VI. Instável

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Seria mentira dizer que Harry não sentiu-se tentado a mandar tudo para o inferno e beijar o pequeno Puppet, que sempre insistiu tanto para tomar os lábios de seu dono até aquele momento. Chegou até mesmo a abaixar um pouco o rosto, quase ao ponto de sentir a respiração com hálito de hortelã que saía pelos lábios entreabertos do menor, no entanto, no momento em que pousou a mão na bochecha do rapaz, ele levantou-se tão rápido de seu colo que quase bateu o próprio rosto contra o do Styles, que agradeceu por ter reflexos rápidos, conseguindo desviar no último segundo.

Em um momento Louis estava bem, estava calmo, centrado apesar de seu sistema estar desligado e no outro gritava, a plenos pulmões, provavelmente se fazendo ouvir por toda a vizinhança, enquanto os dedos apertavam a placa de aço inoxidável que havia em seu pescoço, puxando-a como se quisesse arrancá-la dali, transmitindo aquela impressão de que o mecanismo lhe causava uma dor quase insana. Pequenas gotinhas de sangue se formaram nas laterais da peça metálica, manchando os dedos afeminados do menor, antes que Harry conseguisse esboçar uma reação, agarrando suas mãos, impedindo de continuar se auto flagelando. Seu coração quase quebrava sua caixa torácica com o desespero de vê-lo daquela forma.

- Lou! Louis, chega, para com isso! - Tentava falar, mas o garoto se debatia. Apesar da estatura diminuta, ele conseguia ter muita força quando estava realmente tentando sair de um contato. Em seu desespero de se soltar, não demorou muito para que as unhas curtas encontrassem o rosto do dono, arranhando-o ao ponto conseguir fazê-lo sangrar.

As mãos soltavam-se das suas e Harry tinha de captura-las novamente. O Styles, buscando uma maneira de mantê-lo parado, passou as próprias pernas por cima das dele, prendendo-as contra o colchão, ao mesmo tempo que suas mãos prendiam em definitivo as dele, levando-as para o peito de Louis, cruzando-as, uma sobre a outra ali. Com os próprios braços, envolveu aquela camisa de força que havia feito nele, finalmente reduzindo a euforia toda, até que o Puppet se visse sem chances de escapar do contato, desistindo aos poucos de sua fuga. Quando parou completamente, parecia exausto, deixando a cabeça cair no ombro do mais alto.

Os soluços chegaram em seguida. Vieram como acompanhantes fiéis de uma enxurrada de lágrimas grossas, quase silenciosas, que caíam dos orbes felinos, pingando pelo queixo delicado e trêmulo, até umedecerem as mãos grandes de Harry, que ainda o segurava como se ele fosse ter outro surto e começar a se debater, todo arisco. A casa toda entrou num silêncio quase palpável, cortado apenas pelos sons dolorosos do choro do pequeno, vez ou outra.

- Vai passar... Vai passar. - Murmurou o Styles, bem baixinho, como uma prece; um mantra que ele repetia para se convencer. A boca estava tocando os cabelos do menor, sendo preenchido pelo cheiro de banho tomado e algo mais suave, que parecia único dele. Algo mais Louis.

Lembrava-se do que Liam havia dito na porta da cafeteria, que ele se estabilizaria para um dos lados, mas honestamente, depois de ver todos esses episódios de dor, de descontrole, como se estivesse lidando com uma pessoa que carregava problemas mentais, não sabia mais como queria que aquela história terminasse. Tinha medo que Louis não conseguisse lidar com a falta de um sistema, de algo que o controlasse acima das próprias vontades... Ao mesmo tempo que percebeu ser impossivelmente fácil se apaixonar pela delicadeza do lado humano dele. Como era fácil se entregar.

Só diminuiu o aperto quando até mesmo suas lágrimas já estavam cessando, soltando os braços, que caíram exaustos ao lado do corpo de aparência tão frágil. Passou os dedos pelo cabelo liso, naquele tom tão único, num cafuné leve, beijando-lhe o topo da cabeça. Uma linha de sangue seco havia escorrido até a linha da mandíbula de Harry, mas ele não parecia se importar, subitamente tão exausto quando o Puppet.

- Dorme comigo hoje. - Pediu o mais velho, por fim.

A única resposta foi um assentir de cabeça, vindo do pequeno, que também tinha a nuca manchada de carmim. O Styles decidiu que era melhor trocar os lençóis de cama do que colocar ambos embaixo do chuveiro, então apenas o puxou para o topo da cama, enfiando ambos os corpos embaixo dos cobertores. Passou um braço pela cintura dele, deixando as costas pequenas em contato com seu peito. Louis, como um brinquedo que tivesse esgotado a própria bateria, simplesmente se deixou ficar, cansado, dolorido e com um rastro de lágrimas secas manchando todo seu rosto.

O Inverso do Perfeito {l.s}Where stories live. Discover now