Letters For Him |LP ✔

I Wish

Abbie deu licença para que a pessoa que batia na porta do seu quarto pudesse entrar.

- Amy? - a ruiva ficou atónita quando viu a amiga partilhar o mesmo espaço que ela. Desde a morte de Liam que Amy não aparecia em casa dela. Apenas se viam na escola.

- Olá - a loira falou baixo. Não encarava a sua amiga com vergonha por tudo o que se tinha passado nos últimos meses.

- O que é que estás aqui a fazer? - Abbie perguntou.

- Pediram para que eu viesse aqui falar contigo - ela deu de ombros e aproximou-se da melhor amiga. Porque apesar de tudo Amy ainda considerava Abbie sua melhor amiga.

- Porque se não te pedissem, tu não aparecias. Certo? - a voz de Abbie deixava transparecer a mágoa que sentia. Não valia a pena mentir. Ela estava magoada por estar sozinha.

- Não foi isso que eu disse - a loira negou com a cabeça - Tens estado distante.

- Porque será Amy? Achas que tem sido fácil? - Abbie deu um longo suspiro depois de rir sem vontade.

- Não precisas de usar a ironia comigo! - a amiga da ruiva andou até à cama dela e olhou para a mesa de cabeceira.

Todas as cartas estavam pousadas lá. E eram muitas. Abbie estava já há mais de quatro meses a escrever para Liam. Ainda não tinha sequer ultrapassado a sua morte. Ninguém tinha. Mas passado é passado.

- É isto que tens feito? - Amy pegou numa carta e mostrou-a a Abbie que a encarou completamente desinteressada em querer responder - Tens que esquecê-lo Abbie! Está toda a gente preocupada contigo porque tu estás presa ao passado! Só pensas no Liam e estás sempre a escrever-lhe. Ele não está aqui! Ele não vai ver o que escreves!

- Não te atrevas Amy - o queixo de Abbie tremia e os seus olhos já estavam mais brilhantes que o normal. A sua voz saia embargada.

- O Liam morreu. Aceita isso de uma vez. Há pessoas que sofrem mais que tu. Esquece-o. Segue o teu caminho! - Amy deixava que tudo aquilo que ela sentia saísse de sua boca. O tom alto da sua voz fazia com que Abbie se arrepiasse de cada vez que ouvia mais uma palavra sobre aquele assunto.

- Amy...

A loira respirou fundo e sussurrou:

- Segue em frente. Era o que ele iria desejar. É o que todos desejamos.

Amy saiu de novo do quarto de Abbie. Ela estava outra vez sozinha. Achava impossível como é que alguém podia ter falado o que ela falou. Mas era verdade. Amy tinha dito tudo aquilo que pensava. Tudo aquilo que todos pensavam. Mesmo os seus próprios pais.

Havia apenas uma coisa que ela podia fazer naquela altura. O contrário que Amy lhe pediu para não fazer. Falar com Liam.

"10 de Janeiro de 2014

Querido Liam

Sinto de novo que o mundo está prestes a desabar sobre mim. Todo esse tempo tenho vivido sobre uma mentira. Todos me acham a rapariga ridícula que escreve para o amigo morto. Achas normal? Amy veio aqui. De certeza que ouviste tudo certo? Porque estás sempre aqui. Acho que ela está cada vez mais longe de mim. Eu não tenho amigos por isso é que estou sempre a escrever-te. Acho que ela não comprende o porquê. No fundo ela só nos quer separar. Como daquela vez... Tu nunca chegaste a saber de nada. Eu nunca te contei. Desculpa por isso. Eu apenas tinha medo de ter perder.

Flashback on:

Abbie estava deitada em sua cama pensando o que fazer num dia tão lindo como aquele. Ouve batidas na sua porta e vai abri-la dando de caras com a sua melhor amiga.

- O que se passa? - ela perguntou analisando a face preocupada de Amy.

- Eu não aguento mais - algumas lágrimas ja eram derramadas dos olhos da loira - Eu tenho isto entalado na minha garganta há tanto tempo que até custa falar! - falou ente soluços.

- O quê? - Abbie guiou a sua amiga até à sua cama e sontou-se à sua frente limpando-lhe todas as lágrimas que insistiam em rolar pelo seu rosto.

- Posso confiar?

- Mas é claro! - a ruiva falou.

- Eu gosto de um rapaz - soluçou - Mas eu tenho quase a certeza que ele não gosta de mim. O que eu faço?

- Porque é que nao falas com ele. Age. Não esperes que a felicidade vá a correr até a ti. Corre atrás dela!

- E se eu não tiver coragem. Eu sou amiga dele desde que me lembro - Amy olhou para Abbie com os seus olhos avermelhados.

Abbie franziu o sobrolho. Aquil estava a fazer-lhe muita confusão.

- Ajudava imenso saber quem é o tal rapaz. Eu conheço? - Abbie perguntou e sentiu a amiga engolir em seco.

Amy olhou-a com um ar de pena. Talvez porque sabia que ambas iriam entrar numa luta constante.

- Eu realmente não quero falar sobre isso - tentou desviar o assunto.

- Porquê?

- Eu... - a voz da loira falhou.

- Liam - o nome do melhor amigo de ambas arrastou-se saindo da boca de Abbie - O rapaz é o Liam.

- Abbie eu... - Amy tantou explicar-se. Era óbvio que Abbie gostava de Liam embora nem a mesma admiti-se isso. Ou porque ainda não sabia ou porque não queria admitir.

- Está tudo bem Amy. Só preciso de um tempo.

- Desculpa-me.

- Está tudo bem.

Claro que não estava tudo bem. Sem saber, Abbie tinha começado a destruir a amizade de ambas.

Flashback off

Nesse momento eu ainda não sentia nada. Apenas sabia que tinha um buraco formado que se foi detriorando a partir daquele momento. Doeu ouvir aquelas palavras e nemeu soube o porquê. Senti que perdi uma amiga sem ao menos saber o motivo. Sem ter uma expicação. E agora que perdi os dois, querem tirar-te de mim. Eu sei que seria melhor para mim tornar-me independente de um pedaço de papel e de uma caneta, mas às vezes até os mais simples objetos podem fazer a maior diferença na nossa felicidade

Da tua para sempre:

Abbie"

A ruiva juntou aquela carta a todas as outras como sempre fazia. Mas dessa vez algo estava diferente. E se Amy tivesse razão? E se ela estivesse presa demais ao passado? E se todo o tempo que ela estivesse a dedicar a Liam não valesse de nada? E se ela não conseguisse seguir com a sua vida? E se Liam não estivesse com ela? E o "se" que mais lhe custava: E se Liam quisesse que ela esquecesse e ela não o fizesse?

Claro que ela não podia larguar tudo de uma vez. Virou parte de uma rotina escrever tudo para o amigo, como se ele estivesse aqui. Era a partir das cartas que ela contava a Liam tudo o que nunca tivera coragem de dizer.

Mas iria chegar uma altura em que ela teria que parar. Não sabia quando, nem sabia o porquê. Mas ela teria de parar com isso. E iria ter ajuda.

Tudo iria ficar escuro. Ela iria fechar os olhos. Olhar para o espaço uma última vez. Iria chorar uma última vez. Entregaria uma chave. Tudo trancado. E então era esse o momento de esquecer.

Tudo isto ao seu tempo claro...