Capítulo 11 - Telefonema estúpido

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Olhava pro meu celular inquieto. Nunca pensei que fosse chegar a este ponto em que não tinha nem coragem suficiente pra ligar pra Hannah.
Porque me lembro quando ligava falando que estava pintando as unhas de preto, enquanto eu, gritava do outro lado quando passava de fase no Call of Duth. Horas e horas rindo de coisas bobas que só a gente entendia.
Talvez ela estivesse ouvindo a mentira pelos corredores de que namorava Mellanie. Não sei o quanto tempo duraria, mas incomodava, e a sensação de erro era constante. Andrew repetia o mesmo discurso de que Mellanie não passava de uma garota fútil que não combinava comigo.
E meu desespero aumentava a cada toque do relógio, sabendo que quem realmente iria acabar com essa angústia estaria do outro lado da linha.
Só que voltar atrás envolvia riscos, do tipo, dela não querer aproximação. Como tomar um soco no estômago todos os dias.
Peguei o celular da minha mãe me fechando no quarto esperando ser atendido. Se visse meu número talvez ignorasse, tive de jogar baixo desta vez. Sempre fui racional demais, só que a porra do meu coração pulsava dentro de mim me fazendo lembrar cada instante do que eu estava perdendo.

– Alô?! Quem está falando?!

Segurei a respiração me confortando em ouvir sua voz do outro lado nem imaginando que seria eu.

– Olá Hannah, sou eu, Nathan. Não desligue por favor!

Quase implorei e a linha ficou muda ouvindo sua respiração do outro lado. Fechei os olhos com força.

– O-o que aconteceu? Porque está me ligando deste número?

As perguntas seguidas me fixam sorrir torto porque o tom de sua voz era de preocupação e queria saber se estava bem.

– Eu estou bem, é o número da minha mãe. Liguei dele porque talvez não atenderia ao meu número...

– Entendi, o que você quer?

– E-eu... Bom, sei que as coisas estão diferentes agora, mas eu precisava ligar e perguntar se você quer ir ao próximo jogo, e sei lá...

– Nathan – ela me cortou – eu não significo mais nada pra você agora. E quer saber a verdade? As coisas estão cada vez mais difíceis pra mim. Você me deu as costas sem nenhuma explicação! Como se tivesse batido a cabeça e esquecido que eu...

A voz dela embargou mas eu queria muito que ela concluísse a frase mas foi impossível, talvez ela estaria chorando e eu o idiota que causou isso. Respirei fundo.

– Hannah...

– Não! Valeu o seu esforço de concertar a confusão, mas primeiro eu queria saber porque você fez isso?! Porque esse tipo de atitude não vai fazer você uma pessoa melhor...

Eu queria gritar que eu tentei ser a exceção, mas o sentimento dominou cada parte do meu coração. Só que jamais deixaria alguém machuca-lá novamente, nem mesmo eu, não poderia ser um cretino com ela.
Tudo ficou preso na minha garganta e encheu meus olhos de lágrimas que sutilmente escorreu no meu rosto que logo limpei.

– Eu sinto muito...

Engoli a seco tentando limpar a garganta e ouvi o suspiro de choro de Hannah.

– Talvez um dia eu entenda seus motivos Nath, e até lá, nunca, nem sequer um dia, vou me esquecer nossa amizade. Tudo o que eu sinto por você está guardado comigo. É melhor continuar seguindo a sua vida...

Todas aquelas palavras só me faziam sentir vontade de pegar o meu carro e dirigir o mais rápido ao seu encontro e dizer que a amava. Só que o muro já tinha sido construído, firmando que nossos lugares tinham de ser longe um do outro. Passei a mão no rosto tentando me recompor.

– Por favor... E-eu não consigo...

– Pensei que você fosse diferente – ela soltou suspiro cansado – fui boba em acreditar nisso... Todos iguais, meu pai, o cretino do meu ex... Não queria que fosse dessa forma mas eu te desejo toda a sorte do mundo porque eu sei que você merece ganhar... Sempre mereceu o melhor.

– Hannah?!

A linha ficou muda e não adiantaria chamar seu nome. Fechei a minha mão em punhos e joguei o celular com força na cama.
Sentei na ponta da cama apoiando meus cotovelos nos joelhos afundando as mãos no rosto. Era um misto de raiva e desolação.
Havia um bom tempo que não chorava mas precisava colocar pra fora aquele desespero preso dentro de mim. Soquei o travesseiro seguidas vezes. Não conseguia acreditar que a deixei ir, e cada segundo era tortuoso.

– Porra!

Sussurrei o xingamento como se fosse aliviar o que estava sentindo. A comparação feita era difícil de engolir.
Não queria ser como Erick ou seu pai, que foram homens que só trouxeram dor.
O olhar triste dela me contando da chegada da casa da sua avó, ainda viva na época. Como sua mãe discutia e chorava ao ver seu pai com outra mulher deitada na cama.
E sem entender muito aos seis anos, ela tinha lembranças do pai surtando quebrando as coisas, esbravejando que sua mãe nunca tinha sido mulher suficiente. E o que a feriu profundamente foram os gritos que ela havia sido um maldito acidente e que Erin estava errada por ter engravidado.
Traumático pra uma garotinha que parecia ter uma família feliz.
Mesmo sumindo da cidade, com divórcio logo assinado, Hannah ainda tinha magoa pelo pai.
Rezava todos os dias pra que esse homem não voltasse a cruzar o caminho dela.
Já Erick, foi mais uma lição desagradável da vida, a ensinando ser forte da pior maneira. Toda vez que nos encarávamos só queria quebrar cada osso dele.
Realmente sabia o real significado de suportar as dificuldades quando olhava pra ela.
Passar o aniversário de sete anos longe do meu pai me marcou muito. Poderia abrir os presentes e brincar com todos até cansar, mas lembro da minha mãe me abraçando enquanto sentia a falta dele, que em todos os meus aniversários me colocava nas costas e saia correndo pela casa.
Tinha modelo de perfeita, tinha tudo o o que sempre quis no devido tempo, mimos com limites.
Hannah podia se revoltar. Se tornar uma garota fria, ambiciosa e grosseira por a vida as vezes ser injusta. Usar como balas toda a vergonha e humilhação que já passou, e sair atirando nas pessoas. Mas nada disso importava. Porque ela amava a pequena condição que vivia, e repetia vezes, que milhares de pessoas espalhas pelo mundo desejariam ter a nossas vidas. A sua casa antiga num bairro não privilegiado. Pegar o ônibus barulhento pra chegar na escola. E as aventuras dela com Liza por passar horas escolhendo peças de roupas na Ross Dress for Less.
Esses fatores que faziam ser quem era. E seu sorriso doce, valia muito mais que a minha casa hipotecada e as jóias de minha mãe. Esquecia que existia problemas e diferenças.
E seguir a vida agora parecia entrar num labirinto vazio. Era esse o preço a pagar. O que eu sentia teria de ficar aprisionado, mesmo que me dominasse e fizesse sentir aflito, por futuramente fazer um estrago.

Jogada ImperfeitaWhere stories live. Discover now