Capítulo 12 - Omissão

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É uma grande habilidade saber esconder a própria habilidade.

François La Rochefoucauld


Marinette sentiu as pálpebras piscarem algumas vezes antes de conseguir abrir os olhos. Sentiu uma agulhada na têmpora esquerda e levou a mão até a cabeça para conter a dor. Seus olhos flutuaram para a visão do teto escuro cheio de grossas vigas de ferro atravessadas que ela não reconheceu. Jogou o corpo para cima em um impulso e sentiu uma forte vertigem bater em sua cabeça e jogá-la de volta ao travesseiro.

"Cuidado, levanta devagar." a voz grave porém suave retumbou próxima e ela semicerrou os olhos para adaptar a visão, até identificar Chat Noir sentado aos pés dela com os olhos cravados na tela de um laptop.

Marinette apoiou a mão direita ao lado do corpo e levou a esquerda até à cabeça, no mesmo local onde a têmpora ainda latejava, olhando em volta. Percebeu que estava no esconderijo de Chat, mas o cômodo parecia diferente. As mesas e computadores não estavam lá. Ela segurou a respiração quando olhou para baixo e não se viu dentro do uniforme de Ladybug.

"C-Como eu vim parar aqui?" ela perguntou, sentindo a gagueira entregar seu nervosismo.

"É uma boa pergunta, moça." Chat respondeu retirando algo da boca e olhando-a curioso sob a máscara de visão noturna. Marinette notou que ele comia um pirulito. O capuz cobria metade do rosto dele, mas ela conseguiu ver o maxilar dele contrair "Eu achei você caída aqui em frente. Você estava em pânico."

Só então ela percebeu onde realmente estava. Abaixo de si estendia-se um colchão de casal muito maior e mais alto do que o que ela tinha em casa, um cobertor verde macio cobrindo-lhe o corpo até a altura do peito. A lateral esquerda do colchão estava apoiada na parede, e Chat estava sentado perpendicularmente à Marinette, com as costas apoiadas em um travesseiro alto contra a parede e as pernas esticadas sobre o colchão. Ela corou ao perceber que a ponta dos pés dela encostavam na lateral da coxa dele e que ambos estavam embaixo do mesmo cobertor.

Do lado direito do colchão, sobre o chão, viu pilhas de livros cujas lombadas ela não conseguia ler daquela distância. Lâmpadas pendiam de longos fios presos ao teto, iluminando o lugar com fracas luzes amarelas. Atrás da cabeceira deles uma grande janela dividida em retângulos de vidro dizia que o dia lá fora estava prestes a dar lugar à noite.

"O seu nome é Marinette, não é?" a voz dele a chamou de volta à realidade e ela sentiu os dedos agarrarem o cobertor verde sobre o colo em reflexo.

"Sim. E você é Chat Noir." Marinette juntou toda a coragem do mundo e lançou-lhe um olhar desafiador.

Chat segurou a risada, mas não conseguiu conter o sorriso. Ali estava a Marinette que ele conhecia, segura e confiante mesmo nas situações mais absurdas.

"Então você lembra quando eu me apresentei." ele teve que baixar o olhar novamente para a tela do laptop ou não conseguiria segurar a expressão de alívio em vê-la consciente.

"S-Sim." ela mentiu. Lembrava de ter chegado ao beco. Após aquilo, tudo não passava de um borrão escuro e confuso.

"Está se sentindo melhor?" Chat perguntou, digitando rapidamente algo no teclado.

"Estou sim, obrigada. Desculpa atrapalhar o s-senhor." ela se atrapalhou com o pronome, não sabendo exatamente como se dirigir à ele, mas a risada que ecoou pelo ambiente dizia que ele não esperava a maneira com que foi endereçado.

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