Capítulo 21

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Juntei meu braço colado ao corpo, Christian e eu nos entreolhamos assustados, e viramos lentamente. Três criaturas de grandes olhos pretos, uma boca de lábios acinzentados com braços maiores que as pernas, gordos, com pelos finos pelo corpo todo, que não passavam da altura de minha cintura, estavam parados ali nos observando.

_O que pensa que está fazendo? - o primeiro repetiu a pergunta.

_Pegando as frutas para Sanoj - respondi, desejando que eles tivessem medo do grande dragão.

_Acho que as pode levar assim? - perguntou o segundo - antes terás que fazer um sacrifício.

_Qual? - perguntou Christian.

_Nós dar algo que ama - respondeu o terceiro.

_Não vou dar meu furão - contestei.

Os três focaram seus olhos em Valente.

_Não queremos essa criatura asquerosa - responderam os três em um coro.

_Então o que querem? - perguntei impaciente.

_Seus cabelos - responderam os três.

Ri histericamente por alguns segundos, pensando no que eles haviam acabado de me dizer. Eles me deixariam careca?

_Para que três criaturas horrorosas querem com meu cabelo? - perguntei sarcástica.

_Criaturas horrorosas? - perguntou o primeiro furioso, ele rosnou por alguns segundos, depois se contorceu violentamente.

Ele agora estava na altura de meus ombros, seus olhos eram vermelhos, suas presas não cabiam em sua boca, suas mãos adquiriram garras afiadas.

_Carolyn acho melhor não irritar um Drept - sussurrou Valente em meu ouvido - essas criaturas quando desafiadas e irritadas se tornam incontroláveis e muito violentas.

_Você sabe o que significa Drept? - perguntou o primeiro ainda rosnando assustadoramente.

Neguei com a cabeça.

_Matador - respondeu o segundo.

_Acho melhor você fazer o que eles estão mandando - falou Christian se aproximando de mim.

_Mas nem morta! - exclamei - nunca que vou dar meu cabelo para essas criaturas. Porque vocês não pegam o cabelo do rapaz aqui? - sugeri apontando para Christian.

Os três avaliaram Christian.

_Ele não usa o colar - responderam - quem deve fazer o sacrifício é a grande escolhida, não seu acompanhante.

Por alguns segundos vi na expressão de Christian o alivio.

Me sentindo derrotada, entreguei Valente a Christian, me ajoelhei para que as criaturas pudessem tocar meu cabelo. Minha visão ficou borrada por conta das lagrimas que se formavam em meus olhos. O primeiro voltou a seu tamanho normal se juntando aos outros ao meu redor.

Fechei meus olhos, não poderia presenciar esse momento. Meus cabelos eram a única coisa da qual me orgulhava em toda minha vida. Por culpa deles tive várias discussões com a diretora do orfanato durante o surto de piolhos, ela queria que eu os cortasse de qualquer forma, mas me mantive firme, não cedi aos seus pedidos.

Cada uma das criaturas colocou uma de suas mãos asquerosas sobre minha cabeça, fechando-as em mechas de meu cabelo, que estavam trançadas. Senti um leve puxão em meus fios, depois senti um vazio dentro de mim, tinha medo de abrir meus olhos e me ver careca.

_Agora - falou o primeiro.

_Já pode - falou o segundo.

_Pegar as frutas - completou o terceiro.

E desapareceram.

Assim que abri meus olhos, senti as lagrimas escorrerem de meus olhos sem parar molhando o chão a minha frente. De forma desesperada passei minhas mãos em minha cabeça, temendo sentir apenas a pele lisa. Para meu alivio eles não haviam arrancado todo meu cabelo, havia apenas o "cortado" o deixando um pouco acima do ombro. Mas mesmo assim não conseguia parar de chorar, tudo que desejava no momento eram minhas longas madeixas de volta.

_Não chore Carolyn - cochichou Valente limpando minhas lagrimas com suas mãozinhas, assim que o peguei de Christian - você continua linda com os cabelos curtos.

Não respondi.

Peguei as frutas das árvores as acomodando em minha mochila.

_Pare de chorar - falou Christian assim que voltamos a andar - é cabelo, cresce de novo.

Apenas o fuzilei com o olhar. Ele nunca entenderia o que eu sentia.

_Damasco e maça? - indagou Valente - nos encontramos essas frutas por todo o caminho.

_Isso é tudo apenas para me destruir - resmunguei de forma dramática.

A Grande EscolhidaOnde histórias criam vida. Descubra agora