Cap. 9: Mery vs Mundo

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Ao outro dia

Acordei com uma dor de cabeça tremenda. Mal conseguia abrir os olhos. Levantei-me e dirigi-me à casa de banho. Abri um armário branco e espelhado na parte da frente, que se encontrava pendurado em cima do lavatório, e tirei um comprimido para a dor de cabeça. De seguida, preparei-me e fui ter com o meu pai.

Encontrei-o na sala de comando:

-Então, o que temos hoje?- disse eu.

-Pergunta ao Sean. Já lhe dei as instruções.- disse o meu pai.

-E porque haveria de perguntar ao Sean?

-É o que fazem os soldados: perguntam aos seus tenentes o plano.

-O que é que queres dizer...- de repente percebi. Respirei fundo e gritei.- O Sean é o tenente? O tenente era eu!

-Eras...mas já não és.

-Tu trocaste-me pelo Sean?

- Sim...

-Sabes o quanto me custou subir aqui dentro? Foi difícil especialmente por seres o meu pai: eras mais duro comigo do que com os outros. Sabes quanto tempo demorei a subir? Eu sou mais experiente que ele, trabalho aqui há mais tempo, sou mais cautelosa...

-E mais imatura!- interrompeu o meu pai.- Ele não deixou escapar uma matilha inteira de lobisomens.

-Tu sabes que eu não fui a responsável.

-Isso não interessa: tens que ser penalizada. Imagina que todos começavam a fazer o mesmo...

-Espera aí, é nisso tudo que isto se resume: tu queres fazer de mim um exemplo... Claro que é isso... QUERES FAZER DA TUA PRÓPRIA FILHA UM EXEMPLO!

-Tu sabes bem que o seres ou não minha filha não tem nada a ver...Antes de seres minha filha és um soldado.

-Para ti tudo se resume a isso: seres o comandante perfeito com a carreira perfeita. Não importa o quê nem QUEM pisas.

-Já chega!- gritou ele batendo em cima da mesa.- O Sean é o teu tenente e pronto!

-E se eu não aceitar isso.- gritei.

-Então podes sair!!!- gritou ele.- Não precisamos de ti.

Não falei mais. Apenas sai pela porta e me dirigi ao quarto de Sean. Bati na porta com quanta força tinha três vezes seguidas. Ele abriu-a rapidamente e eu entrei logo. Vi uma rapariga sentada em cima da cama dele e gritei para a rapariga:

-Desaparece daqui!!!

Ela rapidamente se foi embora. Sean, franzindo a testa, apenas gritou:

-Posso saber o que se passa? Não tens o direito de expulsar ninguém do meu quarto.

- E tu não tinhas o direito de me tirar o meu posto.- gritei eu.- Sabes o quanto me custou subir? Ainda mais sendo rapariga?

-Eu não te tirei nada... Ele foi-me dado...

-Mas tu aceitaste! Ambos sabemos que não estás preparado!

-Não: tu achas que sabes que eu não estou preparado... Eu acho-me preparadíssimo.

-Nota-se: no primeiro dia de tenente levas uma rapariga qualquer para a cama...boa preparação.

-Não é uma rapariga qualquer...

-Ai não? Como se chama?

- Hm...Leila...- gaguejou ele.

-Leah!- corrigi eu.

-Não interessa...Agora já não importa.

-Para ti seres tenente nem sequer é importante. Para mim é tudo...

-Sabes que mais: Eu agora sou teu superior e não vou aturar mais isto...Estás de castigo... Vais limpar todas as armas existentes nesta cede.

-Podes esperar sentado...- disse eu abrindo a porta do quarto dele e saindo.

Fui até ao meu quarto e comecei a fazer as malas. Senti alguém atrás de mim. Virei-me e vi o John.

-Não é boa altura!- disse eu.

-Na verdade, é a altura perfeita.- disse ele sorrindo.- Eu sei de um hotel longe o suficiente daqui para não seres incomodada mas perto o suficiente para poderes voltar.

-E porque haveria de confiar em ti?

-Não tens que confiar...Mas também não tens mais lugar nenhum para onde ires.

-Como é que sabes que estou de saída? - aquele olhos pretos olharam para mim antes de se fixarem na mala atrás de mim.

John sorriu e disse:

-Estás a fazer as malas e nós conseguimos ouvir uma mosca a quilómetros de distância...Achas que não conseguiria ouvir - te gritar a uns míseros metros?

Não pude evitar rir.

-Obrigado pela oferta, mas não vou aceitar. Era preciso estar muito desesperada para aceitar a ajuda de um vampiro.

-Vais sair do sítio onde cresceste, não tens família e não sabes para onde ir... Não estás desesperada?

-Na mouche meu caro.- foi a vez dele se rir. Eu continuei.- Talvez aceite ir...

-Talvez?

-Tens que prometer que não levas mais vampiros para esse tal hotel... Não me quero dar com vocês. E só não te mato porque preciso de ti.

-Parece justo. Combinado?- disse ele esticando a mão.

-Combinado.- disse eu apertando-a.

-Encontramo-nos lá fora. Estarei num Mustang preto.

-Ok.

-Até já.- disse ele sorrindo.

-Até já.- disse eu sorrindo.

Ele saiu, pela janela, e eu fechei as malas. De repente, alguém entra no meu quarto sem bater à porta. Olhei para eles, após colocar a minha mala no chão, e vi o meu pai e Sean.

-Posso saber porque estão no meu quarto sem autorização? - disse eu.

-Vai-te habituando!- disse Sean.

-Posso saber porque ignoraste a ordem de Sean?- gritou o meu pai.

-Claro.- disse eu sorrindo.- Pelo mesmo motivo que pretendo ignorar todas as suas ordens: não entendo "queixinholandês".

-Não admito faltas de respeito para com o teu superior. Pede desculpa imediatamente.- ordenou o meu pai.

-Claro.- virei-me para Sean.- Peço desculpa...por não ter feito isto há mais tempo.- peguei numa jarra, tirei-lhe as flores vermelhas e verti a água em cima de Sean.- Assim está melhor.

-Para castigo, não só vais limpar todas as armas da cede como todo o chão!- gritou o meu pai.

Peguei nas malas e, antes de sair pela porta e não reparando que levava as flores retiradas da jarra numa mão, gritei:

-Fá-lo tu!

Atravessei a porta, saí da cede e procurei um Mustang preto. Quando o encontrei, coloquei as malas na bagageira aberta, fechei-a e entrei no carro onde me esperava um John sorridente que, mal me viu, arrancou.

Glossário:

Na mouche - expressão francesa para "em cheio".

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