Capítulo 2

771 122 68
                                    

O percurso do salão de beleza no qual eu estava até a igreja levava de cerca de trinta minutos, que pareceram uma eternidade. Cada minuto custava a passar, o que só tornava a situação toda mais agoniante, minha vida passava como o filme na minha cabeça, cada momento e todos os acontecimentos que me trouxeram até aqui. Fracamente, eu estava desesperada, aquilo tudo não podia ser real. Já tinha até me beliscado algumas vezes na expectativa de aquilo tudo ser um sonho. Toda vez que olhava meu reflexo em algum lugar via meu rosto coberto por aquele véu branco, sentia então as lágrimas escorrendo em meu rosto, o que estava estragando toda a minha maquiagem, já podia até sentir os cílios postiços se soltando. Minha mãe estava linda em um vestido preto muito elegante, mas também estava aos prantos, não dava nem pra distinguir qual de nós estava chorando mais.

Um ano havia se passado desde a manhã que Margô tocou a campainha de minha casa, trazendo junto com ela a proposta do casamento. Esse um ano foi necessário para que eu completasse dezoito anos, e pudesse  me casar sem gerar um espanto tão grande na família e amigos de Margô, já que na cidade na qual eu nasci o casamento antes da maior idade era comum. Não era estranho andar pelas ruas da cidade e encontrar uma menina de quinze anos casada, e com um filho no colo.

Naquela manhã, quando minha mãe retornou do centro da cidade, Margô ainda estava em casa e fez para ela a mesma proposta. Minha mãe ficou meio receosa no começo, mas o fator econômico, a minha mudança da cidadezinha do interior para São Paulo, e me livrar de vez das agressões do meu pai fizeram com que ela concordasse. Já meu pai nem se importou muito e falou que para ele não fazia a menor diferença.

Mas naquela história toda ainda havia uma enorme incógnita, o noivo. Sabia que o nome dele era Tauan, que era herdeiro da empresa de seu pai, que era mais velho do que eu, nem um pouco ajuizado, e só. Quem era o homem com que eu estava prestes a me casar? Será que ele era a favor desse casamento? Ou será que ele também estava sendo pressionado?

Um mês depois de ter aceito me casar com um completo desconhecido, Margô, satisfeita com a resposta positiva que havia recebido,  levou eu e toda minha família para São Paulo, para conhecemos o meu então noivo, a família dele e a casa que iríamos morar depois do casamento. Aquela foi a minha primeira viagem de avião, e assim como eu minha mãe também estava morrendo de medo, enquanto meus irmãos estavam achando um barato e a Margô achava graça da situação toda. Quando chegamos no aeroporto dois carros nós esperava, para nos levar até o Morumbi, bairro a onde meu noivo e família moravam. Eu, Margô e minha mãe fomos em um carro, enquanto meus irmãos juntamente com uma babá foram no outro. Estava nervosa, notando isso Margô começou a tentar me acalmar.

– Luma, querida, porque está não nervosa? Está com medo de alguma coisa?

– De forma alguma, só estou um pouco apreensiva, nunca passou pela minha cabeça que um dia eu aceitaria me casar por algo que não fosse amor.

Desde de pequena, quando aprendi a ler, me apaixonei pelos livros de romance que as vezes conseguia pegar emprestado na biblioteca da escola. Sonhava com o meu príncipe encantado e o dia em que eu conheceria o meu grande amor. O dia em que eu viveria uma história tão linda e intensa como as que eu lia nos livros do Nicholas Sparks. O dia em todas as canções que ouvia na rádio fariam sentido e eu sentisse borboletas no estômago e um certo nervosismo antes desse dito amor bater em minha porta.

– Querida, amor não existe, não crie expectativas quanto a isso, para não se decepcionar depois. Mas te entendo, quando tinha sua idade também era uma jovem toda cheia de sonhos.

– Claro que existe Margô! O mundo é movido pelo amor e pela falta dele, o ódio. As pessoas precisam de amor...

Minha mãe que até então estava calada, resolveu se intrometer na conversar, para evitar uma possível discussão.

– Minha filha, tenha calma, quem sabe, talvez um dia, você ame esse garoto. Ele aparenta ser um bom rapaz.

Fiquei pensando no que minha mãe e Margô tinham acabado de falar, quando o carro estacionou em frente a uma casa imensa e luxuosa, maior do que qualquer outra que eu já tinha visto, mesmo na televisão. Ela era toda branca e parecia um palácio, o jardim tinha flores lindas, uma mais colorida e perfumada do que a outra, minha mãe ficou encantada e meus irmãos logo foram perguntado se eles podiam dar um "thimbum" na piscina.

Entramos na casa, e em dado momento eu já não sabia pra onde olhar, tudo era muito bonito e limpo e de extremo bom gosto. Chegamos na sala de jantar, que assim como o restante da casa era imensa, a mesa estava posta com uma quantidade enorme e variada de comida. Demorou alguns instantes para que eu percebesse a presença das outras pessoas que estavam na mesa, dois homens, um era mais velho, provavelmente o marido de Margô, e outro mais jovem... Tauan.

– Queridos, essa é Luma e sua família.

O homem mais velho se levantou se levantou.

– Olá, meu nome é Olavo Barrichelli, é um prazer conhecer vocês, em especial você Luma. Minha esposa falou muito bem de você! E esse é o seu noivo, Tauan Barrichelli.

Tauan se levantou cumprimentou todos e beijou a minha mãe delicadamente.

– É um prazer finalmente te conhecer Luma.

Essa foi a primeira das poucas vezes que vi Tauan durante aquele ano. Ele era muito bonito, alto, cheio de tatuagens, muito simpático e educado. Mas nada disso tornava a situação mais confortável, eu não o amava. E no dia do nosso casamento ele ainda era praticamente um desconhecido para mim. Do pouco que conheci de Tauan, percebi que ele gostava de agradar todas ao seu redor e era muito galanteador, além de adorar uma boa festa.

Saber disso não me deixava muito esperançosa em relação ao casamento, ao contrário da minha mãe que se encontrava muito feliz e ansiosa para o "grande dia" e me afirmava com uma enorme certeza todos os dias que Tauan era um bom rapaz, me olhava com olhos apaixonados e que certamente nós dois seríamos os protagonistas de um casamento muito feliz. Eu sabia que isso era realmente o que ela desejava para mim, um casamento feliz, ao contrário do que foi o dela. Já eu não tinha tanta certeza de que esse casamento seria esse mar de rosas.

Filha chegamos! Olha que igreja linda! Vamos! Eu te ajudo a sair do carro.

Respirei fundo, contei até três e desci do carro.

LumaWhere stories live. Discover now