10 - Quando a realidade chuta a porta

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(Contém flashback e tempo real)

De volta à louça que ela deveria estar lavando com atenção, um copo escorregou da sua mão. Ele se espatifou todo.

- Que merda foi essa? – Oliver perguntou se levantando da mesa em que estava desenhando.

Ela podia colocar a culpa no detergente. Embora ela soubesse que tinha sido o ponto crítico alcançado pelas suas lembranças que a fez perder o prumo. Tanto na louça quanto nos eventos ocorridos no verão de 2012. Que bom que ela não tinha necessidade nenhuma de dar explicações para Oliver.

Apenas levantou a mão. E o gesto tinha a função dupla, tanto para mostrar que sua mão estava intacta quanto para impedir que Oliver continuasse o caminho até ali. Por sorte, funcionou, ele voltou para o seu caderno.

Definitivamente Sarah iria usar o gesto de "Pare" mais vezes. Mas, por hora, se limitou a escorregar suas mãos para dentro das luvas de borracha para catar os cacos de vidro em segurança enquanto sua cabeça voltava à memórias daquele verão. Era importante continuar a avaliação do estrago.

Se Sarah achava que o que ele queria era um beijo, assim que ele encostou a boca na dela, ela mudou de ideia. O que ele queria era acabar com ela.

Ele estava hesitante, logo, o primeiro contato dos lábios dele foi suave, quase que pedindo permissão para beijá-la. Ela deveria dizer não. Estava em tempo de se afastar e clamar que tudo foi um tremendo acidente, fingir que dava para esquecer.

Mas ele já estava ali, sem nenhum subterfúgio, com a boca pressionada ligeiramente contra a dela. Só bastava ela aceitar, abrir devagar sua própria boca, sentir a dele chegar mais perto, a ponto de sentir qual era o gosto dele. Ele tinha sabor de adolescência. Algo tão bom quanto o caldinho de dentro do Bubbaloo. Apesar do calor, um calafrio percorreu o corpo de Sarah. Logo a seguir, Oliver colocou os braços ao seu redor.

- Sarah, eu vou repetir que te amo – ele disse contra a sua bochecha, onde ela pode sentir todas as palavras reverberando dentro de si. A barba que ele não tinha feito naquela manhã arranhando a sua pele. Tornando tudo cada vez mais real, e cada vez mais difícil de desacreditar.

- Oliver, olha só... – ela disse reunindo toda a pouca seriedade que tinha no momento.

- Não, Sarah, nada de olhar – ele disse entre uma trilha de beijos que, ao que tudo indicava, rumava de volta para a sua boca. – Eu só quero sentir. Você. Do meu do meu lado, ou na minha frente. Não sei, é difícil definir com essa marcha no meio da gente.

Sarah interrompeu o beijo que veio a seguir para sorrir. Oliver estava certo, a marcha estava atrapalhando. Eles deveriam ir logo para casa.

No que restou do caminho, foi dirigido com muita calma, com Oliver e seu sorriso no rosto, a mão direita segurando a esquerda de Sarah, com ocasionais beijos estalados na bochecha sempre que uma oportunidade se apresentava.

Ambos hesitaram quando chegaram no portão da casa. O que acontecia apartar dali?! Anunciar um envolvimento que nem tinha sido definido direito não era uma opção. Todos ali conheciam Heloísa, seria desrespeitoso. E já não era desrespeitoso aquilo que eles estavam fazendo agora? Sarah considerou que fosse muito tarde para pensar. Seria ridículo se arrepender agora. Por essa razão ela se inclinou e tomou a iniciativa de beijá-lo dessa vez.

- Podemos deixar o carro aqui e entrar pelo portão de trás – Sarah arquitetava o plano com Oliver tentando deitar a cabeça no seu ombro. – Acho que a janela do meu banheiro dá pra gente pular. Ela fica nos fundos.

- Sarah – ele disse com a boca perto do seu pescoço. – O que você quiser.

Só que chegando lá na frente da janela Sarah não sabia mais se queria. A janela era mais alta do que ela pensava. E menor também. Não tinha a mínima condição.

O mundo dá voltasWhere stories live. Discover now