XXXVI - Frederico Bertolini

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Frederico Bertolini




Minha mãe nunca me ensinou a consolar uma garota em crise, nunca me disse que eu não precisava de palavras bonitas, apenas de um abraço verdadeiro e apertado, e, principalmente, nunca me explicou que quando ela estivesse em paz, ela dormiria em meus braços.

Essas eram coisas que eu nunca soube, porém que eu havia acabado de aprender com Pandora Duncan.

Ela soluçou e tremeu um pouco até se acalmar, finalmente, dormindo.

Precisei suspirar aliviado, não sabia o que fazer com aquilo, pois não havia o que dizer que melhorasse aquela situação.

Eu queria matar Daniel Travler, contudo não queria matá-lo por tê-la matado, pois ela estava viva, então seu plano não havia funcionado, eu queria matá-lo por ele ter partido o coração dela daquela maneira.

De cafajeste para cafajeste, eu entendia o que estava fazendo, entendia as consequências de partir um coração, contudo eu jamais chegaria a este ponto - não, pior, eu jamais faria com que uma garota se apaixonasse por mim para usá-la.

Eu sentia nojo dele, pois era por causa de homens como ele que todos nós tínhamos a árdua missão de mostrar que... a quem eu estou mentindo? Nunca fui um bom partido. Nunca prestei. Nunca mereci amar, muito menos ser amado.

Eu não costumava ligar para o que falavam de mim, pois eu queria ter a fama que tinha, pois... eu iria morrer, ao menos faria cada segundo que eu tivesse valer a pena.

No entanto, agora, agora que minha morte estava ainda mais próxima de se concretizar, eu percebi que não estava pronto para morrer, muito menos para deixar minha vida como um livro de assuntos inacabados.

Senti as lágrimas de Pandora ainda escorrendo pela minha blusa e eu quis limpá-las, contudo não queria acordá-la, então apenas a deixei chorar todas as lágrimas de dor que ainda existissem dentro de seu ser.

Eu tinha muito que falar para ela, principalmente que ele não valia a pena e que eu o mataria assim que tivesse a chance, contudo sabia que aquela não era a melhor opção, pois ela não precisava ouvir aquilo.

Por que ela se apaixonou por ele?

Talvez essa fosse a mesma pergunta que Elisabeth se fez quando eu lhe contei sobre Elena, a filha do delegado. Por que ela se apaixonou por mim?

Não havia uma resposta concreta, apenas que eu a quis, então a conquistei, porventura Travler era um homem convincente e conseguiu o afeto de Pandora da mesma tola maneira.

Subitamente ela se moveu e se sentou, arrancando-se do meu abraço em um brusco movimento, enquanto colocava a mão no peito, bem no local que Travler enfiou a adaga.

Pouco a pouco ela voltou a respirar com calma e voltou a chorar com seus olhos inchados das lágrimas anteriores.

Não precisei ser um gênio para saber com o que ela havia sonhado.

- Eu nunca mais vou amar, nunca - suas secas palavras não me surpreenderam, apenas me deixaram inquieto.

O ponto de luz milagroso disse que se ela me amasse, tudo poderia ficar bem no final, assim como o gato duas caras disse, contudo eu não tinha brios o suficiente para fazê-la se apaixonar por mim depois de tudo o que passou.

Garotas frágeis eram facilmente manipuláveis, pois elas precisavam de carinho e atenção e se eu entregasse isso a ela, em menos de uma semana ela estaria apaixonada por mim, todavia eu jamais faria isso com Pandora.

PseudomágicaWhere stories live. Discover now