XII. Segundo contato: Verbal.

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Em milésimos o carro ligou e estávamos de partida. Durante o inicio do percurso, Guilherme se mostrava inquieto e tenso, já eu, bem, estava igual ou pior. Ele me causava a sensação de nervosismo mas ao mesmo tempo passava segurança. Tanto no que dizia quanto no que fazia. Até sua timidez explicita era de um jeito que eu não consigo explicar, ele realmente tinha algum motivo forte para isso. Minha curiosidade gritava internamente para que eu fosse mais afundo na pessoa dele, descobrisse mais sobre ele, mas não podia, pois éramos cunhados. Nada mais que isso.

Até metade do trajeto, nos mostrávamos monossilábicos, sem reações, e eu não queria esse clima. Resolvi puxar assunto com ele, já que a partir de que descêssemos do carro, teríamos que conversar, de qualquer jeito, pois estaríamos em um evento social e informal, como o próprio disse.

- Gui-Guilherme. - Eu tentava engolir seco. - Está preparado?

- Estou sim - Ele foi firme. - Já tô acostumado com esse tipo de coisa, sabe... Principalmente depois que fiz 18 anos.

- Entendo... O que você faz?

- Eu represento meu pai e, ou minha mãe em alguns eventos que eles não podem ir. São atarefados demais, sabe?

- Sei bem como é isso, acredite.

- A Ana até já comentou comigo. O pai de vocês foi para o exterior, a mãe de vocês também vive trabalhando e o padrasto também. Ambas famílias são um pouco ausentes e parecidas.

- Sim, verdade. - Concordei com a cabeça. - Temos de fazer nossas partes.

- Fato verdadeiro. Algumas vezes, faço até demais. - Riu de leve.

- Como assim?

- Você está presenciando um momento agora. Eu poderia estar em casa ou estar saindo com meus amigos, como muitos fazem nas nossas idade, mas aqui estou eu, no lugar do meu pai que deve estar em uma reunião agora, de emergência.

- Caramba... - Me impressionei com o teor da conversa. Guilherme falava tão sério, conseguia sentir as verdades em suas palavras e um pouco de tristeza também. Me sentia um intruso, um tapa-buraco, que foi da minha irmã que se mostrou negligente com seus compromissos.

- Não se sinta estranho, nem como um reserva tapa-buraco, Lucas.

- Q-quê? - Ele parecia que tinha lido minha mente.

- Você pode estar achando que está aqui só para cobrir o erro de sua irmã, mas não se preocupe com isso. Você não é nada disso. Você é minha companhia pra hoje.

Aquelas palavras me fizeram ganhar a semana, o dia, o mês.

- Obrigado, G-Guilherme... - Minhas mãos tremiam freneticamente.

- Haha, a noite não está perdida em toda, não é mesmo?

- Pois é...

Mais uma vez eu não esperava por essa atitude do Guilherme. O que ele me falou me deixou tão encantado e tão feliz, a minha vontade era de naquele momento, dar um abraço bem forte nele.

- Chegamos. - O motorista falou. Era um lugar que parecia com um jardim enorme, cercado de seguranças e luzes apareciam até onde se dava pra ver, acompanhado de um alto som.

- Obrigado, João. - Guilherme agradeceu. - Vamos Lucas?

- Sim!

Descemos do carro e ficamos de frente. Guilherme arrumou a gola de sua camisa polo vermelha, passou a mão no cabelo, suspirou e disse:

- Vamos?

Concordei. A gente caminhava até chegar na entrada. Havia duas mulheres lá. Guilherme mostrou uma espécie de cartão, com certeza era um daqueles convites que o povo rico faz para as pessoas entrarem nas suas festas. Uma das moças até sorriu pra mim. Quando demos as costas, começaram a comentar algo.

Nas mãos do destinoWhere stories live. Discover now