Capítulo 11-A Morte(Part. 2)

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Meus músculos doíam e eu tinha a impressão que a força com a qual fui jogada na parede e a pancada com as costas na lata de lixo tinham me feito quebrar alguma coisa, mas eu não me importava com isso.

Meu corpo pedia para que eu deitasse naquele beco e esperasse inutilmente que a dor passasse. Mas minha mente estava a mil, a ponto de por como prioridade não a dor, mas achar algum jeito de trazer Sebastian de volta.

Entrei na loja correndo, percebendo que respirar doía e correr doía ainda mais. Ignorei o grito de dor que queria sair de minha garganta e passei pelas araras de roupa, vendo minha chefe gritar meu nome.

— Onde você pensa que vai? —ela falou, andando rapidamente em minha direção e percebendo que eu estava machucada — O que aconteceu com você?

— Eu- —parei para soltar um gemido de dor. Falar aparentemente doía também — Eu não posso explicar, preciso ir pra casa.

— Você vai é sentar e esperar uma ambulância, você está pálida e sua cabeça está sangrando! —ela disse

Franzi o cenho e passei a mão pela testa, sentindo o sangue pela primeira vez. Mas aquilo não importava agora.

— Eu tenho que ir...

— Elizabeth, sente-se. —ela falou com autoridade

Mordi meus lábios e a olhei, querendo muito sentar para que a dor passasse, mas não podia.

— Pode descontar isso do meu salário. —e então comecei a correr, ignorando os gritos de Jenna

A dor era infernal mas eu precisava aguentar até chegar em casa. Sentia que iria desabar a qualque momento, mas mantive minhas pernas em movimento.

Assim que avistei minha casa, a dor pareceu aumentar e eu podia sentir as lágrimas de dor correndo pelo meu rosto, junto com o sangue.

Abri a porta de casa, desabando de joelhos na entrada, sem ar e com meus músculos completamente consumidos pela dor. Ouvi duas vozes vindas de dentro da casa. Uma era de meu pai, a outra não reconheci na hora, apesar de ter a sensação no fundo de minha mente que eu a conhecia.

— Sebastian... Ele foi... Eu não... —murmurei, com a voz falha, sentindo a dor enquanto as palavras saíam

Senti dois pares de braços me segurarem antes de eu apagar completamente.

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Quando eu acordei, a dor de cabeça pareceu me dar um tapa em cheio. Estava quase anoitecendo lá fora. Tentei me mexer mas a dor que veio com o movimento me fez gritar.

Abri os olhos e olhei para baixo, notando que eu estava com uma camisa folgada, provavelmente do meu pai, e podia sentir alguma coisa na minha pele, fora a camisa.

Levantei um pouco para ver o que era e haviam faixas na altuda da minha costela. Nas faixas brancas haviam palavras em uma língua estranha.

Magia de cura.

Meu pai odiava recorrer à magia para qualquer coisa. Era muitas vezes perigosa pois, se feita errada, poderia acabar matando alguém.

Magia não é a magia que as pessoas conhecem. Poderes mágicos, varinhas e todas essas coisas. Eram simplesmente uma adaptação de uma habilidade de um povo de outro plano.

Palavras tem poder, e este plano em questão havia criado palavras ainda mais poderosas. Se escritas e usadas corretamente poderiam fazer qualquer coisa, desde curar, até mesmo matar uma pessoa. Os mediums acabaram aprendendo essa linguagem e usam para casos de emergência.

Nunca havia aprendido essa linguagem e meu pai também não. Era confusa e complicada, mas, um dia, quem sabe, poderia dar um jeito de aprendê-la.

Respirei fundo e permaneci deitada, esperando que a magia fisesse seu trabalho. E então me lembrei de Sebastian.

Lágrimas começaram a brotar em meus olhos. Ele tinha sido levado para longe. Um plano do qual não poderia voltar. Mas eu precisava tentar trazê-lo de volta. Ele não queria ir, e eu não queria deixá-lo ir. Tinha que fazer alguma coisa.

Me movi novamente, notando que a dor tinha diminuido. As palavras nas faixas estavam quase se apagando, o que queria dizer que faltava pouco para que eu melhorasse.

Assim que as palavras se apagaram completamente da faixa, me movi e já não sentia dor. A magia havia funcionado, e muito bem.

Levantei da cama e corri escada abaixo, vendo meu pai conversando com outra pessoa e senti mais vontade de chorar ainda quando vi quem era a pessoa.

O homem com quem meu pai falava tinha cabelos castanhos e olhos escuros, muito semelhantes aos meus. Era mais baixo que meu pai, porém mais forte e tinha um semblante sério no rosto. Assim que os dois homens notaram minha presença, ele me lançou um sorriso e eu corri para abraçá-lo.

Eu devia ter desconfiado. Meu pai não sabia a linguagem da magia, ninguém do meu lado paterno sabia. Mas todos do meu lado materno sim.

— Tio... O que você ta fazendo aqui? —perguntei, ficando feliz em vê-lo

— Vim visitar vocês. Não esperava encontrar você completamente machucada quando chegasse aqui...

— O que aconteceu, Elizabeth? —meu pai perguntou, preocupado

Respirei fundo e olhei para os dois. Não havia motivo para esconder deles aquilo. Meu pai já sabia da existência de Sebastian, mesmo que nunca o tenha visto, e meu tio... Bem... Ele era meu tio.

Contei a eles tudo, inclusive como conheci Sebastian, já que meu tio não fazia idéia da existência dele, e falei sobre o que havia acontecido mais cedo.

Eles me escutaram, concentrados em minhas palavras. Assim que terminei de falar o que aconteceu, meu pai sentou-se no sofá com uma expressão pensativa e meu tio começou a caminhar de um lado para o outro.

— Eu preciso tentar trazê-lo de volta... —falei, me sentindo cansada graças ao dia que eu estava tendo

— Não sei como trazer um espírito dos planos mais profundos para cá, principalmente quando a Morte já o reclamou, mas eu sei de um jeito para você falar com a Morte..."

— Não. —meu pai falou, seriamente enquanto olhava para o meu tio —Jack, ela não irá fazer isso. Eu sei no que você está pensando. Perigoso de mais.

— Matthew, é a única forma. Eu posso ir se for preciso. Elizabeth é como a mãe, não vai desistir dessa idéia até fazê-la.

Meu pai passou as mãos no rosto, como se estivesse irritado com tudo isso.

— Eu tenho que fazer isso. Eu tenho que trazer ele de volta. Não pode ser ninguém mais. —falei

— Por que?

— Eu só sinto que tem que ser eu.

— Os meios são dolorosos. —meu tio alertou

— Eu aguentei bastante dor hoje, posso aguentar mais um pouco.

Medium (Concluído)Where stories live. Discover now