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[Todo este capítulo é um flashback do Ashton.]

Naquela noite a ideia de sairmos nem sequer foi minha e para dizer a verdade, por mim eu tinha ficado em casa. Ultimamente saíamos muito, bebíamos muito, drogávamo-nos muito e portanto, o meu corpo já andava demasiado cansado e eu só queria dormir. Porém eles insistiram, como sempre e também como sempre, eu acabei por ceder. Eu cedia sempre, diziam que eu era muito influenciável e talvez estivessem certos nisso, por muito que eu sempre negasse tal coisa.

A noite corria bem, muito bem até. O bar onde nós estávamos era um dos melhores da cidade e naquela noite estava a decorrer uma festa. As bebidas não paravam de ser pousadas sobre o balcão e rapidamente os copos iam ficando vazios, uns atrás dos outros. As gargalhadas eram também imensas e depois de bebermos mais do que era suposto, juntamo-nos todos na casa de banho daquele estabelecimento e as drogas que EU tinha trazido foram todas parar ao nosso organismo.

Posso dizer que o meu estado era péssimo, acho que pior era impossível, porém eu sentia-se bem. Realmente bem. Como sempre me sentia quando estava assim. Era como se fugisse à realidade na qual eu tinha de viver todos os dias e era bom sair da rotina. Não é sempre bom quando nos sentimos diferentes, nos sentimos realmente bem?

A noite já ia longa, o bar continuava cheio mas já nenhum de nós estava com vontade de estar ali dentro. Portanto, acabamos por sair para a rua. O ar fresco que embateu contra o meu rosto foi bastante agradável e um sorriso formou-se nos meus lábios. As vozes dos meus amigos começaram a fazer-se ouvir quando começaram a tentar decidir quem conduziria o carro que nos levaria para outro sítio ou então para casa. A maior parte, ou melhor, todos eles começaram a achar que devido ao estado em que nós estávamos devíamos ir a pé ou então apanhar um táxi. Porém, EU neguei, comecei a chamá-los de fraquinhos e outros adjetivos do género e como eles odiavam isso acabaram por fazer aquilo que EU disse. Combinamos quem iria conduzir o carro e depois, aos tropeções, seguimos até ele.

A viagem começou de forma normal e eu comecei a achar que a minha ideia tinha sido boa. Afinal eram apenas uns minutos, que mal poderia acontecer? Na minha cabeça nenhum, é claro. As gargalhadas preenchiam o carro assim como o som da música que vinha do rádio que tinha sido ligado por mim. Algumas vozes faziam-se ouvir atrás de mim, visto que eu estava no lugar do pendura, e as melodias mal entoadas chegavam aos meus ouvidos. As nossas cabeças estavam completamente alteradas, nós mal sabíamos o que estávamos a fazer devido a todo o álcool e às drogas que estavam no nosso organismo a fazer os seus efeitos.

De um momento para o outro parece que tudo mudou e que tudo aconteceu demasiado depressa. Tão depressa que mal consigo descrever aquilo que aconteceu mesmo em frente aos meus olhos. Num momento o carro seguia pela estrada e no momento seguinte este estava a subir para cima do passeio. Eu consegui ver uma rapariga mesmo à nossa frente e ainda abri a boca para gritar mas já era tarde demais. Ela tinha sido levada na frente. Tentei gritar para pararem o carro mas as minhas palavras não chegaram a sair da minha boca porque eu tinha perdido todas as forças que eu tinha para falar. Olhei pelo espelho retrovisor, vendo por entre as luzes que iluminavam as ruas uma pessoa estendida no chão e já imensas pessoas a surgir de todos os lados. Não conseguia ouvir os gritos que provinham da rua devido à música alta que tocava ainda no interior daquele carro, mas quase os conseguia imaginar na minha cabeça. Os gritos. O pânico. Tudo aquilo que nós tínhamos provocado. Tudo o que EU tinha provocado.

As nossas gargalhadas foram silenciadas a partir do momento em que aquilo aconteceu e a merda da música continuava a tocar, tão alta que parecia que ia fazer com que os meus tímpanos explodissem. Só queria que aquilo parasse, queria aquela música fora dali e queria nunca mais ter de a ouvir, porque eu sabia que a partir de agora sempre que eu ouvisse aquela música, eu iria recordar aquele momento. Ou melhor, nem era preciso a música para eu o recordar, pois já sabia que nunca mais na vida eu ia conseguir esquecer aquilo. Nunca mais eu ia parar de me sentir culpado pelo que tinha acontecido.

A culpa era MINHA. Apenas minha. Se EU não tivesse comprado drogas naquela noite nós não estaríamos num estado tão lastimável. Se EU tivesse feito logo o que eles queriam, nós não tínhamos entrado neste carro e nada disto tinha acontecido.

Se EU tivesse sido responsável neste momento não estaria no estado em que estou e a Valerie também não. As nossas vidas estão completamente arruinadas e toda a culpa disso é MINHA.


N/A: Este capítulo é mais pequeno que os outros, porque eu apenas queria colocar aqui o flashback e nada mais. Pronto, agora já está explicado como tudo aconteceu e porque aconteceu.

Eu vou de férias, amanhã, e vou estar fora mais do que uma semana. Vou deixar um capítulo nos rascunhos para vir cá publicá-lo a meio da próxima semana e depois volto a publicar quando voltar para casa (publico dia 31, talvez). Estas minhas publicações estes dias vão andar todas trocadas, mas foi a melhor maneira que arranjei para publicar durante as férias sem deixar isto muito tempo sem atualizar!

Recovery || a.i.Onde histórias criam vida. Descubra agora