29 - Pra fechar com chave de braço

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No final tudo ficou bem, como diz aquele ditado.

Porém tudo deveria ser compreendido como Atteli Comunicações Sensatas, não sua proprietária. Até porque tudo se usa para coisas, não para pessoas. Se fosse para falar de pessoas, seria usado todo mundo, mas ninguém tinha nada a ver com isso.

A empresa ficou bem. Corrida no início, controlada no meio, dando lucro no final. Final de 2011, quando Sarah fez a primeira coisa louca depois de ter aberto a empresa: gastou todo o dinheiro que ganhou nela para comprar uma casa. Casa essa que ela nem sequer iria morar, porque era uma casa de praia e ela trabalhava na Cidade.

Kellen, que era a nova voz da sabedoria desde que tinha sido incorporada como funcionária da empresa, ficou confusa com os detalhes da festa de inauguração.

- Você também tá convidada – disse Sarah ao repassar os itens da lista de coisas que tinha que comprar para o bem-estar de todos os que confirmaram presença no evento do primeiro final de semana na sua nova casa.

- Numa casa grã-fina? – questionou Kellen. – Povoada de gente grã-fina? Tô fora!

Até a voz da sabedoria tinha seus momentos de ignorância.

- Eu não sou grã-fina coisa nenhuma – protestou Sarah. – Olha o respeito! Só sou alguém que economizou cada centavo que ganhou pra realizar um sonho. Você tem certeza que vai se recusar a ir na inauguração do meu sonho? É esse o tipo de amiga que você quer ser?

Na falta da resposta de Kellen, que se encontrava lixando as unhas, Sarah continuou:

- Qual é seu sonho? Você tem? Claro que sim, né? Independente de qual ele seja, saiba que eu sempre vou te apoiar.

O jeito solene que Sarah falava era reflexo da sua solene esperança de que Kellen mudasse de ideia. Seria um tremendo transtorno ficar encarregada pela reunião anual as sua turma de escola sem ter nenhum apoio moral.

- Meu sonho é que você pare de bater nessa mesma tecla. Não vou, pronto e acabou. Eu não conheço essas pessoas e pelo pouco que eu sei de algumas delas, não gosto nem um pouco.

- Eu também não gosto delas! – Sarah se defendeu.

- Sério mesmo? – questionou Kellen já montando sua pose de indignação. – Então pode me explicar por que aceitou essa palhaçada?

Sarah encolheu os ombros.

- Sabe o que eu quero dos meus colegas de classe? – Kellen quis saber, plantando as mãos nas cadeiras. – Isso mesmo. Apenas distância. E eles nem fizeram algo especificamente ruim contra mim.

- Não tive muito escolha, Kel, sei lá como eles descobriram que eu comprei a casa, deve ter um detetive no meio deles, nunca vi! Ai eles ficaram fazendo a maior questão de integrar a festa de inauguração à reunião anual da turma, falaram que tinha tudo a ver e não sei mais o quê. Eu nem tinha planos de fazer festa de inauguração, pra ser bem sincera, e caso fizesse, não estou 100% certa de que convidaria eles, mas você sabe como é... Eles fizeram muita questão mesmo.

- Não, não sei. Aliás, não faço a mínima ideia – rebateu Kellen. – E você sabe por quê? Isso mesmo, me mantenho firme nas minhas decisões. Comigo não tem esse papo! Você deveria aprender.

- Se você for comigo, prometo que aprendo – Sarah barganhou mais uma vez.

- Sarah, esquece. Não ouviu o que eu acabei de dizer? Vou ter que marcar sua audiometria?

O mundo dá voltasWhere stories live. Discover now