IX

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A Bela e a fera jantaram juntos no jardim naquela noite sob uma bela lua crescente. Após a refeição, deitaram na grama e admiraram as estrelas em silêncio. Bela iniciou uma conversa, falando à fera sobre a sua família: Emma, a irmã do meio que era amiga, leal, corajosa e autêntica; Grace, a irmã caçula linguaruda, frígida e que não gostava dela; tia Eliza, que teve a mesma infelicidade de Bela ao deitar-se com um homem antes do casamento, mas não se importava com o que diziam; a doce mãe que havia falecido; o pai que era o melhor pai do mundo. Bela sentia muita saudade do pai. A fera não contou nada sobre a sua vida pessoal, quem ele era de verdade, apenas ouviu cada palavra de Bela atentamente, como se sua vida dependesse daquilo.

Quando as palavras acabaram, o silêncio foi preenchido com excitação mútua. Bela quis ser possuída no chão, como um animal. Ela tomou a iniciativa agarrando o membro da fera sobre a calça e montou sobre seu corpo. A fera ainda não conseguia acreditar que uma mulher o desejasse com tamanha intensidade. Bela se despiu e os dois embarcaram em mais um tórrido momento sexual até atingirem o gozo sobre a grama. Depois deitaram lado a lado, completamente exaustos.

— Acho que essa é a melhor sensação que já senti em toda a minha vida. – disse Bela, a frase entrecortada pela sua respiração ofegante.

— A senhorita é... Não tenho palavras suficientes para descrever. – a fera estava sonolenta, mas muito alerta.

— Tente. – Bela sussurrou.

— Não sou bom com palavras, Srta. Bela.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos.

— Por que fugiu hoje pela manhã, Sir. Dominic?

Ser chamado pelo seu nome estava incomodando a fera, mas ao mesmo tempo ele se sentia humano novamente, apenas desfrutando do momento pós-coito com uma amante incomparável e irresistível que não parou de gritar o seu nome durante o ato, pedindo mais, pedindo por movimentos mais rápidos e mais fortes enquanto possuíam um ao outro. Bela era a melhor. Melhor até mesmo que uma meretriz experiente. Ela era linda e inteligente, corajosa e sensual. Bela era apaixonante.

— Eu não fugi. – ele negou para si mesmo.

— Não minta para mim. Eu sei que fugiu.

— Precisava de ar para respirar, para entender o que tinha acontecido. Por que está fazendo isso comigo? Por que se deitou comigo hoje duas vezes? Por que me beijou? Isso é irracional, é... Nojento. Olhe só para mim. Eu pareço um animal.

— Sim. O senhor parece um animal. É uma criatura bestial. Deve ser nojento se deitar com você, mas eu só consigo achar prazeroso. – Bela sentiu o seu corpo desejar mais da fera, apesar de já estar dolorida o bastante para não conseguir sequer andar.

— É inacreditável! Acho que passei o dia inteiro sonhando, da hora que fui naquele jardim até agora. Quero que me belisque para que eu acorde.

— Não é sonho. É realidade. Assim como o senhor é essa criatura inexplicável, o que fizemos é real.

— Acredita que há alguma chance de se apaixonar por mim e se casar comigo? Desculpe fazer essa pergunta tão direta.

— Eu disse para o senhor tentar me conquistar.

— Acho que já estou fazendo isso. E essa é, de fato, a única forma que conheço de agradar uma mulher.

A fera tocou a coxa nua da Bela, que reagiu acariciando sua enorme mão cheia de garras. Os dois ficaram em silêncio até que a Bela falou:

— Estou deduzindo que nem sempre foi uma fera, é óbvio. Não sou boba nem ingênua. E deduzo também que antes de se tornar uma fera, sabe-se lá como tenha se tornado uma, o senhor devia ser um homem irresistível, um cavalheiro que arrebatava o coração de muitas donzelas e que se divertia com meretrizes de todos os tipos. Era fácil se apaixonar pelo senhor com uma aparência tão incrível. Mas alguma coisa aconteceu e o senhor se transformou nisto. Juro que não acreditaria nessa história se me contassem. Porém, eu acredito que beleza exterior não é tudo. Tente me conquistar e descobriremos se eu posso ou não me apaixonar e casar com o senhor, Sir. Dominic, se for isso o que realmente precisa ser feito.

— A senhorita é muito esperta, mas receio que é tarde demais para tentar lhe conquistar. A única coisa que posso lhe oferecer é prazer, apesar de ainda não acreditar que me deseja dessa forma. Eu nunca fui belo por dentro, Srta. Bela. Se não tenho a beleza exterior, nada valho.

— O senhor se subestima. Aqui estou eu disposta a ser conquistada, mas prefere nem tentar. Estou aqui sem resistência, disposta a ser cativada. Não precisa me trancar em uma masmorra e gritar comigo para que me apaixone. Eu acredito que tem capacidade para ser belo por dentro, se tentar.

— Não estou gostando dessa conversa. Se quiser me ter por perto, será dessa forma. Não vou ser algo que eu nunca fui. Já é tarde para mudanças. – havia um conformismo insustentável na fala da fera.

— Todos merecem uma segunda chance.

— Talvez eu não mereça.

A fera sentiu um grande peso na consciência. Ele era um monstro porque mereceu. No auge dos vinte e sete anos, a criatura humana que ele era sabia como enganar mulheres para ter benefícios e vantagens, e enganava também a homens. Não eram apenas donzelas e meretrizes, também mulheres casadas da nobreza. Ele trapaceava em jogos de aposta e ganhava muito dinheiro, vivia bêbado e arrumando confusão. Deu surras em inimigos. Não assumiu filhos bastardos. Era sádico e selvagem na cama. Não se apaixonava por ninguém e partia o coração de muitas mulheres após usá-las.

Dominic era herdeiro de um ducado, filho de um poderoso duque no Norte da Inglaterra, nem trabalhava. Era só estalar os dedos para conseguir o que queria e tinha toda a proteção que podia ter. No entanto, uma maldição fez com que tudo o que ele tinha não valesse nada.

Quem iria se aproximar de uma fera? Ele iria ser no mínimo assassinado e degolado, a cabeça exposta em praça pública por um nobre e valente cavalheiro, que seria considerado um herói. As mulheres morriam de medo dele. Em sua forma humana, só gostavam dele porque era rico e bonito. Seu coração de pedra se endureceu mais ainda. Dominic se transformou na fera, mas às vezes se questionava se sempre não fora a fera, já que a sua aparência física agora refletia o seu interior. Como a Bela poderia estar interessada nele? No mínimo era louca. O aprisionamento havia feito isso com ela.

A Bela e A FeraWhere stories live. Discover now