Lorena

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                Eu não tenho muita experiência de vida, isso é óbvio, mas se eu tivesse que dar um conselho seria: não saia andando por aí no meio da noite bêbada, perseguindo um cara que você supõe ser seu pai. Aliás, não faça isso nem se você estiver sóbria, porque sabe-se lá com quem você vai lidar. Eu admito que tive sorte pelo cara ser alguém decente, pelo menos foi o que pareceu.

                Apesar de tudo, isso não sai da minha cabeça. O meu encontro estranho com o cara, quero dizer, porque o resto da noite eu simplesmente esqueci. Não me lembro que horas cantamos os parabéns, com quem eu falei e o que eu fiz, e isso me dá um certo medo. Se eu tive coragem de ir atrás de alguém desconhecido no meio da noite, o que mais o efeito da bebida poderia ter causado em mim?

                Tento não pensar muito nisso enquanto bebo mais um gole do meu café amargo. O melhor remédio para ressaca, segundo minha mãe. Para mim não muda em nada, mas quem sou eu para discordar? Depois da minha não tão rápida sumida ontem, - eu levei quase duas horas do lado de fora! - minha mãe se recusa a falar comigo direito, o que me dá mais dor de cabeça ainda. É claro que eu não falei o motivo da minha saída, e parando para pensar um pouco nisso, eu não me lembro muito bem como cheguei até o cara. Só lembro de estar andando pela rua feito uma louca, mas não sei o que diabos eu estava fazendo do lado de fora da boate.

                Esse pensamento fazem calafrios subirem no meu corpo.

                - Aghh! - Digo pondo a mão na minha cabeça. - Como dói!

                - Eu não devo dizer que te avisei, ou devo? - Pergunta Melissa levantando uma sobrancelha.

                - Vá em frente, - digo apoiando minha cabeça na mesa - mãe tem que falar essas coisas.

                Melissa sorri. Ela chega perto de mim e beija o topo da minha cabeça.

                - Termine logo o seu café antes que os clientes cheguem.

                - Por que não posso ficar aqui? - Pergunto com uma voz infantil.

                - Porque nós temos nossa própria cozinha lá em cima, aqui não é lugar para você tomar seu café. - Ela rapidamente se move e limpa uma gota do líquido que eu derramei na mesa. Melissa me olha feio, mas eu apenas dou de ombros enquanto ela voltava para a cozinha da lanchonete.

                - Sozinha de novo. - Digo para mim mesma, quando a porta da lanchonete se abre e o sininho avisa a chegada de um novo cliente.

                - Essa é a lanchonete Expresso da Comida? - Pergunta um homem, aparentemente de meia idade. Ele é alto, com uma feição bonita e cabelos escuros, um pouco brancos, mas isso só dava mais charme para ele.

                - É o que diz o letreiro. - Respondo, me levantando da mesa.

                O homem sorri para mim gentilmente e escolhe a mesma mesa que eu acabara de sair para se sentar.

                - Então, - falo quebrando o silêncio - o que vai querer?

                Ele me encara, mas não parece surpreso com o fato de eu trabalhar aqui. Geralmente, os clientes acham que eu sou uma cliente também, mas isso até eu ter que vestir meu uniforme e começar a servir.

                - Não quero te dar trabalho, querida. - Diz sorrindo mais ainda e abrindo o jornal que segurava na mão. Eu estreito os olhos e fico confusa.

                - Tudo bem então... Qualquer coisa, só chamar.

                - Obrigado, mas por quem exatamente eu deveria chamar?

A Última HerdeiraOù les histoires vivent. Découvrez maintenant