Okay, vamos recapitular uma coisa ou duas. É extremamente importante fazer isso quando se está em uma posição de extremo ridículo diante de uma parede de retratos de uma família que não é a sua, fazendo algo muito vergonhoso como falar sozinha, principalmente quando o ato de se falar sozinha significa que você está dialogando com uma pessoa existente fora de uma e que hipoteticamente poderia surgir do nada, já que aquela é a casa dela. Resumindo: qual era a única maldita e infeliz chance no mundo de que aquilo acontecesse exatamente naquele momento? Nenhuma. Mesmo assim, Katerina Emily Dalton, como um feliz exemplar portadora dos genes fracassados Dalton, havia conseguido este imenso mérito. Parabéns.
— Se-se-senhor Valois... Leo. — o sangue foi roubado do meu corpo ou alguém abriu uma janela diretamente para o Ártico. Nunca senti tanto frio e ao mesmo tempo, minhas bochechas nunca estiveram tão quentes. Me afastei da parede rapidamente, unindo as mãos nas costas.
— Senhorita Katerina.
Ele me cumprimentou com um gesto, aquele mover de rosto educado enquanto dois passos eram suficientes para estar no mesmo átrio, saindo da curva de corredor que eu tinha ignorado do lado contrário. Mais um exemplo daquele tipo de coisa que poderia ser evitada se eu prestasse mais atenção onde estou ao invés de ficar andando distraída sozinha.
— Devo perguntar agora o motivo de encontrá-la perambulando pela minha casa ou devo deixa-la a sós com seu aconselhamento com meu retrato?
— É uma pergunta deveras pertinente, Sr. Valois.
— Imensamente, eu concordo. — e de fato ele parecia surpreso com a minha presença ali, quase tanto quanto eu estava se parasse para pensar que dentre todos os lugares do mundo em que não devia estar, a casa dos irmãos Valois era o número um.
— Eu conheci sua mãe. Totalmente ao acaso.
— Minha mãe. — Leo cruzou os braços, criando uma dobra no casaco de lã pesado e castanho que estava usando. Provavelmente não estava dentro da casa quando chegamos, pois a ponta de seu nariz estava vermelho pelo frio e usava um cachecol verde que estava visivelmente desalinhado (coisa rara de se ver).
— Sim, Janet. Uma pessoa adorável, nos encontramo na Betty's esta tarde e ela fez um convite para o chá.
— Compreendo. Minha mãe é uma criatura sociável — ele respirou fundo, tamborilando os dedos contra o braço direito em uma pequena pausa. — Deveria ter dito que tinha planos para vir até York, senhorita Katerina. Teria sido um prazer...
— Oh, eu não tinha planos. — Não mesmo, Leo. Pode acreditar — Uma série de acontecimentos acabou me trazendo até aqui e até sua casa, Sr. Valois. E definitivamente entendo cada vez mais a sua aversão por minha "toca" em Nova Iorque. Esta casa é maravilhosa e imensa.
— Lucas disse que a senhorita se mudou do porão. Aliás, havia uma série de fotos do seu novo apartamento que ele fez questão de mostrar.
Oh, céus. A vergonha. Já nem me lembrava de enviado aquilo para Luke, de qualquer forma, tinha seu lado positivo. Não havia mais toca para me esconder.
— Pois é.
— Parece um bom imóvel. Com exceção de seu absurdo gosto por amarelo na porta da frente.
Um elogio e uma crítica. Estávamos caminhando bem.
— Dá personalidade para a entrada. O senhor precisa ver o capacho colorido, combina perfeitamente.
— Consigo imaginar — ele revirou os olhos.
Lentamente Leo desfez os braços cruzados e escondeu as mãos dentro dos bolsos de seu jeans. O movimento chamou minha atenção para um pequeno detalhe, algo que poderia ter sido ignorado, mas que naquele momento serviu perfeitamente para me fazer sorrir e aliviar um pouco aquele exército de borboletas no meu estômago.
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Orleans
General FictionKaterina Dalton nasceu com algumas maldições: os genes azarados de sua família, um casamento arranjado e aniversários fracassados. Decidida a resolver pelo menos um de seus problemas, ela foge da ultrapassada tradição familiar para reiniciar na gran...