PRESENTE

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Minha manhã estava sendo relativamente normal. Catalogar livros, realizar empréstimos, aceitar devoluções... Enfim, as mesmas coisas de sempre. Procurei algum livro que despertasse meu interesse para o tempo poder passar mais rápido e achei um de auto- ajuda. Não é tão ruim, vai que ajuda mesmo?

Sentei em minha mesa, prestando atenção na leitura. Percebi um movimento a minha frente. Alguém estava tentando ler o nome do livro em minha mão, abaixei ele lentamente para ter visão do intruso. Só podia ser ele mesmo. Hank era um visitante assíduo da biblioteca, mas não respeitava o espaço de ninguém. Ele sabia de cor a ordem de organização de todos os livros, mesmo assim fazia questão de perguntar.

-Bia, sabe onde ficam os livros de engenharia mecânica?

Para quê ele queria livros sobre isso? Eu não fazia a mínima ideia, pelo que eu sabia ele não cursava engenharia, nem nada na verdade.

-Tem algum trabalho para fazer?

- Não, eu nem entendo sobre mecânica. Perguntei só para te encher o saco mesmo!

Eu não disse? Acho que ele tem crise de carência, só pode. Era sempre assim, isso quando ele não nos chamava para mostrar um trecho do livro que estava lendo. Rô até se escondia no meio das estantes para ele não chamá- la. Eu vivia dando risada mas acabava sobrando pra mim.

- Estou ocupada no momento Hank, procure algo de que goste.

Ele fechou a cara, me parecendo bem magoado. Automaticamente percebi que tinha ignorado o pobre coitado, em meio a uma crise de consciência questionei-o:

- Quer que eu vá com você?

-Claro - e abriu um sorriso que foi até as orelhas. Se fosse fácil assim fazer as pessoas felizes, o mundo seria bem melhor. Balancei a cabeça em um aceno, chamando ele para me acompanhar.

-Chegaram alguns livros realmente bons essa semana, já ouviu falar de Mansfield Park da Jane Austen?

- Não, qual o gênero?

- Literatura/ Romance, não sei se gosta desse gênero, mas eu adorei o livro! É um dos meus preferidos! Jane é maravilhosa. A leitura é empolgante e prende o leitor do início ao fim!

-Nossa! Com um elogio desse eu seria idiota se não lesse!

Estranhei um pouco seu sorriso, era muito galanteador para o meu gosto. Fingi ignorar para não criar asas e tentar algo mais, talvez fosse só coisa da minha mente, ando meio fantasiosa ultimamente. Por falar em fantasiosa lembrei-me dos acontecimentos da noite anterior. Toda a esperança que eu tinha de uma ligação se evaporou, era idiotice esperar algo mais.

Após esse episódio com Hank, o dia passou em um piscar de olhos. Mal tinha visto a Rô, só me encontrei com ela na hora de ir embora quando estava arrumando alguns livros que ficaram em cima das mesas. Graças as pessoas ignorantes que sabem pegá-los, mas não sabem guardá-los. Isso é irritante. Havíamos colado nas paredes um aviso comunicando para que as pessoas colocassem os livros de volta em suas prateleiras, mas todos faziam de conta não ver e deixavam assim mesmo. Alguns seres humanos simplesmente não possuem educação. É triste, porém, a simples verdade.

De tão compenetrada na minha tarefa, não percebi meu celular vibrando, somente fui olhar quando já tinha chegado em casa, era umas sete da noite e a mensagem havia chego as cinco e meia, ou seja, quando eu estava arrumando os livros.

Está tudo bem com você?

Que estranho, eu não conhecia esse número. Dei-me conta que tinha passado meu número para o senhor Richard ontem a noite e logo respondi tentando soar normal

Claro. Sr. Richard?

A resposta não tardou a chegar.

Não.

Não? Só isso? Que ser humano respondia só um simples não dessa forma? Comecei a me preocupar, e se fosse um psicopata e como conseguiu meu número? Fiquei pensando se respondia ou não, se fosse mesmo importante a própria pessoa iria responder informando quem era. Decidi que não perguntaria mais nada a não ser que mandasse outra mensagem, minha intuição foi realmente certeira, porque logo após cinco minutos surgiu um novo torpedo.

É o Josh.

Josh? Eu não conhecia nenhum Josh. Pelo menos eu não me lembrava de nenhum no momento... Espera! Ai meu Deus! Se fosse mesmo o que eu estava pensando teria um infarto e nada me reanimaria!

Josh? Eu não conheço nenhum Josh. Não foi engano?

Decidi jogar um verde, só pra colher maduro e ver o que o tal Josh responderia. Após uma hora eu não tinha nenhuma resposta, comecei a me preocupar. Talvez meu pressentimento não estivesse tão certo assim afinal...Comecei a preparar o jantar, já que hoje era meu dia, um acordo mútuo entre eu e a minha parceira de apartamento.

Decidi fazer macarrão, simples, rápido, fácil e delicioso. Pelo menos nós duas adorávamos macarrão. Eu tinha em mente que uma pessoa que não gostasse de macarrão, batata frita, pizza e lasanha não era confiável! Quem em sã consciência não gostaria dessas coisas?

Enquanto eu comia minha fabulosa comida, meu telefone vibrou, as batidas do meu coração até deram um pulinho. É tão boa essa ansiedade, quando a gente não sabe o que a mensagem pode conter.

Ainda não. Mas nos vimos no jogo ontem. Peço desculpas pelo seu tênis, achei ele muito maneiro. Se quiser compro um novo e te mando. É só me enviar seu endereço.

Minha nossa senhora! Minha certeza estava quase completa só faltava uma pitadinha de cinismo!

Se eu não estou errada, você foi o culpado de manchá-los? Estou correta?

Claro que não! Você que pegou aqueles assentos atrás da cesta! Aqueles são lugares de azar, sempre acontece algo naquela região! Da próxima vez pegue os das laterais, isso é um aviso!

Ele achava que por acaso eu tinha dinheiro para assentos na frente e na lateral ainda? Só na cabeça dele! Eu tinha que dar Graças a Deus que Rô tinha conseguido aqueles ingressos, senão nem o jogo eu teria visto!

Eu não tenho dinheiro para assentos na frente! Para sua informação aqueles ingressos foram ganhados, e aprendi desde criança que cavalo dado não se olha os dentes!

A resposta não veio imediatamente dessa vez, mas também não demorou muito, foram apenas dez minutos de pura agonia.

Claro, claro. Se me deixar compensar, descolo dois ingressos bem na frente para compensar o seu transtorno! Dois. Então pode até levar seu namorado! Olha como sou bonzinho!

Namorado? Da onde ele tirou essa ideia? É cada uma que me aparece! Eu tive alguns paqueras por aí, mas nada sério. Perdi minha virgindade com meu melhor amigo, porque eu era tímida demais para conversar com outra pessoa, quem dirá ter relações. Mas essa não havia sido uma boa ideia, já que depois disso a amizade nunca mais foi a mesma. Um clima estranho sempre pairava no ar. Então você pode concluir como minha vida sexual é agitada!

Namorado? Não, levo uma amiga minha mesmo!

Então posso concluir que aceita o presente? E você não tem namorado?

Vish e agora?

Meu astro do Basquete - Boston Globe I  (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now