Sintomas

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— O que você está fazendo aqui? — Um tom rude e surpreso é empregado na pergunta e eu demoro alguns segundos para descobrir quem foi que a fez. O garoto do ecstasy.

— Não vim por você, Phillip. — Diz Peter avançando mais para perto. — Já desisti de tentar te tirar dessa porcaria, mas devo lhe dizer que não vou permitir que você leve sua irmã junto.

Phillip olha para mim com descrença e então, volta a encarar Peter com deboche.

— Então ela é a última herdeira?

Espera, eles estão falando de mim? Penso confusa e coro involuntariamente ao sentir a lentidão do meu raciocínio.

— Isso é doentio! Imagina se eu tivesse me interessado por ela? Eu teria beijado minha própria irmã?

Irmã?!

— Do que vocês estão falando?! — Exijo saber.

— Lorena, você não teve paciência hoje mais cedo, mas eu vou te explicar depois que você tomar um banho e descansar. — Peter olha para Phillip agora. — Vamos.

— Não quero que você me leve à lanchonete. O Thomas já vai fazer isso por mim.

— Eu não vou te levar à lanchonete. Você vem comigo para a minha casa.





Eu não prestei muita atenção enquanto passava entre os prédios residenciais, as cores ainda estavam muito fortes na minha cabeça, tudo parecia estranho. Só quando de repente, essa paisagem mudou aos meus olhos, e então estávamos apenas com árvores ao nosso redor, indo para um lugar aparentemente alheio às movimentações da grande cidade. Se não fosse pelas familiares placas, eu poderia dizer que estávamos indo para outra cidade.

— Eu não sabia que tinha residências por esse lado. — Comentei para ninguém em específico. No carro, apenas havia eu, Peter e Phillip. O meu irmão - se assim posso dizer -, não havia dito uma palavra desde que saímos da rave.

— E não tem. — Falou Peter, com sua voz de veludo, respondendo minha recente reflexão. — Mas, como um bom apreciador do silêncio e privacidade, comprei um terreno e fiz minha humilde casa.

Phillip deu uma risada debochada e então continuamos em silêncio até o fim do trajeto.

Eu me senti estranhamente eufórica e um pouco ansiosa. Uma onda de vertigem me pegou enquanto saímos do carro e tentei respirar fundo para me equilibrar.

Peter me pegou pelo braço e me conduziu por vários degraus de escada, não me deixando absorver muito o ambiente. Phillip havia desaparecido, mas não me importava muito com isso.

Passamos por um corredor, e no final dele, havia uma porta. Peter abriu e eu vi o que parecia ser um quarto qualquer - exceto pelo triplo do tamanho que um quarto normal teria. Tinha uma cama enorme de dossel.

— Seu quarto. — Ele simplesmente anunciou.

Eu fiquei parada à porta, com medo de que se eu tentasse andar sozinha eu pudesse cair.

Meu coração começou a palpitar, primeiro devagar, mas começou a acelerar seu ritmo. Um tipo de pânico irracional tomou conta de mim.

— Bonito. — Eu falei, sentindo minha boca seca. Mas bonito jamais seria a definição. Esse cômodo era um adjetivo muito mais além do que eu conseguia pensar.

Maravilhoso. Magnífico.

As palavras passaram rapidamente pela minha cabeça e eu as vi saltarem para o chão. Literalmente. Elas eram tão bonitas, coloridas, eu queria pegá-las.

— Imagino que esteja cansada. — Ele começou a me conduzir para a cama de dossel. Olhei-o e segurei um grito.

Quem era aquela pessoa?

Um homem desconhecido me segurava. Um homem desconhecido está te segurando. Um homem, te segurando.

Gritei - ou pelo menos, tentei. Me debati contra o estranho homem que me olhava com um sorriso triunfante. Quando foi que Peter tinha ido embora e dado lugar para essa pessoa?

Os olhos dele eram vermelhos como sangue, e eu pensei que ele pudesse ver a minha alma.

Estou ficando louca?

Eu pensava e pensava e não conseguia achar alguma coisa pra fazer.

— Me solta. — Eu murmurei, porque minha voz estava fraca demais para que eu emitisse algum som maior.

Ele riu na minha cara, e de repente, ele não estava mais lá. Fiquei sozinha.

O quarto, de repente, começou a encolher (ou eu que comecei a crescer), uma sensação claustrofóbica me invadiu.

Virei para trás, na tentativa de alcançar a porta, mas eu nunca conseguia chegar nela. Minha respiração começou a ficar mais forte e eu pensei que poderia vomitar.

Eu vou morrer.

Foi o que pensei antes de tudo ficar repentinamente escuro.

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⏰ Last updated: Dec 07, 2017 ⏰

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A Última HerdeiraWhere stories live. Discover now