Hora 15

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Depois de mais alguns minutos paramos no acostamento. Ao olhar pela janela vejo as imensas árvores e uma grade de proteção, e a poucos metros do carro uma placa amarela onde se lê em letras pretas garrafais "Floresta de Hairwels – Entrada proibida", e nesse momento me pergunto mais uma vez como eu não fui capaz de ver uma placa como essa antes.

— Muito obrigado, senhor, pode nos deixar aqui. Nosso pai já deve estar chegando. — Nosso pai já está aqui. Penso ao soltar um sorriso. Estarei aqui. Foi o que Ele disse.

— Tudo bem, eu espero. — Responde ao encostar calmamente a cabeça no vidro. O condicionador de ar está ligado.

— Por favor, não faça isso. Lhe tirei do horário de trabalho e nem tenho dinheiro para lhe pagar, você deve estar perdendo uma grana nesse tempo. Não se preocupe, vai ficar tudo bem. — Invento uma desculpa, mas que mesmo sendo desculpa não deixa de ser verdade.

— Ela não devia ter acordado? — Ele pergunta, virando-se para trás.

Abro a porta do carro, seguro Nein 2 pelos ombros e por fim a coloco em meus braços com cuidado. — Não se preocupe. — Falo e dou as costas para ele, indo na direção da grade. Quando viro para trás vejo-o dando a partida.

— Fiquem com Deus! — Diz, desistindo rápido de nos esperar. Acho que falou aquilo só por educação, afinal ele está mesmo perdendo dinheiro agora.

— Já estamos. — Respondo, e em poucos segundos o carro já está consideravelmente longe.

Caminho por pouco tempo e agradeço mentalmente a Deus por me dar a direção. Acabo me deparando com o lugar por onde entrei e entendo por que eu não sabia que Hairwels era proibida: nessa área a grade tem uma grande abertura e nenhuma placa.

Ultrapasso-a então e sento, arfando, depois de deitar Nein 2 ao meu lado. Por que ela não acorda?!

Dou batidas leves em seu rosto e aperto seu ombro, mas parece que nada adianta.

— Nein?! Nein 2?! — Chamo-a. Nada.

Levanto-a pelos braços e a deito em meu colo, segurando seu pescoço com meu braço esquerdo.

— Por favor... Você está me deixando preocupado. — Sussurro. Sei que já passou tempo demais, ela já deveria ter acordado, o taxista estava certo.

Bato novamente em seu rosto, dessa vez com um pouco mais de força, e finalmente vejo seus cílios se mexerem e sua inspiração profunda. Ela então abre os olhos, meio zarolha, inicialmente, mas creio que finalmente focaliza em mim porque franze as sobrancelhas, porém logo recosta a cabeça sobre meu peito e deixa a mão esquerda bater no chão, fechando os olhos novamente.

— Ei! — Balanço-a, fazendo sua cabeça bater contra o meu peito algumas vezes. — O que está havendo? Fala comigo! — Franzo minhas sobrancelhas. Ela começa a respirar com muita força e fazer pequenas caretas.

Uma mulher nunca me fez chorar na vida, e pra dizer a verdade, sempre imaginei que quando isso acontecesse fosse por raiva ou desilusão, mas nunca me passou pela cabeça que seria assim: por medo, por preocupação.

— Nein?! Nein, fala comigo. Ei! — A balanço enquanto algumas lágrimas caem no jaleco que ela está vestida. Ouço-a sussurrar algo e a balanço mais, fazendo-a arregalar os olhos rapidamente e deixá-los entreabertos. — Por favor, me diz o que você está sentindo. — Imploro, e depois de uns segundos ouço-a dizer em tom muito baixo algo como "Estou me sentindo muito fraca. Não me mande fazer nada, nem abrir os olhos", então ela apaga novamente em meu colo.

Na dúvida entre deixá-la sofrendo de fraqueza aqui e sair para procurar comida para nós dois obviamente opto pela segunda opção. Não posso negar que tenho receio de deixá-la sozinha à mercê de qualquer perigo, mas há uma frase que não escapa da minha mente.

24 horasWhere stories live. Discover now