8 - A Reconquista do Vale Sagrado

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Peço desculpas ao leitor, pois para narrar uma história que se estende por tantos séculos é preciso recorrer a algumas elipses e deixar muita coisa de lado. Muitos anos se passaram desde que Öfinnel e os elfos preparavam o Hostenoist para ser a principal base militar da aliança. A relação de Öfinnel e Eliarta, seguiu conturbada, com períodos de separação e recaídas. A base tornou-se uma cidade e a montanha, foi escavada pelos anões de Àstrades que agora também somavam esforços na batalha contra as hordas. Poderosas armas foram forjadas no Hostenoist e uma campanha militar para retomar o Vale Sagrado teve início.

Antes, houve um período de relativa paz, mas isto já se apagava na mente de Öfinnel. Se iniciava um novo ciclo de sofrimento e batalhas sangrentas. Tudo tinha um ar funesto naqueles dias. E milhares dos que atualmente seguiam seus comandos, nem mesmo sabiam o que era um lar. Haviam nascido durante a guerra. Fugitivos apenas. Sobreviventes. Sobreviventes como o elfo Quill.

Quill, um dos guerreiros cuja fama era grande naquela época, era um dos favoritos de Raastad. Ele e Öfinnel falavam sobre o jovem Quill, em muitas ocasiões. Sob o céu estrelado, ao lado de fogueiras cujas chamas o antigo elfo manipulava, criando figuras e pintando imagens de fogo para ilustrar suas histórias.

***

Foi numa noite de luas cheias, que Quill, o anão Helmut RodgeGrest e Raastad, retornaram do ataque ao comandante das hordas no Vale Sagrado.

O velho elfo estava muito ferido, mal conseguia caminhar. Vinha apoiado pelo jovem Quill. O anão, estava muito quieto, com um expressão fechada. Raastad entregou o cajado místico nas mãos do rei e disse.

— Sinto muito. Devian pereceu como um herói. Só estamos vivos e fomos vitoriosos graças a sua bravura e sacrifício.

Öfinnel apertou o cajado com tanta força que se pudesse, o teria quebrado.

— Grevos? — ele indagou com os dentes cerrados.

— Expulsamos o desgraçado — informou Quill. Lorde Grevos era um demônio terrível e o comandante das hordas naquela região.

— Mas ele ainda existe. Em algum lugar. Todos esses malditos...

A amargura tomava conta do rei.

— O Brilho Escarlate — disse Helmut com seu forte sotaque — os anões pensam que o senhor deve usá-lo, majestade.

Apesar da denominação de anão, Helmut tinha até certa estatura. Quase um metro e sessenta. Era forte como um touro e exibia uma farta barba alanranjada. Tinha cicatrizes em toda parte e suas vestes ainda estavam manchadas do sangue das recentes batalhas.

— Todos perdemos muito nesta luta — informou Raastad. — Hel, também está morto.

Hel, o dragão de Raastad, era como um irmão. Öfinnel reconheceu sua perda colocando uma das mãos em seu ombro. Naquele momento, viu o amigo fragilizado, era senão um arremedo do elfo que fora.

— Era o sonho de Devian retornar o Vale Sagrado a seu povo. — disse Quill.

— Eu sem bem disto. — e uma lágrima escapou do olho direito do rei, que mantinha expressão severa.

***

A notícia da morte de Devian, quase tirou o ímpeto de viver de Öfinnel. Sua mente mergulhou em sombras, mas no fim, era só mais um filho perdido entre milhares que sucumbiram. Restava decidir o que fazer com O Brilho Escarlate, a incrível lança forjada pelos anões, elfos e humanos no calor intenso das profundezas do monte Hostenoist. Öfinnel não desejava assumir o fardo de carregar tal arma, que simbolizava uma espécie de aliança entre as três raças que lideravam os confrontos contra os demônios. Além disso, havia se habituado ao martelo encantado que agora utilizava.

Öfinnel. Rei. Vidente. Guerreiro. Lenda.Where stories live. Discover now