Capítulo 7

1.3K 84 4
                                    

No final da noite, quando Elizabeth chegou em casa, sentia-se em dúvida e confusa. Não sabia em que acreditar e passou uma noite agitada em conseqüência. Lembrou-se da maneira como o sr. Wickham lhe contara sua história, ele fora tão franco e falara com tanta autenticidade que ela tinha dificuldade de duvidar dele. Mas então, ela se lembrou da voz suave e gentil do sr. Darcy lhe falando na biblioteca, os sentimentos que ele então relatara não podiam pertencer a um coração capaz de atos tão maldosos. De fato, mesmo em sua pior opinião sobre o sr. Darcy, ela nunca o considerara capaz de cometer atos tais como os descritos pelo sr. Wickham. Admitia que acabara de conhecer o sr. Wickham e lhe ocorreu que não havia sido totalmente apropriado que ele desse a conhecer tantas informações referentes à sua vida pessoal tendo-a conhecido há tão pouco tempo. Contudo, a história relatada pelo sr. Wickham estava de acordo com a opinião inicial que ela tivera do sr. Darcy, que ela admitia ser mais precisa por ter sido formada sem o conhecimento do apreço dele por ela. Já qualquer mudança em tal opinião não poderia ser objetiva, pois era influenciada por esse conhecimento. Mas teria ela sido objetiva mesmo no começo? Ela se permitira influenciar por sua rejeição inicial como parceira de dança, que agora ela sabia ser devida apenas à timidez. Estes pensamentos a levaram a novas considerações sobre as maneiras dele. Ela ficara muito decepcionada que ele não fizera nenhum esforço para conversar com ela em Meryton. Era óbvio que ele e o sr. Wickham não mantinham uma relação amigável, mas ela ficara um pouco desapontada que a estima dele por ela não superasse sua antipatia pelo homem com quem ela estava conversando, a ponto de se engajar na conversa. Ela notara, porém, que ele iniciara a conversação com o sr. Collins, o que tinha pouco a ver com o que ela conhecia dele. Perguntava-se se a atenção para com o sr. Collins não teria sido resultado da reprovação dela e ficou sensibilizada com a possibilidade. O que só aumentava a sua confusão. Não sabia em que acreditar, mas tinha que descobrir a verdade. Assim, na manhã seguinte ela escreveu uma segunda carta à tia.

Querida tia,
Estou muito angustiada. Recentemente recebi informações referentes ao sr. Darcy, mas são de natureza alarmante. Ele me foi descrito como tendo cometido atos de uma maldosa vingança contra um rapaz com quem foi criado quase como um irmão, e se recusado a atender aos últimos desejos de seu moribundo pai no sentido de garantir a subsistência de tal rapaz. Evidentemente, foi desse mesmo rapaz que obtive essas informações e não sei como encará-las. Querida tia, seria muito pedir que a senhora inclua em suas investigações junto a seus conhecidos de Derbyshire o que se sabe a respeito do sr. George Wickham e de seus negócios com a família Darcy? Mais uma vez obrigada. Espero algum dia poder lhe retribuir o favor que me presta agora. Anseio por notícias suas sobre este assunto.
O sr. Bingley continua com suas atenções para com Jane e acredito que sua coragem está aumentando.
Espero ter boas notícias em breve.
Sua sobrinha, com amor,
Elizabeth Bennet

Após enviar a carta, Elizabeth foi dar uma volta em companhia de Jane pelos arbustos e relatou a ela tudo o que havia se passado entre sr. Wickham e ela no dia anterior, mas ainda não estava pronta para falar sobre o que o sr. Darcy lhe havia dito em Netherfield quando a acreditara adormecida. Jane ficou espantada com a história de Wickham e inclinada a crer que deveria haver algum mal-entendido. Ela não podia acreditar que o amigo do sr. Bingley pudesse ser tão mesquinho ou que tivesse se aproveitado da ingenuidade do sr. Bingley. Elizabeth considerou as palavras da irmã, mas sabia que ela estava sempre disposta a ver apenas o lado bom das pessoas. Achava também que Jane poderia estar sendo parcial em favor do sr. Darcy pelo que sentia pelo sr. Bingley.

