Capítulo 16 - If I Fell

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Okay. Vou correr o risco de parecer leviana uma vez na minha vida repleta de atrasos, azar e problemas. Tenho que fazer isso porque me pareceu muito impossível não pensar em todas as intenções mais absurdas quando Leo virou a chave naquela maldita porta. Simplesmente me esqueci de todo o resto da teoria do caos que estava me circulando nos últimos dias com aquela história de noiva morta, acidente, almoço de natal... E antes que vocês venham me acusando de estar encalhada, carente e absurdamente desesperada, já vou avisando que não é bem por aí.

Está bem. Era um pouco por aí sim, mas quem pode me culpar?

O interessante desses momentos é perceber o quanto sua mente consegue ir longe com apenas alguns segundos disponíveis para reflexão. A chave acabou de fazer ruído na maçaneta e eu já estava profundamente absorvida em tentar me lembrar de qual lingerie tinha vestido naquele dia, quanto tempo fazia desde que tinha me depilado e que raios de conversa era aquela de que eu podia gritar se quisesse? Seria ali o momento ideal de avisar Leo que eu não era adepta de nenhuma técnica de BDSM?

Na verdade tive minhas dúvidas sérias se ao menos me lembrava como é que se fazia o básico (se é que vocês me entendem). Mas a recordação de Adria discursando sobre isso em uma de nossas conversas sobre relacionamentos, era sempre a mais desanimadora de todas as respostas para perguntas assim: "É como andar de bicicleta: abra as pernas, sente, relaxe e aprecie a vista. Ninguém esquece como se andar de bicicleta".

Ridículo, mas seria funcional se minha maior lembrança envolvendo uma bicicleta não fosse justamente de como consegui me arrebentar caindo de uma. Mero detalhe.

Porém não me parecia que havia segundas intenções naquele inglês de um metro e oitenta e sobrancelha arqueada. Pelo jeito com que Leo se sentou na beirada da cama e inspirou fundo, olhando discretamente para mim, não dava a entender que a coisa se seguiria com uma frase sexy ou um "Katerina, tire suas roupas".

Longe disso, na verdade.

Depois de voltar para a realidade e aceitar que aquela conversa seria de fato difícil e longa, me acomodar na cama do quarto de Leopold era uma missão quase impossível. Nenhum movimento das minhas pernas parecia ajudar muito e cheguei à conclusão de que poderia sentar no chão — o incômodo era meu e não do colchão macio embaixo do meu traseiro.

Eu compreendia que a conversa entre nós seria daquele tipo que não deve ser incomodada, nem cancelada por nenhum tipo de intromissão. Mas o calafrio que desceu pela minha espinha era mais do que uma mera ansiedade ou intuição de que seria um bate papo sério.

Acho que estava pensando demais.

O Carma silencioso ao meu lado, analisou um pouco a minha expressão, provavelmente procurando algum ponto por onde pudesse começar a falar ou perguntar sobre o famigerado assunto que tínhamos de tratar. Minha única esperança era de que qualquer conversa com Leo fosse melhor do que minha conversa com Bruce Campbell na noite anterior.

Mas eu tinha tantas coisas que queria conversar com ele, pequenas dúvidas que estavam se acumulando e que poderiam servir perfeitamente para iniciar aquele diálogo.

— Posso fazer uma pergunta? — arrisquei, para acabar com o silêncio estranho, ajeitando meu cachecol novo.

— Você faz muito essa questão, já notou?

— Acho que fiquei traumatizada. Sempre penso duas vezes sobre qualquer coisa que queira perguntar, apenas para ter certeza de que não é uma pergunta redundante, estúpida ou completamente desnecessária.

Leo sorriu, visivelmente relaxando os ombros de sua posição. Gesticulou para que eu seguisse em frente.

— Os livros. Por que tantas edições de uma mesma história? Eu não vejo muitas mudanças nelas, apenas quando se tratam de exemplares estrangeiros. E enquanto você estava em Nova Iorque, comprava um livro todas as quartas, sistematicamente. Se fosse apenas uma coleção, o senhor já não teria terminado?

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