5 - Batalha do Segundo Exército

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Mais uma vez, muitos anos se passariam para o rei como num piscar de olhos. Períodos nos quais suas memórias tendiam a se misturar e esmaecer. Foi um tempo de sofrimento e muitas batalhas sangrentas. Tudo começou após a luta contra os demônios de fogo, quando encontrou a caravana de fugitivos. Eram homens de diversas tribos e reinos, até mesmo alguns de seus súditos do Reino de Vellistrë.

Öfinnel estava motivado a lutar contra os invasores e expulsa-los da terra, embora naquele momento, isso parecesse loucura para a maioria. Pensavam apenas em escapar para salvar suas vidas. Com alguma dificuldade, conseguiu convencer muitos destes a segui-lo de volta ao continente. Queria formar de um grande exército de coalizão. O primeiro passo foi constituir provisões para retornar ao continente. Durante meses, caçaram e pescaram, salgando as carnes e peixes e produzindo muitas conservas de frutas e legumes. Ações que multiplicaram nos anos seguintes, no Vale das Sete Tribos, com o único objetivo de abranger mais terras e reunir mais guerreiros. E assim, o paladar do exército se adaptou aos sabores do vinagre e do sal. Do mesmo modo, se habituaram ao duro treinamento militar e consecutivas batalhas contra hordas demoníacas.

De tempos em tempos, tinham notícias de viajantes vindos dos outros vales que reportavam que uma derrota completa ocorrera em seus reinos, ou que, em alguns casos, ainda havia resistência. Outras notícias, menos frequentes chegavam de algum mensageiro dos elfos informando que as terras verdejantes sofriam pesados ataques. Algumas cidades haviam sido perdidas, mas logo uma defesa efetiva conseguia evitar o avanço das hordas. Os planos iniciais dos demônios de conseguir cooptar os humanos para atacar os elfos, acabou falhando e suas forças ficaram divididas em batalhas em muitos pontos nos três continentes.

O maior problema enfrentado por todos era a persistência das hordas e seu crescimento gradual. As hordas, ano após anos, independentemente das derrotas que sofriam, pareciam crescer e se fortalecer gradualmente. Os místicos e doutores logo apresentaram o motivo: os demônios destruídos e derrotados, retornavam à dimensão do abismo e após um ou dois anos, já regenerados, reingressavam ao plano físico recompondo as hordas. Outro fator era a corrupção que causavam nos homens, e em especial nas tribos de quase-humanos. Estes seres, quando não eram convencidos a se aliar aos demônios, tornavam-se eles próprios demônios, tendo suas essências carregadas para a dimensão abissal e lá transmutadas nas terríveis raças demoníacas.

***

O exército de Öfinnel subia os desfiladeiros da cordilheira Jedhê Isninkri, que separava o Vale das Sete Tribos do Vale Sagrado, há duas semanas. Lutavam contra as hordas que desciam diariamente. Tinham o objetivo de promover uma inédita reunião entre as tropas que lutavam separadamente nos vales vizinhos, há anos. Até então, apenas batedores e principalmente mensageiros alados conseguiam cruzar a cordilheira. O ponto de encontro era em um pequeno vale além do grande vulcão do Hostenoist, local onde foi descoberto um imenso ninho das hordas demoníacas. A montanha de fogo rugia naqueles dias e marcava o horizonte atrás do avanço das tropas cobrindo os céus com sua fumaça escura.

Adiante, mais uma batalha final. O destacamento mais forte do exército da coalizão sofria pesadas baixas naquele terreno inóspito e gelado. E adiante avistaram mais uma horda dos demônios alados.

- Gandrudëj! - gritou Öfinnel. O rei vestia uma armadura suja, mas robusta. A coroa prateada em forma de aro cobria parte da testa tinha poucos ornamentos e sua barba voltara a crescer, só que agora mais crespa e presa num conjunto de quatro tranças.

O feiticeiro Gandrudëj realizou vários saltos por sobre homens com agilidade sobrenatural conferida pelos seus dotes místicos. Sua veste cinzenta estava salpicada de neve, sobre a qual se destacava o cinturão dourado lustroso, dotado de brilho ora verde, ora alaranjado. Suas luvas grossas de couro avermelhado faziam suas mãos parecerem maiores. Era um holmös alto, quase da mesma altura do rei. Grande e imponente se comparado com os homens das tribos. Seus cabelos tinham cor de fogo, presos num coque acima da cabeça e seus olhos eram cinzentos e assustadores, pois quase nunca piscavam.

Öfinnel. Rei. Vidente. Guerreiro. Lenda.Where stories live. Discover now