Conflito

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Afastei-me instintivamente dos braços que antes me protegia, e agora me causava repulsa. Juntei as partes da minha camisa aberta abraçando forte meu próprio corpo, como uma forma de proteção. Me senti usada, suja, humilhada. Sentia a umidade quente descendo pelo meu rosto, encarava Emma com dor. Eu já havia entendido tudo, senti um forte aperto em meu peito, e o que mais doía não era ela ter alguém, um relacionamento pendente, seja lá o que as duas tem ou tiveram, o que realmente doía era o fato dela ter me usado, dito palavras bonitas e depois me magoado, isso era o que doía de verdade.

A mulher a minha frente tenta de todas as formas se explicar, mas não perderia meu tempo a ouvindo, não mais, eu já estava cansada de sofrer.

Por que tudo na minha vida dá errado? Por que uma vilã que se redimiu - tudo bem, sei que fui precipitada em arrancar o coração de Robin, mas cometemos erros -  não pode ter seu final feliz, seu momento de sossego ao lado de alguém que não queira somente transar com a rainha ou prefeita?

Depois de Daniel tive muitos homens e mulheres em minha cama - não sou ingênua, sei o quando desperto interesses e além do mais tenho minhas necessidades - descontava toda minha frustração em sexo, era incrível, não vou negar, não ter compromisso era uma coisa muito boa, mas mesmo com inúmeras pessoas estando ao meu lado na cama e fora dela, me sentia só, e isso era engraçado, porquê de fato eu nunca estava sozinha, sempre tinha um serviçal me servindo e acompanhando todos os meus passos. E essa solidão só piorou depois que lancei a maldição. No começo me sentia realizada, vingada por tudo que me aconteceu e por todos que me causaram mal, mas os dias foram passando, o relógio da torre marcando sempre o mesmo horário, as pessoas sempre fazendo as mesmas coisas todos os santos dias, e eu, bom, eu também sempre fazia as mesmas coisas, isso já estava me entediando não sabia mais o propósito de ter lançado a maldição. O que me trouxe alegria foi ter Henry, ele quem me salvou de não me suicidar pelo tédio ou voltar para a floresta encantado deixando exatamente tudo como era, pelo menos lá eu tinha um pouco de diversão, esmagando corações e tentando destruir a felicidade de Snow. Não fiz isso, não fiz porquê meu filho impediu, e sou grata a ele por ter mudado completamente a minha vida.

A vi ali parada, lutando para ser ouvida, então ela estava de joelhos no chão, vê-la assim fez com que meu coração se reduzisse a um pequeno nó, e por um momento achei que sua dor pudesse ser real, mas só por um momento. Não conseguia mais encará-la e se continuasse ali talvez cedesse, mesmo estando ferida. A encarei pela última vez, só por mais um segundo, ela chorava descontroladamente, então saí, subi as escadas com um pouco de dificuldade por minhas pernas estarem fraquejando, cheguei na porta do meu quarto abri, entrei e a tranquei para que não corresse o risco de Emma vir atrás de mim. Ela não veio.

Em um momento de desespero arranquei todas as minhas roupas ficando nua, fui em frente ao espelho me observando, minha intimidade estava exposta, e me senti ainda pior em lembrar que Emma me tocou ali, bem naquele ponto tão íntimo. Senti novamente suas mãos percorrendo por aquela área, e era tão real, que se eu não estivesse vendo poderia jurar que suas mãos realmente estariam ali. Fechei meus olhos, deixando minha mente vagar, era doloroso lembrar desse recente momento. Abri meus olhos, minha visão estava turva pelas lágrimas, caminhei até o banheiro, enchi a banheira com água morna, quase fria, entrei sentindo minha pele se arrepiar, encostei minha cabeça na toalha que estava na borda da banheira e em poucos minutos chorava novamente, não sabia o motivo disso estar doendo tanto. Eu a odiava, ela veio aqui para tirar minha paz meu filho de mim, foi ela quem casou esses problemas, então, por Deus, por que eu estava sofrendo ao ponto de sentir meu coração falhando em algumas batidas?

A angústia estava amarrada em minha garganta, há muito tempo não me sentia assim - desde Daniel - nesse nível tão avançado ao ponto de querer morrer. O que estava acontecendo comigo? Esse deve ser o preço de ter sido tão má e perversa, de quase ter arrancado o coração daquele asqueroso do Robin, aquele homem me causa repulsa, a cada palavra dirigida a mim, a cada olhar, se não tivéssemos feito um trato, se minha alma não estivesse vinculada a dele, faria pó de seu coração e depois o jogaria para os lobos - não necessariamente nessa ordem.

Permita-se sentirWhere stories live. Discover now