51.

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Depois que o sinal de saída do colégio tocou na terça-feira, me senti muito feliz, pois não aguentava mais um minuto aqueles professores falando. Saí da sala com o Téo e dei de cara com a Kelly.
-Oi Téozinho. -Ela falou passando a mão no peito dele.
-O que você quer? -Ele perguntou tirando a mão dela do peito dele.
-Eu já te dei o meu recado. Agora vou passar a agir. -Ela deu um sorrisinho irônico e saiu.
-Eu to com medo, Elena. -Ele a conhecia e sabia do que ela era capaz. Eu não.
-Não fique. Ela não vai fazer nada. -Falei sem tanta certeza. Caminhamos até nossos amigos.
-Bora dar um rolé de skate? -Paulo perguntou.
-Só depois que alguém me levar para a minha fisioterapia. -Arthur falou.
-Eu levo! -O Téo disse. -Eu não vou pro rolé, vou passar o dia com a gêmea chata. -Ele olhou para a Carol.
-Como você é carinhoso. -Carol deu um tapa nele.
Nos despedimos dos três e eles foram embora.
-Vamos? -Perguntei e fomos para a praça. Ela era perto, mas como os meninos estavam de carro, fomos de carro.
-Vai andar hoje? -Caio perguntou olhando para mim.
-Acho melhor não. Vou ficar aqui com as meninas. -Falei sentando em um banco com a Celeste e a Milena.
Um grupo de meninas parou atrás da gente e ficaram falando dos meninos.
-Como o de preto é gato. -Uma falou se referindo ao Igor.
-Não. O de boné é bem mais gato. -Outra falou se referindo ao Rafael.
-Credo. Como vocês têm mau gosto. O melhor é o que está sem camisa. -A terceira e última garota falou se referindo ao Guilhermo.
Eu, Celeste e Milena tentávamos esconder a vontade de rir. Acabei resolvendo ajudar as meninas. Levantei do banco e virei para elas.
-É... Da licença. Eu posso apresentar para vocês o de preto e o sem camisa. -Não apresentaria o Rafael, pois sei da quedinha da Celeste por ele.
-E o de boné? -A menina perguntou meio triste.
-Pode apresentar ele, Elena. -A Celeste falou em um tom seco. -Ele não quer nada comigo mesmo. -Sussurrou essa parte, mas eu pude ouvir.
A menina sorriu.
-Esperem aqui. -Fui até os meninos. -Rafael, Guilhermo e Igor. Gatas atrás de mim.
-Opa. -Os três falaram juntos, me deram os skates e foram até as meninas.
Segurei os skates com dificuldade e fui até a Celeste e a Milena.
Fiquei encarando os skates por um tempo.
-Vai andar, menina. -Milena falou me despertando do transe.
-Eu não. -Falei. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para o Guilhermo.
"Sei que a mina é gata, mas e o nosso sorvete?"
-Quando você envelhecer e ficar toda dura, vai querer andar e não vai saber mais. -Celeste falou.
Larguei o skate do Guilhermo e do Igor no chão e fui para a pista com o do Rafael. Dei um rolé com os meninos até que senti meu celular vibrar no bolso.
"Sei que o rolé está bom, mas e o nosso sorvete?"
Olhei em volta a procura do Guilhermo e o encontrei sorrindo para mim junto das meninas. Fui até eles.
-Está ai a muito tempo? -Perguntei para o Guilhermo.
-Umas meia hora. -Deixei o skate do Rafael com Milena.
-Vamos? -Perguntei e ele assentiu. -Tchau gatas. Até amanhã. -Dei um beijo na testa das duas e saí com o Guilhermo.
-Não estou animando ir para o circo. -Ele falou meio envergonhado.
-Ah, vai sim. Enfrente seus medos. -Falei olhando para ele.
-De que você tem medo? -Ele me perguntou. Entendi que o medo que ele falava não era relacionado a sentimentos, mas sim a coisas que eu pudesse enfrentar.
-Morro de medo de subir na garupa de uma moto. -Dei de ombros.
Um primo meu havia morrido há alguns anos em um acidente de moto e se antes eu não havia subido em uma moto, agora que não subo mesmo.
-Vou no circo se você andar de moto comigo?
-Você dirige?
-Sim. Lá na Itália eu andava muito de moto. -Ele disse lembrando de casa.
-Então fechado.
-Eu vou no circo de moto e eu te deixo em casa. -Assenti. Chegamos na sorveteria e pedimos nossos sorvetes. Sentamos em uma mesinha ali mesmo para comer.
-Sinto falta da minha mãe. -Ele desabafou.
-Deve ser horrível ficar longe de quem a gente ama.
-É. Ao mesmo tempo que eu não quero ir, eu sinto que eu preciso voltar para a minha mãe. Vejo meu pai cabisbaixo pelos cantos com saudades dela e eu não posso fazer nada.
-Aproveite o máximo do Brasil, pois quando você voltar é dos seus amigos que você vai sentir falta. Você sente falta da sua mãe, mas sabe que quando esteve com ela, curtiu bastante. Você não vai querer voltar para a Itália e pensar que podia ter curtido mais o Brasil e os seus amigos.
-Eu vou me sentir um lixo quando voltar para a Itália.
-Não fala isso.
-Mas é sério, Elena. Eu estou gostando de uma menina e só de pensar que não vou vê-la mais, isso me quebra. -Aquilo ficou martelando na minha cabeça. Queria saber quem era a garota que conseguiu conquistar o coração de pedra do Guilhermo, ao mesmo tempo, tinha medo de perguntar. Não entendia o porquê. Éramos amigos e amigos sabem coisas dos outros amigos. Não sei de onde vinha o meu medo pela resposta do Guilhermo.

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