Capítulo V

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"Feito de carne, com a resistência de um titânio"

(Patrick Santos de Almeida)

Chego em casa, após subir um morro horroroso, o Sol parecia ter acordado com a intenção de castigar-me. Vou até meu quarto e coloca a bolsa sobre o aparelho de ferro, que anteriormente fora um pequeno armário para as toalhas de banho deles. Coloca o fichário em cima da cama, fecho a porta e arranco o uniforme.

Após colocar o ar-condicionado a sala ficava parcialmente gelada, porque obviamente uma escola com gastos tão grandes com a caridade fez um pequeno ato de altruísmo para seres tão egocêntricos que nem passavam mal numa sala sem ventilação, totalmente abafado num prédio mal projetado.

Realmente... Não sabia por que diabos insistia em continuar lá... Apesar que era o último ano, e isso acabaria rapidamente, num piscar de olhos.

Coloco um shorts e uma camisa larga, vestia-me como um mendigo normalmente. Não gostava de ser a garota fofinha que ouvia Taylor Swift, gostava de ser a criatura ouvia Sia, The Pre tty Reckless, Metallica... E por ai vai. Gostava de sentir a música, gostava de... Sentir.

Saio de meu quarto e amarro o cabelo em um rabo de cavalo um pouco frouxo. Vou até a cozinha onde meu irmão almoça sentado, comia como um monstro após uma batalha, e meu... " Pai " (o qual era obrigado a chamar, apesar de não sermos do mesmo sangue, amém). Ele ergue a cabeça e a primeira coisa na qual ele olha é meu shorts e o que ele cobre.

Uma sensação de ânsia preenche-me. Queria fugir, queria ir embora, queria morrer. Como eu seria normal? Como eu esqueceria? Como eu viveria? Como eu suportaria?

Lembranças voltam a minha mente, lembranças que se tornaram meus piores pesadelos, minhas piores lágrimas da madrugada, minhas piores marcas totalmente escondidas por detrás de minha epiderme.

" Eram 15h30min da tarde de domingo de 2015. Minha guardiã legal havia me chamado para ir ao supermercado com ela. Na verdade, para ser mais sincera, meu guardião legal havia me obrigado a ir com ela já que ele não queria acompanhar sua esposa.

A esposa na qual ele jurou no altar, estar junto tanto na doença quanto na saúde, mas aos navegantes mais experientes... Sabemos que não é bem assim que a banda toca.

Estava no "escritório" meu e do meu irmão, aonde na verdade era mais um cômodo cheio de entulhos que iam desde cabos antigos de computador até um sofá-cama velho meio mofado, em um ambiente com ventilação zero a não ser que abríssemos, ou melhor, escancarássemos as portas. Uma escrivaninha lotada de documentos empoeirados, onde um computador velho e sem CPU mofava localizava-se ao canto da salinha. Tudo isso e mais, enquanto meu guardião legal, glorioso alfa familiar repousava em seu escritório com frigobar, ar-condicionado, 2 computadores de alta qualidade e processadores belíssimos.

Deveríamos louvar seu ato de caridade extremo em nos conceder uma miséria de internet, com direito a uma ditadura extrema. Que lhe concedia o poder supremo e inquestionável de espionar nossas vidas, e ainda se dizer como o exemplo de moralidade por ter um diploma escroto de Engenharia Civil. E esbanjar, como um popular esnobe, sua classificação de segundo lugar no vestibular.

Eu era uma criatura totalmente insignificante, deveria dar ouvido a suas sábias palavras que me categorizavam como o nada absoluto, o total zero a esquerda. Realmente, eu era muito inocente.

Ligo o disjuntor que fica atrás da porta para que o portão funcione. Minha guardiã legal desce as escadas com sua bolsa salmão em mãos, juntamente com a chave do carro. Ela para em frente a porta do "escritório" e me olha de alto a baixo.

Chuva De MeteorosWhere stories live. Discover now