eu fico tão contente por vocês. – alguns clientes chegaram e eu fui anotar os pedidos.



A manhã passou tranquila, de tarde o movimento foi forte, Yvette teve que ir para a faculdade então estávamos em duas.



Quando meu expediente acabou pensei em ir ao parque, mas estava tão sem animo que decidi ir para a casa da minha avó.



Como sempre ela me recebeu com muito carinho, contei para ela o que tinha acontecido e que ia aceitar sua oferta, disse também que ia ajudar em todos os gastos da casa, Sofia ficou radiante por saber que iriamos morar juntas novamente. Ajudei minha abuela com o jantar e a pequena com o dever de casa, depois de tomar mais um remédio fui dormir tendo a certeza de que fiz a escolha correta.

Someday  ✏️ *Camren* Where stories live. Discover now