Christopher ficou boquiaberto.- Mas você nunca cozinhou, enquanto estávamos casados!
- Isso não tem nada a ver com quando estávamos casados - ela retrucou. - É uma simples proposta de negócios: seu quarto de hóspedes em troca de meus serviços corno cozinheira. O que acha?
Ele teria lhe cedido o quarto por nada. E, que diabo, no dia anterior estava ansioso por ver cortados os últimos laços que os uniam e acabar de uma vez com aquilo. Porém, algo havia mudado nas últimas vinte e quatro horas. Se fosse honesto consigo mesmo, admitiria que a perspectiva de tê-la morando ali novamente era algo agradável, e mesmo excitante.
- Posso lavar a roupa, também - ela juntou, quando Christopher manteve o silêncio.
Uma cozinheira e lavadeira permanentes, o sonho de qualquer homem. Exceto o dele, e não com Dulce. Embora Christopher apreciasse as raras ocasiões em que ela cozinhava para ele, pois sabia que o estava fazendo para agradá-lo, jamais esperara que fosse sua empregada. Certamente não iria gostar que ela preparasse as refeições como uma obrigação.
- Você pode ficar aqui pelo tempo que precisar - falou finalmente. - Mas sem cozinhar ou lavar a roupa. Você nem teria tempo para isso.
- Não se preocupe, eu arranjo tempo. Além disso, insisto em pagar-lhe pela hospedagem.
- Não concordo - ele declarou com firmeza. - Você não tem qualquer obrigação comigo.
Dulce o fitou, pensativa, por um instante:
- E concorda se eu cozinhar para mim mesma?
Dulce era esperta, Christopher pensou, com um sorriso. Não importava o que ele dissesse ou fizesse, ela iria cozinhar. E, uma vez que a comida estivesse na mesa, ele não iria recusar-se a comer.
- Sim, você pode cozinhar - concordou, afinal. Tirou a carteira do bolso traseiro e, puxando várias notas, deixou-as sobre a geladeira. - Aqui está o dinheiro para as despesas. - Deixaria as opções abertas para ela.
Se Dulce precisasse de trocados para o táxi, ou qualquer outra coisa, esperava que tivesse o bom senso de usar o dinheiro. Era mais do que evidente que ela jamais o pediria para ele. Feito o acordo, Dulce serviu o espaguete, acompanhado de salada e pão de alho, enquanto Christopher abriu uma garrafa de vinho.
Comeram no balcão da cozinha, dispensando a formalidade da mesa da sala de jantar. Aos poucos, foram relaxando e conversando sobre assuntos impessoais. Dulce contou-lhe sobre a viagem à Europa e Christopher falou-lhe sobre um novo cliente, um fabricante de joias modernas que desejava fotos exóticas e originais.
- Parece o tipo de trabalho de que você gosta - Dulce comentou. - Imagino que não precise de modelos.
Ela jamais lhe pediria um favor, Christopher pensou, embora estivesse à procura de negócios.
- Até gostaria que o orçamento incluísse a contratação de modelos, mas não é o caso - respondeu.
- Bem, você não pode me culpar por perguntar - ela falou. - Mas é que temos uma nova modelo que está tentando uma oportunidade. Ela até poderá trabalhar de graça - sugeriu.
- Suponho que tenha uns dezoito anos - Christopher retrucou.
- Dezessete, na verdade. Você está pensando em alguém mais madura para posar com as joias?- Madura, exótica e sofisticada - ele respondeu. - Alguém com a sua aparência seria perfeita. Ela riu:
- Eu sou mais do que madura. Há muito tempo passei da idade de posar. Atingi meu limite aos vinte e quatro anos, lembra-se? Não fico em frente a uma câmara desde que abri a agência.
- Mas bem que poderia, se quisesse. E não acho que tenha passado da idade, aos vinte e oito. Acredite, você continua a mesma.
Christopher não pretendia que seu comentário soasse como uma sugestão, mas foi o que aconteceu. Dulce parou por um instante, o garfo suspenso no ar. Depois, pôs a comida na boca e mastigou lentamente, antes de falar:
- Aí está uma maneira de eu lhe pagar.
- O quê? Ouça, Dulce, eu não quis insinuar nada. Posso perfeitamente tirar as fotos das jóias sem uma modelo.
- Não, eu insisto. Poderíamos fazer uma sessão de fotos à noite, fora do horário do expediente, assim não atrapalharia seus negócios. Seria uma ótima forma de lhe retribuir.
- Torno a repetir, Dulce: você não me deve nada.
- Mas eu iria sentir-me melhor - ela argumentou. - Podemos fazer algumas fotos divertidas, que deixarão seu cliente maluco.
- Vou falar com ele, então, para ver se está interessado.
Christopher assentiu, embora suas palavras não refletissem os sentimentos desencontrados que o envolviam. Um milhão de lembranças passaram por sua mente, lembranças de outras vezes em que fotografara Dulce.
Reviu as imagens dela: séria, sexy, inocente, rindo. Tais lembranças o levaram a algo em que há muito tempo não pensava: o dia em que se encontraram pela primeira vez.
Flashback On Ela estava iniciando a carreira de modelo, e seu agente a mandara para o estúdio de Christopher, para uma série de fotos promocionais. Ele imediatamente concluíra que Dulce era a mulher mais naturalmente sensual que já fotografara. Enquanto focalizava suas mãos, suas pernas, a curva de seu pescoço, os lábios úmidos, ele a desejava com uma intensidade desconhecida até para si mesmo. Conversando durante as fotos, ela lhe revelara bastante sobre a própria vida. Viera de uma cidadezinha na Pensilvânia, determinada a conquistar Nova York com seu esforço e trabalho. Apesar de haver muitos homens que adorariam patrocinar sua carreira, Dulce jamais aceitaria tal ajuda. Christopher admirara sua força, seu senso de ética e sua independência. Porém, tinha de se lembrar de que ela era apenas uma criança, pois o empresário lhe dissera que Dulce tinha dezoito anos.
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Try Again (Vondy-Adaptada)
FanfictionEles se conheceram quando ela ainda era adolescente e acabaram casando-se muito jovens , após alguns anos eles decidem assinar o divórcio . Ele um fotógrafo conceituado, ela uma agenciadora de modelos reconhecida internacionalmente. Ela quando volta...