Capítulo 18 - One way or another

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Samantha estava me esperando no aeroporto. Tinha feito um cartaz em uma folha grande de cartolina com o desenho torto de uma estátua da Liberdade sorridente e um gato dormindo junto dos dizeres "Bem vinda ao lar". Jenny estava lá com ela, a cadeira de rodas segura pelas mãos da Sra. Russell com um largo sorriso no rosto. Todas me abraçaram muito antes de me dar tempo de contar onde estavam minhas malas e que sim, havia feito um bom voo. Mas abraços eram extremamente necessários. Eu precisava deles.

Pedimos um táxi (a Sra. Russell reclamou durante todo o tempo pela falta de espaço para acomodar um cadeirante nos carros de hoje em dia) e logo ali na plataforma enquanto o motorista se desculpava e guardava a cadeira e minhas malas no bagageiro, senti aquela estranha sensação de estar de volta a um lugar muito conhecido; mas que não me queria particularmente com carinho. A grande maçã me esperava com a desagradável tarefa de lidar com a realidade.

— Você vai ter que passar o dia todo contando tudo que aconteceu nessa sua viagem, Branquela. Quero detalhes. Vou ouvir o que já ouvi e o que não ouvi ainda. — Sam anunciou logo que conseguimos nos acomodar dentro do carro.

— Você visitou o Big Ben, Kate? — Jenny logo perguntou, apertando-se no colo da mãe para se virar na minha direção. Deu uma risadinha ansiosa que era tão típica dela. Era engraçado como as pontas de seu cabelo estavam pintados de rosa e deixavam a gola da camiseta de gatinhos que ela usava, um tanto quanto tingida.

— Só do lado de fora, Jen. Mas eu trouxe um monte de lembrancinhas legais de lá.

— Depois que Kate se acomodar e descansar vocês terão todo o tempo do mundo para atazanar a pobrezinha. Separei um cantinho pra você, espero que não se importe, Kate... — a Sra. Russell tossiu.

Sempre gostei da mãe de Sam. Ela era uma mulher grande e séria, um doce quando tinha seu lado maternal trazido à tona. Adorava ir até a lanchonete dos Russell e encontra-la cozinhando e cantando, sorridente apesar de qualquer dificuldade do dia a dia. Porém não poderia aceitar aquela oferta generosa. A casa de Sam já era pequena demais para todos eles, imagine só se o desastre Dalton resolvesse acampar na sala de estar?

— Eu agradeço, Sra. Russell, mas eu gostaria de ir até o meu... Bom, ao apartamento. Quero ver minhas coisas, pegar roupas.

— E depois vai pra nossa casa! — Jen comemorou — Tabby vai adorar te ver, Kate. Ele está com saudades.

— Também estou com saudades daquela bolinha de pelos. Espero que não tenha dado muito trabalho.

— Você me paga com favores laborais. — Sam rebateu, fazendo todos rirem. — E eu vou nesse apartamento contigo, Kate.

Ela nem me deixou protestar. Bateu no vidro divisor do taxi e passou o endereço para o motorista antes de voltar a se acomodar no banco e me apertar entre ela e a mãe. Era como estar amassada entre as mulheres rainhas dos peitos da América. Não dava pra negar de onde vinha a herança genética de Sam. Família abençoada.

Fizemos o resto do trajeto com a Sra. Russell murmurando um trecho de New York, New York, intercalado com reclamações pela inquietação da filha caçula que falava pelos cotovelos, curiosa.

O carro parou diante do prédio próximo da Biblioteca Municipal e a pequena loja de souvenires no térreo estava cheia de um grupo de turistas usando a mesma camiseta com uma fatia de pizza como estampa. Desci apenas minha bolsa (já que não consegui convencer ninguém de que não poderia aceitar toda aquela hospitalidade) e paguei a corrida até ali, enquanto Sam dava todas as coordenadas para o motorista poder continuar.

Nos despedimos das Russell restantes e precisei respirar bem fundo antes de aceitar o molho de chaves com a cabeça de Sir. Edgar Allan Poe que Sam tinha trazido com ela. Pelo menos não tinham mudado as fechaduras da porta do prédio, ponto positivo.

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