Capítulo 23-Origens(Part. 3)

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Micenas, Grécia
1170 a.C.

[POV 3ª pessoa]

88 anos haviam se passado desde a noite que Anpu e Amonet fugiram.

A Morte os havia levado até o meio do deserto, os deixando confusos e tendo que explicar que eles deveriam achar o próprio caminho até a liberdade. Ela os deixou com suprimentos e roupas limpas naquela noite, e os dois caminharam pelo deserto a procura de um novo lugar para morar.

Acabaram tendo filhos em meio a sua caminhada por moradia. Uma garota e dois garotos, todos tão poderosos quanto os pais.

Por anos andaram, e até mesmo navegaram, se instalando aonde poderiam conseguir comida e água por uns dias antes de continuar a busca, até chegarem em Micenas: Uma cidade relativamente nova e bem sucedida.

Os dois foram bem recebidos já que os seus dois filhos mais novos seriam capazes de lutar pela cidade e o líder havia se apaixonado pela filha mais velha.

Ainda lembrados do que a Morte havia lhes falado, conseguiram em um plano diferente um feitiço capaz de dar ao rapaz, líder da cidade, as habilidades as quais eles e seus filhos possuíam, mantendo a linhagem viva.

Agora, já velhos e tendo passado aos seus filhos o conhecimento que precisariam para conviverem com aquele poder, passavam maior parte do tempo dentro de casa, vivendo uma vida normal que foram privados de ter no Egito.

Quando seus filhos se casaram e saíram de casa, suas vidas já estavam chegando ao fim, e os dois aguardavam a morte para que finalmente pudessem descansar, sentindo que haviam cumprido o dever que lhes foi imposto.

Um dia, quando o tempo deles havia chegado, a Morte foi lhes visitar. Estavam sentados à mesa, lendo a carta que sua filha havia mandado a eles para avisar-lhes de seu filho que logo nasceria, quando a presença da Morte os atingiu.

Levantaram-se e prestaram respeito à Morte, com uma reverência. Amonet logo deu um passo a frente, hesitante.

— Creio que seja a hora de nosso descanso...

Morte levantou um pouco as sobrancelhas e seus olhos negros encararam a mulher com pena.

— Eu sinto muito, Amonet, mas a morte não será o seu descanso... Não ainda.

Amonet e Anpu se entreolharam, confusos, e logo voltaram a encarar a entidade ali presente.

— Por que diz isso?

— Alguns anos atrás eu lhes revelei o propósito de seus poderes. Disse a vocês que continuar a linhagem de vocês era necessário, e o fizeram. Ao encontrar aquele feitiço para dar ao esposo de sua filha os poderes que a vós foram dados, mantiveram vivos a sua descendência e seus poderes. Mas esta não é sua última missão.

— Não entendo... Estou velha e cansada, assim como meu marido. Não temos condições de realizar qualquer missão que tenha para nos dar...

— Não, não têm. Pelo menos não nesta vida.

O casal olhava para Morte com seus rostos confusos e temerosos do que a entidade queria dizer com aquelas palavras.

— O único descanso que poderei dar a vocês é retirar-lhes o fardo de seus poderes assim que renascerem. Serão humanos normais, ignorantes a qualquer passado que já tenham tido antes de sua nova vida. Mas temo que o descanso que tanto desejem não seja possível ainda.

— Eu... Eu não entendo...

Morte aproximou-se de Amonet e tocou seu rosto, fazendo a mulher tremer pelo toque gelado da Morte.

— Eu queria poder lhes dar a morte de presente. Descanso eterno. Mas não posso. O tempo para seu descanso ainda há de chegar, e descansarão juntos, livres de qualquer fardo que foram obrigados a carregar. Mas o tempo não é agora. Seu poder é imenso e suas almas estão ligadas a ele. Vocês estão fadados a viver por eras, sempre renascendo. Posso permitir que não tenham que carregar o poder em suas próximas vidas, mas suas almas estarão sempre ligadas a ele. A morte será apenas um intervalo entre as vidas que vocês terão.

Amonet parecia desapontada pelo que acabara de ouvir. Teria que reviver após a morte, até que seu tempo finalmente chegasse.

— Por que? —Anpu perguntou, finalmente se pronunciando, sentindo a tristeza de sua esposa

A Morte olhou para ele e os olhos negros pareciam não estar refletindo a luz que havia no cômodo, como se estivessem opacos. Sua feição se tornou séria e seu corpo tensionou.

— Acontecerá uma batalha. Maior do que vocês consigam imaginar. Os planos estarão vulneráveis a uma força ainda mais poderosa que eu. O mundo estará em perigo, e vocês e sua descendência terão de protegê-lo. Vocês são os pais de uma nova raça, e vocês irão liderar seus filhos à luta.

— E venceremos? —Amonet questionou

Morte olhou para o chão, com tristeza em sua face.

— Não sei dizer. Este futuro eu não consigo enxergar... Mas tudo que sei é que terão que lutar juntos. Se houver vitória, será por meio de suas mãos.

Amonet sentou-se novamente, sentindo o mundo girar aos seus pés. Era muita informação para a pobre mulher. Sentiu uma mão em seu ombro e viu os olhos azuis de seu marido a olhando com carinho, mas podia ver que seus olhos escondiam medo do futuro.

Amonet segurou a mão dele, que ainda repousava em seu ombro, e lhe deu um sorriso.

— Não me importo de viver mais vidas, contanto que você esteja comigo. —Anpu falou, dando também a sua esposa um sorriso

— Estarei em todas elas. E o amarei em todas elas.

Anpu segurou sua mão e a ajudou a levantar, abraçando sua esposa, a segurando com força, como se ela pudesse escapar de seus braços.

Ao se separarem, mantiveram as mãos juntas e olharam para a Morte, seus olhos revelando as dúvidas sobre o futuro que os dois tinham naquele momento.

— Estamos prontos... —Amonet falou

A Morte os olhou por um momento, lembrando-se da batalha que iria ocorrer e da incerteza do que poderia acontecer. Lembrou-se do dia em que Anpu nasceu, quando tentou tirar-lhe a vida para que a batalha nunca acontecesse. Lembrou-se do poder que a cercou, tirando a alma do garoto de suas mãos a devolvendo ao corpo do homem a sua frente.

Parecia que estava claro o que aquilo queria dizer: A Morte não poderia interferir no futuro deles. Mas ela tentaria, a cada existência deles, impedir que eles continuassem vivos. Mesmo que estivesse fadada a falhar em cada uma delas.

Disfarçou a natureza de seus pensamentos com um sorriso e levantou as mãos na direção do casal a sua frente, tirando-lhes suas almas e sentindo-as serem sugadas para longe dela, prontas para recomeçarem novamente.

Medium (Concluído)Where stories live. Discover now