Capítulo 10 - Compromisso

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Vincent estava rindo. Não exatamente um riso, mas gargalhadas que acompanhavam os goles naquela garrafa que aos poucos ia chegando à metade. Outros homens se debruçaram na fonte e muitos curiosos e turistas passaram a acompanhar aquela festança estranha enquanto alguns garotos entravam na fonte também, cantarolando e jogando água nos mais velhos.

Um senhor roliço e muito animado chegou falando alto com uma caixa de garrafas de vinho, entregando algumas para os homens, abrindo rolhas e aumentando as risadas. Claro que eu tentava acompanhar, mas a água fria, o fundo lodoso da fonte e seus milhares de moedinhas eram mais distrativas do que tentar compreender aquele francês regional e rápido que todos falavam.

Em dado momento me estenderam uma mão e eu aceitei, cruzando olhos rapidamente com um homem que era claramente um turista — um tipo alemão, claro e de olhos rapinos, um sorriso alegre e misturado com um pouco de piedade pela minha figura ensopada.

— Obrigado.

— Disponha — ele me soltou quando consegui me apoiar na beirada de pedra e não demorou a sumir entre os homens, dando lugar ao animado Vincent e sua garrafa pela metade.

— Vai me perdoar, rapaz? Um banho nos ventos de Quatrevent, para atrair prosperidade e direcionar as vidas. Um batismo de água fresca... E vinho!

Claro. Não bastava estar ensopado até os ossos, no centro de uma atração turística estranha e um ritual regional desconhecido. Ainda tinha que levar um banho de vinho tinto e foi exatamente isso que os homens fizeram com todos que estavam dentro da fonte, derramando a bebida daquelas garrafas e enchendo o ar do perfume doce das uvas, atraindo gritos e aplausos animados de todos os espectadores que se divertiam.

No final acabei rindo daquilo. Rindo de estar dentro de uma fonte de vinho e circulado de franceses cantarolando e servindo a bebida dos deuses diretamente das garrafas. Era uma festa estranha, um povo que fazia dos detalhes um motivo de sorrisos. E acabei invejando todos eles.

Por um segundo fiquei observando aqueles rostos, de meninos a homens velhos e grisalhos, que riam completamente molhados ou manchados do roxo das uvas, que se abraçavam em grupos de amigos e arriscavam tenores, que lançavam beijos aos turistas que passavam; peguei-me pensando se merecia fazer parte de tudo aquilo. Se Foxx teria participado da festa e estaria rindo ou se apenas Frank Brightview era capaz de sobreviver em Quatrevent. Uma pergunta sem resposta.

Duas largas carroças de madeira foram se aproximando da fonte, puxadas por um par de cavalos cada. Os carros estavam enfeitados com lavandas e fitas e aos poucos os homens foram lotando os espaços, ainda carregando garrafas e cantando alto.

Vincent bateu no meu ombro com força e recebi um abraço pela metade antes de acabar sendo puxado para fora da fonte dos ventos. Tudo que ele fez foi dar uma risada mais discreta agora, olhando a situação lastimável das minhas roupas pingando vinho tinto.

— Agora você é um morador de Quatrevent, Frank. Batizado na fonte pelos ventos e pelos homens com uma das melhores garrafas de vinho da minha Domaine. Hoje é um dia muito especial, rapaz. Um dia de celebração e de felicidade e eu quero te pedir uma coisa. Acha que pode arcar com as consequências?

Vincent, meu velho... O que mais ando fazendo é arcar com consequências.

— Eu sou uma pessoa indicada para esse pedido especial?

— A mais indicada, meu rapaz! Eu disse que tenho bons instintos sobre você — cutucou minhas costelas com o cotovelo, sorrindo um pouco mais enquanto caminhamos na mesma direção dos outros, diretamente para uma daquelas carroças. — Quero que você seja meu braço direito esta noite.

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⏰ Last updated: Aug 17, 2018 ⏰

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