12 - O SINAL

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Quando vejo ela, não consigo descrever o nível de raiva que passa pelas minhas veias.

— Oi — ela sorri pra mim, descaradamente.

— O que você quer? — sou curto e grosso.

— Eu vim falar sobre o James — sua voz é tranquila e isso me deixa ainda mais irritado.

— O quê? Veio se vangloriar por ele ter escolhido você? — faço um grande esforço para engolir as lágrimas.

— Sobre o que você está falando? — ela pergunta, sem saber que os vi.

— Vocês não precisam mais esconder, eu vi com os meus próprios olhos vocês dois se beijando hoje mais cedo.

— Nossa! Nem sabia que você tinha ido pra escola hoje — ela parece surpresa, mas arrependida nem tanto. — Mas você viu tudo? Você viu o que aconteceu depois?

— O quê? Vocês dois transando? — digo sem pensa, com raiva.

— Não, por favor. Você pode pensar mal de mim, mas não do James, não antes de eu explicar tudo que aconteceu.

As palavras dela me despertam interesse. Quero ouvi-la. Lá no fundo ainda tem uma esperança de que tudo tenha sido um mal entendido, mas para tentar preservar o meu psicológico, imagino que só quero ouvir para saber até aonde vai a sua cara de pau.

— Fala — me sento no sofá de frente pra ela e miro bem nos seus olhos.

— Você deve ter ouvido fala que eu fui passar umas semanas na Europa. Então eu voltei ontem e quando cheguei na escola hoje fiquei sabendo que você e James estavam namorando, aquilo mexeu com o meu ego. O James é um gato, e sem querer ofender você, mas um cara bonito como ele não poderia ser gay, não poderia está apaixonado por você, não antes de experimentar o meu beijo. Então eu vi ele sozinho no corredor e roubei um beijo, mas foi bem rápido, durou menos de um minuto, porque logo em seguida ele me afastou — ela parece decepcionada. — Ele me disse em alto e bom som que a única boca que pode tocar na dele é a sua, é a boca do Joe.

Isso mexe comigo, me pega desprevenido por mais que eu desejasse isso por dentro.

— Aquilo mexeu comigo — ela continua. — Ninguém nunca tinha me rejeitado daquele jeito, então eu decidi que precisa falar pra você, dizer o quanto seu namorado é especial. Você tem sorte de ter ele, porque nenhum outro garoto dispensaria uma gostosa como eu, se não estiver amando de verdade.

Não sei se eu sinto raiva ou pena dela, pela pessoa que ela é, e pela situação que ela causou.

— Se isso é realmente verdade...

— É — ela afirma.

— Então eu agradeço por me avisar — sou sincero, porque, por mais que ela tenha, mesmo sem saber, bagunçado ainda mais a minha cabeça em relação ao James. Ela acabou limpando a bagunça que fez.

A única coisa que eu quero e preciso agora é saber o que está acontecendo com o James, fazer o que tentei fazer hoje mais cedo na escola e não consegui.

— Mãe preciso do seu carro, tenho que fala com o James e deixei o meu na escola — digo, me levantando do sofá enquanto ela chega na sala com uma toalha.

— O senhor não vai sair daqui. Não antes de tomar um banho quente e fazer um novo curativo nos seus pontos e comer alguma coisa.

Sabendo que não tenho outra opção, concordo e subo correndo para o banheiro, tomo um banho rápido, depois ligo pro James enquanto minha mãe faz o meu curativo, mas ele não me atende. Minha mãe me entrega um sanduíche que vou comendo no caminho. Entro no carro da minha mãe e começo a dirigir. Já é noite, James deve está em casa e é pra lá que vou.

Chegando à casa do James, bato na porta e espero. Dessa vez quem me atende é o Sr. Cameron.

— Olá Joe — ele me cumprimenta gentilmente.

— Oi, o James está?

— Ele não falou pra você? — ele me pergunta, surpreso.

— O quê? — pergunto, sem saber sobre o que ele se refere.

— Entre — ele me convida e eu entro na casa.

Assim que coloco os pés dentro da sala, é impossível não notar a bagunça e a grande quantidade de caixas. Isso me faz lembrar de dez anos atrás quando os pais do James se preparavam para mudar de cidade. O meu coração aperta.

— Bem, se o James não contou a você, eu vou conta. Você salvou a vida dele e agradeço por isso, e por esse motivo acredito que você tenha o direito de saber — eu ouço atentamente a cada palavra. — No dia seguinte ao ataque que aconteceu a vocês no cemitério, o James recebeu um convite para estudar em uma escola de artes desenvolvida especialmente para deficientes visuais. Ele aceitou no mesmo dia, e como a escola fica no mesmo país do meu trabalho, eu e a Sandra não temos mais motivos para ficar aqui. Eu só fico chateado por ele não ter lhe contado nada.

A notícia cai como uma bomba no meu colo.

— E onde ele está agora? — pergunto.

— Ele e a Sandra foram na frente, eu vou ficar para arrumar os últimos detalhes e viajo para Londres amanhã. Eles saíram daqui faz uns trinta minutos, o voo deles é daqui a duas horas.

— Obrigado — sussurro, destruído novamente.

— Joe, eu não sei direito o que aconteceu entre vocês, mas eu estava gostando cada vez mais de vocês dois juntos. Sinto muito — ele lamenta antes que eu possa sair.

— Eu também — sai quase sem voz da minha boca. Vou direto para o carro e começo a dirigir sem destino, derrotado.

Não aguento mais essa montanha russa de emoções que está acontecendo, são muitas coisas em poucos dias. Eu não sei mais o que pensar, ou o que fazer.

Enquanto dirijo sem rumo, chorando muito, não percebo que entrei na faixa contraria e quando faço uma curva na estrada, dou de cara com um caminhão vindo na direção do carro. Seus faróis cegam a minha visão, e eu sinto que a morte está perto de me abraça, mas por alguma força maior eu consigo desfiar o carro, batendo ele em uma das árvores na floresta do acostamento.

O caminhoneiro fica assustado e foge, mas eu estou fisicamente bem. Já o meu psicológico com esse susto só piora e muito. Eu saio do carro chorando de soluça, corro pra dentro da floresta, querendo que essa agonia passe, desejando que todo esse pesadelo acabe. Corro, corro e corro até tropeça e literalmente rola colina a baixo.

Apesar de alguns arranhões, continuo bem fisicamente. A minha vontade é de ficar aqui deitado no chão para sempre, mas começo a reconhecer o lugar e vou me sentando. Foi exatamente aqui que eu e o James estivemos anos atrás, quando só tínhamos sete anos e enterramos a nossa caixa do tempo.

Lembro como se fosse hoje, nós dois descendo essa colina com a caixa nas mãos; o James cavando o buraco com a pá do pai dele; e da promessa que nós dois fizemos naquele dia "— Nós temos que prometer, um para outro, que só vamos abrir essa caixa juntos e que nós seremos amigos para sempre não importa o que aconteça."

Imediatamente começo a cavar ao meu redor com as próprias mãos. Lembro que o buraco que fizemos não era muito fundo, e a terra está molhada da chuva de mais cedo, o que me ajuda a encontrar a caixa rapidamente.

Ela continua intacta, toda envolvida pelas sacolas plásticas. À segura-lá nas minhas mãos, percebo que isso é um sinal. Um sinal para eu ir atrás do James e não deixar ele ir embora para longe mim outra vez.

Além dos seus olhosWhere stories live. Discover now