Sala de Música.

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Estávamos no jardim, caminhando devagar, um silêncio bom rondava. Pássaros passavam cantando em nossa frente. Por um momento me senti na cena final de uma comédia romântica, só faltava a gente dar as mãos e a câmera se afastar devagar enquanto sorrimos abobalhadas uma para a outra. Toca uma música calma ao fundo. E aí, a gente se beija e os créditos passam depois.

Mas isso não vai rolar. É uma pena, porque eu adoro o beijo dela. E ela tá meio distraída com a beleza do lugar, seria estranho. Além disso, tinham outras salas por ali, então se isso acontecesse alunos e professores veriam, e eu não quero nem pensar no que aconteceria.

Dá pra perceber que hoje a pessoa tá especialmente mais doida que nos outros dias.

Afastei esses pensamentos (eu não paro de fazer isso ultimamente) e olhei pra ela rapidamente. Mordi o lábio automaticamente, lembrando do gostinho de beijá-la. Eu realmente precisava passar para o próximo nível antes que eu perdesse as estribeiras.

O silêncio ainda reinava até que ela resolveu quebra-lo:

- Mari, o que rola entre a Ju e a Babi?

- Ah, a Ju pegava geral, e a Babi namorava um babaca aí. A Ju se descobriu apaixonada pela Babi depois de dar um mini surto de ciúmes bêbada numa festa. Só que, nesse surto, a Júlia estava de mãos dadas com outra menina, fato que a Babi não deixou de comentar, deixando o namorado dela bem confuso e dando na cara que os ciúmes rolavam das duas partes. Depois disso, a Ju sossegou de vez, ficou só comigo duas vezes, até onde eu sei, e a Babi terminou com esse namorado, de maneira histórica, vale dizer. E entre as duas, que eu lembre, não aconteceu nada demais. Mas a Babi precisa acordar ou admitir isso logo, antes que a Ju canse ou desista, porque ela se diz hétero, mas olha a bunda da Ju quando ela passa e já comentou comigo algumas coisas bem gays sobre a mesma. Não se engane, a Babi é maior safada por trás daquela carinha de nerd, como dizem, as quietas são as piores.

- Peraí, você já ficou com a Júlia?

- Já, a gente tinha uma amizade colorida. Mas isso acabou, hoje mais cedo.

- Hoje?

- É, a gente conversou durante a primeira aula em que estávamos do lado de fora, e ela disse que precisávamos parar com isso.

- A Babi sabe?

- Não, mas acho que já desconfia, ela é nossa amiga há dois anos e a gente não se esforça muito pra esconder.

- Entendi, e você com a Laura? – Sinceramente, isso está parecendo um interrogatório. Medo.

- É um lance platônico e físico apenas. Eu também adoro o jeitinho dela, sabe, pelo pouco que conheço e observo. Ela é adorável, educada e gentil. Mas não se engane, ali é uma pegada maravilhosa, pelo menos visualmente. Entre nós não há nada além toda essa coisa de lista, e até eu já percebi que ela tem um pouco de inveja de mim, só isso. Ela às vezes me olha assim de longe, eu correspondo, e as pessoas falam que estamos só trocando olhares como dois lutadores de MMA na pesagem, antes da luta, o que é uma grande besteira. Por que a pergunta?

- Nada, só que do jeito que as meninas falaram era como se você fosse apaixonada por ela.

- Isso não existe, a Júlia é vaca num nível que chega uma hora que você não entende o que ela fala.

- Eu não vi nada disso.

- Verá depois quando ela começar a te zoar.

- Ela fez isso hoje. E a senhorita também, não pense que eu não fiquei chateada. – e o bico de novo. Sorri involuntariamente.

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