XLIX - Pandora Duncan

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Pandora Duncan

Nunca pensei que discar um telefone seria tão difícil quanto me parecia naquele pequeno instante que eu ouvia o tu-tu-tu da ligação em espera.

Desliguei, com medo que alguém pudesse atendê-la e eu tivesse que gaguejar uma desculpa, tropeçar em argumentos, e desligar com o coração saltando do meu peito, cheio de vergonha.

Passei o dedo, novamente, pela lista telefônica que eu encontrei no orelhão e escrevi o número em questão em meu pulso, para ligar para ele quando eu tivesse coragem — algo que demoraria muito tempo, pois minha cota destemida havia acabado há algumas semanas, quando eu fui e voltei de uma aventura que nem mesmo Dante Alighieri sobreviveu.

Andei de volta para o hotel em que meu pai e eu estávamos hospedados, afinal ele estava me levando junto em suas viagens de negócios para conhecer seus fornecedores, enquanto pensava mais uma vez no que eu poderia falar quando fizesse aquela ligação.

Eu subi até o quarto, ainda em devaneios de pensamentos, abri a porta e me joguei na cama. Soltei um suspiro, porém nem sabia pelo que eu estava suspirando, pareceu forçado e ao mesmo tempo necessário. Tinha como isso acontecer?

Revirei meus olhos e me sentei na cama, encarando o telefone, vendo-o desafiar-me a ser forte ao menos uma última vez. E foi o que eu fiz.

Andei até ele, coloquei a minha mão em seu cabo, retirei-o do seu suporte e logo comecei a discar. Queria desfazer esse nó que havia se formado com culpa e frustração dentro de meu coração.

Respirei fundo apenas uma vez, pois era apenas um fôlego que eu precisava para ter essa conversa inteira.

— Oi, tudo bem? Eu não estou, mas eu espero que você esteja. Como está a faculdade? As aulas ficaram muito difíceis ou você continua tirando tudo de letra? Como está Jason e Elisabeth? Vão se casar nesta primavera, pelo que eu soube, deseje muitas felicidades por mim. Encontrou com minha mãe e irmã? Elas estão bem? Voltaram para casa? Diga que eu estou com saudades — senti lágrimas ameaçando escapar dos meus olhos.

Certo, apenas um fôlego não seria o suficiente — e eu sabia disso desde o começo, apenas estava em negação.

— O que eu queria mesmo, com toda essa enrolação e infinita embromação, é me preparar psicológica e emocionalmente para esta conversa, mas eu não sei se eu consigo, Fred, eu tenho medo do que você possa falar, de que você vá me julgar...

Lágrimas rolaram de meus olhos, mas já eram esperadas, pois quem conseguiria não chorar?

— Eu fugi de você. Eu estou com medo dos meus sentimentos, medo de eles serem falsos ou apenas mais uma manipulação. Se eu te amar, quero amar-te por inteiro, por quem tu és, e não porque alguém me disse para amar-te. Você merece um amor de verdade, e não uma coisa falsa como o que eu te ofereceria.

Solucei e apoiei-me contra a bancada.

— Nós somos um casal improvável, bem longe de tudo o que as pessoas poderiam ter imaginado, mas nós teríamos funcionado, pelo que eu penso. Não é aquela história de os opostos se atraem ou mentes brilhantes tendem a se aproximar, pois eu não acredito em nada disso, mas eu acredito em amor, e se é amor o que nós sentimos, então eu acredito que poderíamos ficar juntos.

Eu sorri, lembrando-me de quando ele disse que me amava.

— Você não sabe, ou eu acho que você não sabe, mas você tirou minha virgindade. Para mim isso é algo muito grande, algo que significou muito para mim, mas eu tenho medo que eu seja apenas mais uma na sua lista, pois você me amou há sete semanas, mas ainda me ama? Vai me amar por mais quantos dias até desistir de mim? Eu tenho medo de te amar e ser deixada de lado. Ser trocada.

Coloquei a mão em meu rosto esperando, inutilmente, que ela fizesse minhas lágrimas pararem de escorrer pelos meus olhos.

— Eu preciso de mais algum tempo. Não sei o quanto ou se algum dia eu ficarei bem, afinal... Eu perdi muita coisa nos últimos tempos. Minha magia, minha avó, minha vida, meus amigos, minha irmã, minha rotina, minha verdade e... e você, pois por um momento eu pensei que eu tinha te perdido para sempre. E foi nesse momento que eu realmente me conectei com minha magia e... e agora ela se foi. Eu me sinto quebrada. É como se para consertar algo de errado, o preço a ser pago fosse alto demais.

Desatei em chorar, ajoelhando no chão e sentindo meu corpo tremer em soluços não pronunciados.

— E agora, Fred? Será que nossos sentimentos só não vieram no momento errado? Será que...? Eu não sei! Não sei mais de nada! A única coisa que eu sei é que eu preciso de um tempo, e que você... eu te amo, Frederico. Eu fugi porque eu te amo, e não porque eu não amo.

Retirei o telefone de meu ouvido e olhei para o seu cabo desconectado do aparelho.

Foi bom dizer tudo aquilo, apenas imaginando que ele saberia de tudo isso, mas saber que ele ainda não sabe... só me fazia repensar em todo este meu discurso e me comprovava que eu não estava pronta para encará-lo.

Não tão cedo.

E se tudo isso não fosse verdade? E se Virgílio só estivesse brincando com minha mente por eu ter destruído seus planos? E se Beatriz quisesse se vingar de mim?

Eu não sei, realmente, não sei.



A/N:

Ai Pan, tolinha <3



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