2. Don't say I didn't, say I didn't warn ya.

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Gerard Arthur Way.

O nome era importante, altivo. A mãe dizia que era o nome de alguém que conquistaria o mundo, que seria grande, poderoso. Bom, a mulher só acertou um pouco na altura, mas Gerard ainda não era tão alto quanto o irmão, Mikey. Nem tão popular, como ele, que saía e virava noites por aí em festas de pessoas famosas, por conhecer a elite de New Jersey. O irmão mais velho (Gerard, claro) odiava aquilo, odiava pessoas fúteis e não entendia como o irmão, com sua formação em Química, se submetia àquilo.

Enfim. Gerard Way. Vamos lá. A segunda metade da nossa história.

Professor de Artes para o Ensino Médio em uma escola pública em Newark. Talvez um artista frustrado, por ter sido formado em uma escola de Artes e não exercer seu dom de pintura muito assiduamente. Gerard Way, em seus trinta e cinco anos de idade, não desenvolveu muita coisa além do hábito de colecionar HQs de Star Wars, ser obcecado pelo filme, aprender a cozinhar ao assistir um programa estúpido de culinária, dar broncas no irmão diariamente, dar aulas em um curso de artes durante alguns dias à noite, aturar crianças que não tinham o menor talento artístico no colégio em que era obrigado a dar aula para pagar a pilha de contas que tinha em casa e ser o cara mais normal e com a vida mais normal que poderia levar.

Pronto. Chato, arrastado, um cara normal e com uma vida pacata, sem emoção. O ápice de animação em sua vida era suas noites de sábado, onde saía com algum amigo do colégio para ver um filme ou terminava um livro de ficção, largado em sua cama. Ou quando tinha suas sextas-feiras livres para ir a algum sarau de poesia, que fazia Mikey dormir tamanha a chatice dos membros daquele grupo, a cada vez que Gerard mencionava que teriam um programa especial sobre poemas de extraterrestres homossexuais com órgãos genitais avantajados. Não era exatamente do que falavam, mas era assim que Mikey entendia quando o irmão explicava o que diabos fazia em uma cafeteria, sexta à noite, ao invés de sair fodendo caras por aí.

E Gerard era exatamente aquilo: um extraterrestre homossexual com órgão genital avantajado.

Certo. Gerard não era um extraterrestre.

Gerard realmente tinha um órgão genital avantajado, mas não se gabava disso, afinal, sua mão era a única que tinha contato com ele há um bom tempo.

Gerard era realmente gay. Gay, lindamente gay... Artisticamente gay, complicadamente gay. Mas não tão gay ao ponto de ser gay pra caralho, como o nosso outro personagem principal dessa conturbada história. Um gay comum, que se masturbava com vídeos gays comuns, que havia tido namorados gays comuns, que igualmente com toda simplicidade, terminou um longo relacionamento de três anos por precisar estudar. No fundo, Gerard se achava intelectualmente mais inteligente do que o ex-namorado, mas Bert não precisava saber disso. Então, não conte para ele.

Um nerd levemente purpurinado, o irmão o definiria assim. Gerard gostava de quadrinhos, de filmes estranhos, de cultura pop, de bandas de rock britânicas e desconhecidas, de tudo que era excluído e a sociedade abominava. Se Gerard fosse menos preguiçoso e mais socialmente ativo, seria um típico ativista que saía por aqui definindo oprimidos o tempo inteiro. Mas Gerard tinha mais o que fazer e dentre a lista enorme de momentos empolgantes de sua semana, limpar a casa e testar suas recentes adquiridas habilidades culinárias eram duas delas.

Gerard dividia uma casa simples, de dois andares, com o irmão, que trabalhava e era sua cobaia nas mais inúmeras bizarrices que inventava na cozinha. Como aquele bizarro sanduíche que havia feito com que o chato professor de artes do colégio Bayville saísse de sua casa, vestindo as primeiras roupas que viu pela frente, para comprar a lista peculiar de ingredientes. Gerard acreditava que fazia arte com comida, assim como a arte de seus quadros (a maioria exposta na sala e em seu quarto, Gerard nunca foi o cara das galerias de arte), e sempre iria ver felicidade em um ato simples como aquele: fazer sanduíches, na manhã de um sábado comum.

Blank Space || FrerardWhere stories live. Discover now