Capítulo 3

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          Não vendo livro algum nas mãos do sr. Darcy, a srta. Bingley inquiriu, "E o que faz aqui sozinho?" enquanto se aproximava dele. Ao vê-la indo, em sua direção, o sr. Darcy levantou-se imediatamente para não permitir que ela descobrisse Elizabeth. Lançando um último olhar à sua amada, ele foi de encontro a srta. Bingley e a acompanhou para fora da biblioteca. Ela se sentiu triunfante por ser escoltada pelo sr. Darcy até a sala de estar e só se sentiu desapontada por Elizabeth não estar presente para testemunhar o fato. Ele se divertiu ao imaginar a reação da srta. Bingley se soubesse o que ele estivera fazendo na biblioteca.

          Assim que a porta se fechou atrás da srta. Bingley e do sr. Darcy, Elizabeth imediatamente se sentou, soltando um suspiro de alívio. Após se refazer por um momento, já esquecida de seus livros, ela retornou ao quarto de Jane e dispensou a jovem criada. A menina voltou ao andar térreo e, ao passar pela sala de estar, encontrou sua patroa em frente à porta. Lucy, onde você estava? Precisamos de refrescos na sala agora mesmo.

          "Desculpe, senhora, eu estava cuidando da srta. Bennet um minutinho..."

          "Srta. Bennet, por quê? Onde estava a irmã dela?"

          "Ela passou esta última hora na biblioteca. Acabou de voltar de lá."

          A srta. Bingley ficou imaginando se Elizabeth estivera com o sr. Darcy na biblioteca. Era muito estranho, pois ela não vira Elizabeth no corredor que levava ao cômodo, e tampouco a vira na biblioteca. Só podia concluir que Lucy estava exagerando sobre Elizabeth ter retornado ao quarto tão recentemente para encobrir sua própria indolência com as tarefas na cozinha. Assim, a srta. Bingley se convenceu de que Darcy e Elizabeth definitivamente não haviam estado juntos na biblioteca. Acabou rindo de si mesma por ter se preocupado. Naturalmente o sr. Darcy não perderia tempo com aquela impertinente e presunçosa arrivista. Com uma risadinha estridente, retornou à sala de estar em busca de sua presa.

          Elizabeth optou por jantar com Jane em seu quarto; embora quisesse ficar com a irmã, a decisão foi também instigada pelo receio de encarar o sr. Darcy. Tinha medo que sua fisionomia e o colorido de sua face denunciassem tudo o que ouvira. Não conseguia pensar em outra coisa. As palavras dele haviam sido tão doces, tão gentis, tão sinceras, em nada relacionadas com o que ela pensava dele. Ele se arrependera de ter se recusado a dançar com ela. Ele a amava. Ela não podia acreditar que tivesse inspirado, sem se dar conta, tanta estima em um homem de tanta influência. Ele certamente está sempre rodeado de lindas mulheres da sociedade que buscam sua atenção. No entanto, ela refletiu, se forem todas como a srta. Bingley, é compreensível que ele mostre tanta resistência em relação a elas!

          Pouco após ter retornado à cabeceira de Jane, a paciente acordou e Elizabeth se viu ocupada em auxiliar a irmã, sobrando pouco tempo para novas reflexões sobre o assunto. Ela ainda não estava preparada para falar sobre o que acontecera, nem mesmo com Jane.

          As irmãs fizeram a refeição juntas nos aposentos de Jane e lá Elizabeth teria se contentado em ficar pelo resto da noite e, a bem da verdade, pelo resto de sua estada em Netherfield, só para evitar de se encontrar com o sr. Darcy. No entanto, não seria assim, pois Jane a lembrou da sugestão que ela mesma lhe dera mais cedo de passar algum tempo na sala de estar aquela noite. De fato, Elizabeth achara aquela manhã, ao ver o quão melhor Jane se sentia, que ela já estaria apta a, mais tarde, se juntar aos outros por um momento, e gostaria que Jane passasse algum tempo na companhia do sr. Bingley. Mas agora Elizabeth se sentia mortificada com a perspectiva de ficar face a face com o sr. Darcy. Mesmo assim, ela não podia se negar a atender o desejo de Jane de estar com o sr. Bingley. Assim, com todo o cuidado, ajudou Jane a se vestir e as duas desceram juntas para o salão.

          Jane foi recebida com entusiasmo pelo sr. Bingley, que a deixou confortável em uma grande poltrona junto à lareira e, sentando-se ao seu lado, envolveu-se em um discreto diálogo. Ao entrar na sala, Elizabeth teve o cuidado de não dirigir o olhar ao sr. Darcy embora ela pudesse sentir o olhar dele fixo nela. Ele desviou a atenção por um breve momento a fim de cumprimentar Jane por sua melhora. Seus sentimentos fizeram eco moderado nas irmãs Bingley. O sr. Darcy voltou o olhar para seu livro, embora não conseguisse focar uma única palavra na página. Elizabeth, achando que um livro seria muito conveniente, procurou ao redor, mas não havia um só livro disponível com exceção da pilha sobre a mesinha ao lado do sr. Darcy.  Surpreendeu-se ao reconhecer os mesmos livros que ela havia selecionado na biblioteca e colocado sobre a mesa ao lado do sofá. Reunindo toda sua coragem, Elizabeth aproximou-se furtivamente da mesinha para escolher um dos volumes e retornou ao seu assento. O olhar do sr. Darcy não se desviou do livro à sua frente, mas ela pensou ter detectado um sorriso sutil no canto de seus lábios no momento em que ela esteve em pé próxima a ele. Também não pôde deixar de notar que ele estava lendo exatamente o mesmo livro que estivera segurando enquanto 'dormia' na biblioteca. Tirando o primeiro livro da pilha sem ao menos olhar para o volume, Elizabeth encontrou uma cadeira o mais distante possível do sr. Darcy.

          Dessa forma, a noite passou com Jane e Bingley conversando em voz baixa, o sr. Hurst roncando, a sra. Hurst brincando com seus braceletes e anéis, a srta. Bingley dando restauradoras caminhadas pelo salão e tentando atrair a atenção do sr. Darcy, e Elizabeth e o sr. Darcy olhando fixamente para seus respectivos livros e virando as páginas descuidadamente, mas sem realmente ler qualquer coisa.

Continua...
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CONFISSÕES A UMA BELA ADORMECIDA - Fanfic Orgulho e PreconceitoWhere stories live. Discover now