Jane e Elizabeth foram chamadas de sua conversa entre os arbustos pelo chegada do sr. Bingley, de suas irmãs, e do sr. Darcy. O primeiro viera pessoalmente convidar a família Bennet e o sr. Collins para um baile em Netherfield na terça-feira seguinte, e o último aparentemente decidira vir apenas para fazer companhia ao amigo. Ocorreu, então, à Elizabeth que, se ela pudesse dar um jeito de ter uma conversa particular com o sr. Darcy, poderia descobrir algo mais sobre a ligação dele com o sr. Wickham. Era indubitável que o sr. Darcy também queria conversar em particular com Elizabeth. Mas era pouco provável que isso acontecesse, já que as cinco irmãs Bennet, assim como a sra. Bennet, se mantiveram presentes durante toda a visita. E, naturalmente, as irmãs do sr. Bingley também. Este conseguira se envolver numa conversa particular com Jane num canto da sala, e o sr. Darcy o invejava mas não conseguia pensar numa maneira de fazer o mesmo a sós com Elizabeth. Ficou ainda mais desgostoso visto que a conversa geral revelava que Elizabeth e suas irmãs haviam passado algum tempo na casa da tia Phillips no dia anterior, em companhia de vários oficiais, incluindo o sr. Wickham. Elizabeth observava atentamente o semblante do sr. Darcy enquanto Lydia e Kitty falavam com entusiasmo às irmãs Bingley sobre o sr. Wickham, contando-lhe o quão bonito e charmoso ele era. Ela podia notar que ele ficava cada vez mais agitado.O sr. Darcy arriscou olhar para Elizabeth várias vezes e, por uma ou duas encontrou seu olhar, mas ela o desviou. A perturbação dele se tornou ainda mais visível quando Lydia disse, "E Elizabeth passou mais de meia hora em conversa sigilosa com o sr. Wickham enquanto todos nós jogávamos cartas. Ela é bem sonsa, tentou mantê-lo só pra si, acho que ela gosta dele."

"Lydia!" exclamou Elizabeth, mortificada, mas não pôde fazer nada porque, embora tivesse mudado de assunto imediatamente, o dano já havia sido feito. Ela estava envergonhada com o ímpeto tão inadequado da irmã e preocupada com o efeito das palavras de Lydia sobre o sr. Darcy. As irmãs Bingley se entreolharam, e o sr. Darcy se levantou, dirigindo-se a uma das janelas para esconder sua crescente raiva e frustração. A idéia de que Elizabeth pudesse gostar de Wickham lhe causou grande mal-estar. A srta. Bingley sabia que Darcy odiava Wickham, embora não conhecesse os detalhes do relacionamento dos dois. Imaginava que ele quisesse evitar maiores discussões sobre o assunto. Sempre querendo cair nas boas graças do sr. Darcy, ela arranjou para que ele escapasse de tal situação levantando-se e dizendo ao irmão que já era hora de voltarem para casa. O sr. Bingley ficou visivelmente desapontado, mas aquiesceu. O sr. Darcy mal olhou para Elizabeth ao sair, despedindo-se da maneira mais ligeira que a educação permitia. Ela se perguntou se isso significava que ele havia acreditado em Lydia.

Assim como Elizabeth, Darcy era atormentado por noites insones desde a sua confissão na biblioteca, mas os pensamentos dele haviam sido menos perturbadores que os dela, até o momento. Ele passou a noite de forma muito desagradável pensando em Elizabeth e Wickham. Seria possível que ela gostasse daquele homem? Mas ele conhecia Wickham muito bem. Suas maneiras pareciam francas e eram envolventes e as mulheres sempre o achavam irresistível. Sentiu que teria que conquistar Elizabeth antes que Wickham se aproveitasse da ingenuidade dela. Mas como poderia competir com seu jeito agradável, quando ele mesmo era exatamente o oposto? Desejava desesperadamente saber sobre o que Elizabeth e Wickham haviam falado na ocasião mencionada pela srta. Lydia Bennet. Desde que Bingley marcara uma data para o baile em Netherfield, Darcy ansiava por dançar com Elizabeth. Agora, mesmo esses pensamentos eram invadidos e maculados pela imagem de seu pior inimigo se insinuando para sua amada, já que Bingley havia feito um convite aberto a todos os oficiais para o baile. Será que Wickham ousaria comparecer? Daria atenção especial a Elizabeth? Perceberia a afeição de Darcy por Elizabeth? E se o fizesse, Darcy não tinha dúvida, Wickham faria tudo que estivesse ao seu alcance para envolver Elizabeth e envenená-la contra ele. Poderia até tentar seduzi-la e arruiná-la só para ferir Darcy. Com tais pensamentos torturando-lhe a mente, o sr. Darcy não encontrou paz suficiente para conciliar o sono naquela noite.

Por sua vez, Elizabeth estava mais embaraçada pela inconveniência da impetuosa indiscrição de Lydia que pelas palavras em si. Perguntava-se se mais esta evidência da falta de moderação de sua família afetaria o desejo do sr. Darcy de se ligar a ela. Refletir sobre a propensão de certos membros de sua família a se comportarem continuamente de maneira inadequada fê-la pensar se não teria sido este tipo de conduta o que causara no sr. Darcy o desejo de reprimir seus sentimentos por ela.

Quanto ao que Lydia havia dito, Elizabeth sentia que, embora não pudesse definir seus sentimentos pelo sr. Darcy, ela não queria que ele acreditasse que ela gostava de outro, em particular, seu pior inimigo. Contudo, estava curiosa para ver como ele reagiria à sugestão de que ela poderia estar afeiçoada a outro homem.

Continua...
Comentem :)

CONFISSÕES A UMA BELA ADORMECIDA - Fanfic Orgulho e PreconceitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora